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Com a morte de Suassuna, ABL perder o terceiro acadêmico em um mês

Escritor faleceu em Recife na tarde de ontem, após ter se tornado um dos maiores incentivadores da cultura popular brasileira

por Marcelo Brandão - Agência Brasil*   publicado às 09:00 de 24/07/2014, modificado às 09:08 de 24/07/2014

Foto: Valter Campanato/ABr

Morreu, na tarde de ontem (23), de parada cardíaca, o escritor, poeta e dramaturgo Ariano Suassuna. Ele estava internado, desde segunda-feira (21) no Real Hospital Português, após ter sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico.

Nascido em João Pessoa, quando a capital paraibana ainda se chamava Nossa Senhora das Neves, em 1927, Ariano Vilar Suassuna foi para o Recife ainda adolescente, onde terminou os estudos secundários.

Em 1946, na capital pernambucana, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco, junto com o amigo Hermilo Borba Filho. No ano seguinte, escreveu sua primeira peça teatral, Uma Mulher Vestida de Sol, seguida de Cantam as Harpas de Sião Os Homens de Barro. Em 1955, escreveu sua obra mais popular, Auto da Compadecida, que conta as aventuras de dois amigos, Chicó e João Grilo, no Nordeste brasileiro. A peça foi adaptada duas vezes para o cinema, em 1969 e 2000.

Suassuna continuou criando, escrevendo peças de teatro, romances e poesias. O Santo e a Porca, Farsa da Boa Preguiça e Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta são algumas das dezenas de obras dele. A maioria delas foi traduzida para outros idiomas, como francês, alemão, espanhol, inglês e holandês. Em 1989, passou a ocupar a Cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras.

Foto: Valter Campanato/ABr

Carismático, Suassuna esbanjou simpatia por onde passou. Nos últimos anos, se dedicou à apresentação de sua “aula-espetáculo” por todo o Brasil, para ensinar arte e mostrar a riqueza da cultura do país, contando histórias, “causos” e piadas. Em uma de suas últimas passagens por Brasília, Suassuna encerrou a aula-espetáculo valorizando a obra de outro brasileiro. O escritor citou o filósofo Matias Aires como exemplo da qualidade nacional, mas também como um resumo da sua própria trajetória, "e da de todos nós" neste mundo.

“Quem são os homens mais do que a aparência de teatro? A vaidade e a fortuna governam a farsa desta vida. Ninguém escolhe o seu papel, cada um recebe o que lhe dão. Aquele que sai sem fausto, nem cortejo, e que logo no rosto indica que é sujeito à dor, à aflição, à miséria, esse é o que representa o papel de homem. A morte, que está de sentinela, em uma das mãos segura o relógio do tempo. Na outra, a foice fatal. E, com esta, em um só golpe, certeiro e inevitável, dá fim à tragédia, fecha a cortina e desaparece”, disse, então, Ariano Suassuna.

Despedidas

O presidente da Academia Brasileira de Letras, Geraldo Holanda Cavalcanti, e o acadêmico Evanildo Bechara representarão a ABL no funeral de Suassuna, hoje (24), em Paulista, região metropolitana do Recife.

A ABL determinou luto oficial de três dias. Em nota divulgada logo após tomar conhecimento da notícia, Holanda Cavalcanti lembrou que Suassuna é o “terceiro grande acadêmico” que a academia perde no espaço de um mês – ele se referia a Ivan Junqueira, morto no dia 3 deste mês, e a João Ubaldo Ribeiro, no dia 18. No dia seguinte (19), o país também perdeu o escritor Rubem Alves, que apesar de não ter cadeira na ABL foi um escritor referência em temas de educação, além de autor de livros infantis.

Ariano Suassuna era o sexto ocupante da Cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 3 de agosto de 1989, na sucessão de Genolino Amado. Em 2004, a ABL apoiou a produção do documentário intitulado O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e exibido na Sala José de Alencar da instituição.

*Texto original editado pela Cidade Nova

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livros, cultura, literatura, teatro, academia brasileira de letras