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Jovens de comunidade com obras do PAC reclamam da falta de espaços de lazer

A única opção dos moradores da Favela do Mandela, zona norte do Rio de Janeiro, é o Rio Jacaré, que carrega em suas águas cerca de 3,5 milhões de coliformes fecais por 100 mililitros

por Flávia Villela - Agência Brasil   publicado às 10:21 de 05/03/2015, modificado às 10:21 de 05/03/2015

Uma das comunidades beneficiadas pelos Programas de Aceleração do Crescimento (PAC) 1 e 2, a Favela do Mandela, no Complexo de Manguinhos, zona norte do Rio de Janeiro, foi palco, na última quarta-feira (4) de um protesto organizado por jovens e adolescentes, com o apoio do Movimento Rio de Paz, filiado ao Departamento de Informação Pública da Organização das Nações Unidas (ONU). Eles reclamaram da falta de espaços de lazer e da poluição do rio que margeia a comunidade.

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil (05/03/2015)

Os investimentos da primeira etapa do PAC, de mais de R$ 570 milhões, não chegaram à localidade, alegam os jovens. A única opção de lazer das milhares de crianças e adolescentes da região é o Rio Jacaré, que carrega em suas águas cerca de 3,5 milhões de coliformes fecais por 100 mililitros, entre outros elementos nocivos à saúde humana, segundo dados do Instituto Estadual do Ambiente (Inea).

Trabalhador da construção civil, o jovem Cleiton dos Santos, de 22 anos, nada no rio desde criança, à revelia da mãe. “Para mim, a melhor coisa que tem é pular no rio. Mas acho que é mais fácil ver esse rio secar do que ser limpo”, comentou Cleiton, pouco antes dar um salto mortal no Jacaré. O único campinho improvisado que havia foi ocupado pelos contêineres da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), inaugurada em janeiro de 2013.

Para usar a única quadra construída pela sub-prefeitura é preciso pagar R$ 2 aos “administradores” do espaço. “A gente acordava de manhãzinha, o sol fresquinho, dava aquela corrida para esquentar o sangue, mas agora não tem mais isso, ficamos olhando quem tem dinheiro jogar”, completou Cleiton.

O presidente do Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, lamentou que, às vésperas das Olimpíadas, pouco tenha sido investido na limpeza dos rios da cidade. “Não é possível que crianças nesta cidade vivam em situação tão sub-humana. Esta cidade está realizando uma competição esportiva bilionária, que deve deixar um legado para essas crianças”, disse ele, que desenvolve trabalhos sociais com a comunidade desde 2009.

Poluição no rio Jacaré, na Favela do Mandela em Manguinhos, na zona norte do Rio. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil (05/03/2015)

“As crianças acordam e não têm praticamente o que fazer. É um mar de crianças, e não há espaço para a prática de esportes. Eles não têm o que fazer e resta, como opção, lançar-se neste rio imundo, que inclusive deságua na Baía de Guanabara, onde ocorrerão as competições de iatismo das Olimpíadas”, alertou.

Grávida de oito meses, a dona de casa Valquíria dos Santos Abreu, 26 anos, disse que os quatro filhos saem da escola e passam o restante do dia na rua. “Eles brincam correndo para cima e para baixo, parquinho não tem não. De vez em quando, eles colocam umas cordas nas árvores e ficam balançando”, contou.

Pelas ruelas da comunidade o que mais se vê são crianças brincando em meio ao lixo. Ao longo do rio, vê-se pilhas de escombros de casas demolidas. A presidente da Associação dos Moradores do Mandela 1, Jaqueline de Paula, de 42 anos, relata que a Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) faz coleta diária na comunidade, mas as montanhas de lixo e entulho duram meses, atraindo insetos e ratos. “Os moradores reclamam que os ratos vivem invadindo as casas. Queria muito que o prefeito [Eduardo Paes] viesse aqui. Acho que ele nem imagina a situação em que estamos”. Jaqueline estima que atualmente cerca de 12 mil pessoas vivam ali. Até o fechamento desta reportagem, a Comlurb não havia se pronunciado a respeito dos entulhos deixados na comunidade.

Segundo estimativa do governo do estado, cerca de 35 mil pessoas vivem no Complexo de Manguinhos, em uma área de mais de 870 mil metros quadrados (m²), ocupada principalmente por barracos e casas precárias. A primeira fase do PAC, segundo o governo do Rio de Janeiro, foi responsável por uma praça de mais de 35 mil m², um parque aquático com piscinas, ginásio com quadra poliesportiva e vestiários, uma biblioteca-parque, um Centro de Referência da Juventude, escolas e unidades de saúde.

A Empresa de Obras Públicas (Emop), que responde pelas obras do PAC no estado, explicou que as obras da região fazem parte do PAC 2 Jacarezinho, que está em fase de projeto e orçamento em análise pela Caxa Econômica Federal. A assessoria da Emop disse que aguarda liberação de verbas do governo federal para iniciar a tramitação dos processos licitatórios. As obras contemplam infraestrutura na região, abertura de vias, iluminação pública, abastecimento de água, esgotamento sanitário, construção de equipamentos públicos, reforma de praças e áreas de lazer, entre outras ações, além da construção de mais 2.240 novas unidades habitacionais.

No site do PAC 2, referente a Manguinhos, constam gastos de mais de R$ 38 milhões em obras de urbanização e R$ 593 milhões em saneamento integrado e urbanização, ainda em execução, e de R$ 96 milhões em saneamento integrado e urbanização, já concluídos.

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