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Nélida Piñon é homenageada com comenda da Academia Carioca de Letras

A escritora foi a primeira mulher a ocupar a presidência da Academia Brasileira de Letras. Ela recebeu a honraria das mãos da atriz Fernanda Montenegro

por Cristina Indio do Brasil - Agência Brasil   publicado às 09:54 de 07/03/2017, modificado às 09:55 de 07/03/2017

A escritora Nélida Piñon, apesar de ter lutado muito na vida, se considera uma mulher de sorte e o sentimento tem uma base: a família formada por imigrantes espanhóis que vieram da região da Galícia para o Brasil em busca de um futuro melhor e com a crença de que, no sentido da construção, era possível “fazer as Américas”. Esse foi um dos detalhes da sua trajetória que Nélida contou durante uma homenagem, ontem (6), na Academia Carioca de Letras, também chamada de A Casa de Anchieta, no centro do Rio. “Eu percebi que ali estava uma reserva excepcional do fabulário humano. Não havia nada do humano que não estivesse ali. Portanto, eu conquistava um acervo de conhecimento”, disse.

Rio de Janeiro, 06/03/2017 - A atriz Fernanda Montenegro entrega a comenda da Ordem Padre José de Anchieta para a escritora Nélida Piñon. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Segundo a escritora, foram as histórias de parentes, como a avó espanhola, que a despertaram para a literatura, desenvolvida com a cultura de diversas partes do mundo, tantas vezes evidente em seus textos. “A cultura deve fazer o seu esforço de ser universal”, disse, acrescentando que tem “um amor profundo pela língua portuguesa”.

Nélida Piñon, que foi a primeira mulher a ocupar a presidência da Academia Brasileira de Letras (ABL), recebeu das mãos da atriz Fernanda Montenegro a Comenda da Ordem Padre José de Anchieta. “Temos praticamente a mesma idade. Somos resultado de anos vividos passando pelos mesmos processos, sobrevivendo, acreditando, trabalhando, criando, então, Nélida, é como se me dessem a oportunidade de homenagear uma irmã”, disse Fernanda ao entregar a comenda.

O protocolo da instituição indica que a entrega da comenda deve ser feita por quem ocupa a presidência da Academia, mas nessa ocasião houve uma quebra para que Fernanda, considerada pela casa como a melhor atriz brasileira, pudesse participar da homenagem à escritora. Além de querer reverenciar Nélida Piñon, a instituição abriu as comemorações pelo Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, e definiu 2017 como o ano em homenagem às escritoras brasileiras. “Nós abrimos as comemorações do Dia Internacional da Mulher, hoje, com o encontro dessas duas mulheres extraordinárias. Pessoalmente, acho que não poderiam ambas terem sido melhores escolhidas”, disse o presidente da Academia, Ricardo Cravo Albim.

Antes de começar a cerimônia, a atriz disse que pediu a Deus que lhe desse palavras justas, porque Nélida domina a língua portuguesa e ela não conhece alguém igual. “Não vejo páreo no nosso contemporâneo que domine a nossa língua na sua verticalidade e na sua carnificação como a Nélida. Não só é especial estar aqui com a Nélida como também apavorante. É verdade, não estou fazendo histrionismo, porque o que falar para a minha grande amiga?”, disse.

Dia Internacional da Mulher

Sobre a celebração do dia 8 de março, Fernanda disse que considera importante a comemoração, mas preferia que não houvesse necessidade de que ter um dia único para a mulher. “Eu pensei na minha vida, um dia, não ter um dia especial para a mulher, não ter nada especial para índio, não ter nada especial para homossexual. Nada especial para aquilo que se possa achar o outro”, disse.

Fernanda acrescentou que fica infeliz com todas as comemorações em torno das mulheres, não porque não mereçam, mas porque isso traz à tona algo que precisa ser sacudido para saber que elas existem. “Mas tudo bem. Acho que vou daqui para um lugar aí, em uma hora aí e infelizmente vão continuar os dias para a mulher, tapete para a mulher, mas não tem dia do homem. Vejo esse dia da mulher, não um estado de festa. Acho que ele exite, devemos fazer este dia, mas com a consciência de que não quero uma perfumaria”, disse, acrescentando que esse momento só ocorrerá quando “o mundo estiver, completamente, equalizado”.

Para a escritora, o fato de a Academia, além de fazer a sua homenagem, antecipar as comemorações do Dia Internacional da Mulher e abrir o ano das escritoras brasileiras foi uma conjunção formidável. “Realmente sempre fui uma feminista histórica. Fui a primeira brasileira que comemorou junto às jovens o 8 de março na ABI [Associação Brasileira de Imprensa], no tempo da ditadura”, disse.

Mesmo já tendo recebido diversas homenagens na vida, Nélida tem boas recordações de cada uma. “Cada homenagem tem uma espécie de configuração. Ela é estelar por si própria e arrasta uma intenção maravilhosa de quem outorga”.

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literatura, homenagem, DIA DA MULHER, nélida piñon