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"A arte é o pulmão da realidade"

É assim que Flávia Savary apresenta seu trabalho. A autora lançará amanhã (30), na Bienal, seu mais novo livro. Confira a entrevista

por Redação   publicado às 09:46 de 29/08/2014, modificado às 09:52 de 29/08/2014

Foto: Guilherme Lima

Não há outra definição para Flávia Savary. Ela é uma artista. Escritora, ilustradora e dramaturga, Flávia vai das artes plásticas à literatura com maestria e bom humor. Já recebeu cerca de 80 prêmios literários no Brasil e no exterior, com poemas, peças teatrais, crônicas e narrativas de ficção (para público infantil, juvenil e adulto) publicadas em mais de 40 antologias. No seu blog, ela afirma que “uma de minhas maiores alegrias é reunir os amigos em torno de eventos ligados à arte. Afinal, a arte é o pulmão da realidade”.

Foto: Reprodução

Neste sábado (30) e domingo (31), Flávia estará presente no espaço da Editora Cidade Nova na Bienal do Livro de São Paulo para lançar mais um livro infantil: A roupa Nova do Arco-da-Velha, que também conta com ilustrações do seu pai, o Jaguar.

O livro reúne seis fábulas que literalmente são do “arco-da-velha”, mas ganham uma nova roupagem nas mãos de Flávia. O mestre de cerimônias do livro, que costura todas as fábulas, é o ratinho Sig, ícone do saudoso jornal O Pasquim, criado na época da ditadura pelo cartunista Jaguar, que agora é reapresentado às novas gerações como figura fundamental na história iconográfica brasileira, em homenagem prestada pela filha e autora, bem como pela Editora. Confira abaixo a entrevista que Flávia concedeu à Cidade Nova.

Cidade Nova - Como foi a experiência de escrever A Roupa Nova do Arco da Velha?

Flávia Savary - Resgatar um pouco da riqueza de nossa tradição oral, ou mesmo daquelas histórias maravilhosas que nossas avós contavam, de uma certa maneira é prestar homenagem a todos contadores e autores que nos precederam. É uma pena que muitas dessas histórias se percam, por falta de registro. O que nos cabe, modestamente, é recolhê-las, como quem recolhe pássaros delicados, cuidar bem deles e soltá-los aos 4 ventos, a fim de que mais pessoas se maravilhem com sua beleza e sabedoria.

No seu blog você afirmou que o livro A Roupa Nova do Arco da Velha é também uma homenagem ao seu pai, Jaguar, que também ilustra a obra lançada hoje. Você poderia explicar melhor por que o definiu assim? 

O próprio texto explicativo, presente no livro, indica o caminho da homenagem. Aliás, homenagem é comigo mesma — reconhecer o valor de quem merece também é resgatar valores fundamentais que não se podem perder. Eis o texto: “Ao misturar ilustrações inéditas, feitas especialmente para o livro, com outras mais antigas, apresentamos um modesto painel da obra de Jaguar — homenagem de filha, mas também da editora Cidade Nova. Será precioso, para as novas gerações, tomar contato com o trabalho de um profissional dedicado (apesar de festeiro), figura fundamental na história iconográfica brasileira”.

A Roupa Nova do Arco-da-Velha é seu quarto lançamento este ano. Onde você busca inspiração para tantas ideias? 

Na verdade, A Roupa Nova do Arco-da-Velha é meu 6º lançamento de livro em 2014. Costumo dizer que todo espaço interno de que disponho, mesmo dentro da barriga, é reservado à imaginação (por favor, não pensem que dispenso guloseimas, ao dizer isso!). A inspiração vem da vida, das histórias, do Espírito, inesgotável fonte de criatividade. Quando me faltam ideias (o que raramente acontece), é só rezar que elas chovem feito maná! A imaginação pode ser comparada a um músculo: quanto mais se exige dele, mais ele responde.

Você escreve para diversos públicos. Mas há um deles que é a sua “menina dos olhos”? Por que?

Sem sombra de dúvida, minha praia é a LIJ (literatura infantojuvenil). Sei que tem muita gente, gente tida como importante e tal e coisa, trata a LIJ como coisa menor — o que é um absurdo, ofensa grave e sinal de burrice aguda. Pois, além dos gibis, onde qualquer um, até um gênio, começou seus primeiros passos na aventura literária, senão nos livros infantis? Em defesa de minha tese, recorro a um livro maravilhoso, chamado O dom da amizade, de Colin Duriez. Nele, acompanhamos o nascimento da forte amizade que uniu dois dos maiores escritores do nosso século (por nosso, leia-se meu e o da galera do século passado, bem entendido), Tolkien e C. S. Lewis, respectivamente os autores de O senhor dos anéis e As crônicas de Nárnia, para citar apenas dois títulos da vasta obra de ambos. Por que recomendo o livro? Porque, em suas páginas, encontram-se pérolas do tipo, “ele (Lewis) explicou que escrevia ‘uma história infantil porque uma história infantil é a melhor forma de arte para algo que se queira dizer’”. Precisa dizer mais?

A presença do público juvenil aumentou nesta Bienal. Mas o que ainda falta para que a literatura ganhe mais espaço entre esse público?

Cuidado, gente boa: nem sempre quantidade é sinônimo de qualidade — do contrário, Jesus precisava de uns 122 apóstolos, não apenas 12. E olha a revolução que ele plantou no mundo... Tem muita iniciativa boa, pública e privada, que tem formado multiplicadores do hábito da leitura. Mas a mídia ainda satura muita a cabeça da galera com coisas nem tão louváveis assim. E outra: nem sempre o que cai na rede (por rede, leia-se os vários sentidos da palavra) é peixe. Às vezes, é pato...

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