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Homossexuais têm dons para oferecer à comunidade, diz documento do Vaticano

Embora reafirme diferenças morais entre relações homo e heterossexuais, primeiro relatório do Sínodo adota tom acolhedor. Texto também propõe maior abertura a pessoas em segunda união ou com vínculos civis ou informais

por Redação*   publicado às 09:12 de 14/10/2014, modificado às 07:42 de 17/10/2014

Depois de uma semana de discussões, o Sínodo dos Bispos, convocado pelo papa Francisco e dedicado à família, apresentou ontem (13) relatório que destaca a necessidade de a Igreja ouvir as famílias com as múltiplas facetas que a realidade contemporânea comporta. O trabalho, que ainda está em andamento, aborda a postura da Igreja ante os divorciados, os que se casaram novamente e os homossexuais, entre outras questões. Segundo o secretário especial do sínodo, dom Bruno Forte, o texto propõe “escolhas pastorais corajosas”.

Homossexuais têm dons para oferecer à comunidade, diz documento do Vaticano. Embora reafirme diferenças morais entre relações homo e heterossexuais, primeiro relatório do Sínodo adota tom acolhedor. Texto também propõe maior abertura a pessoas em segunda união ou com vínculos civis ou informais. Foto: Mazur (06/10/2014)

Homossexuais

Sobre as uniões homossexuais o documento ressalta que os homossexuais “têm dons e qualidades para oferecer à comunidade cristã” e que a Igreja deve ser para eles “uma casa acolhedora”, apesar de não apoiar a união de pessoas do mesmo sexo.

O relatório admite que “existem casos em que o mútuo apoio constitui um sustento precioso para a vida dos parceiros” e refere-se à necessidade de atenção especial às crianças que vivem com casais homossexuais, lembrando que, em primeiro lugar, devem vir sempre as exigências e direitos das crianças.

Dom Forte enfatiza que “a Igreja não concorda que o termo 'família' possa ser aplicado tanto à união entre homossexuais quanto ao casamento de um homem e uma mulher”. No entanto, diz ser evidente que as pessoas humanas envolvidas nesses vários tipos de experiência têm direitos que devem ser tutelados. “É preciso buscar uma codificação de direitos que possam ser assegurados a pessoas que vivem em uniões homossexuais. É uma questão de civilidade e de respeito à dignidade das pessoas", disse ele.

Além disso, o Sínodo considera inaceitável que “organismos internacionais condicionem ajudas financeiras à aceitação de normas inspiradas na ideologia do ‘gender’”. Mas convida os católicos a se questionarem se são capazes de acolher essas pessoas, garantindo-lhes espaços de fraternidade em suas comunidades.

Matrimônios civis, convivências e divórcios

Os padres sinodais convidam a “acolher a realidade positiva dos matrimônios civis e, diferenças à parte, das convivências”, para acompanhar os casais na redescoberta do sacramento nupcial. “Mas o anúncio – ressalva o texto – não pode ser meramente teórico e avulso dos problemas reais das pessoas”. Em alguns casos, por exemplo, convive-se porque “se casar é um luxo”. Nesse sentido, os padres sinodais pedem uma denúncia por parte da Igreja contra “o excessivo espaço dado à lógica de mercado”, que impede “uma autêntica vida familiar, determinando discriminações, pobreza, exclusões e violência”.

O Relatório aponta ainda a necessidade de “tornar mais acessíveis e ágeis os procedimentos de reconhecimento da nulidade matrimonial”, de incrementar a responsabilidade dos bispos locais e instituir a figura de um sacerdote que, adequadamente preparado, possa oferecer ‘conselhos’”.

O documento formaliza também a hipótese de acesso à comunhão aos recasados, “desde que precedido por um caminho penitencial sob a responsabilidade do bispo diocesano, e com um claro compromisso em favor dos filhos”. “Esta possibilidade não pode ser generalizada, mas fruto de um discernimento atuado caso por caso”. “Se é possível a comunhão espiritual, por que não poder acessar à sacramental?” – questiona o Relatório.

Contracepção

Sobre a contracepção, o texto afirma que “é preciso uma linguagem mais realista, que, a partir da escuta das pessoas, saiba argumentar em favor da beleza e da verdade de uma abertura incondicional à vida”. Por isso, recomenda o emprego de “métodos naturais” e convida a “redescobrir a mensagem da encíclica Humanae Vitae de Paulo VI, que sublinha a necessidade de respeitar a dignidade da pessoa na avaliação moral dos métodos de regular a natalidade”.

Verdade e misericórdia

De acordo com Cardeal relator-geral do Sínodo, Peter Erdö, “a fórmula pastoral ‘misericórdia aliada à doutrina’ não significa decisões nem perspectivas fáceis. Ele destacou que o objetivo continua a ser “encontrar caminhos de verdade e misericórdia para todos”, segundo uma abordagem que permita apreciar mais “os valores positivos do que os limites e carências”.  

O Relatório afirma que “é preciso acolher as pessoas com suas existências concretas, saber ajudar na busca, encorajar os desejos de Deus e a vontade de se sentir plenamente parte da Igreja inclusive de quem sofreu um fracasso ou se encontra em situações disparatadas”.

Enfim, o Cardeal Erdö ressalta que o diálogo sinodal se realizou até agora “em grande liberdade e com um estilo de escuta recíproco” e lembra que as reflexões propostas até agora não são decisões já tomadas: “o caminho prosseguirá com o Sínodo de 2015”.

*Com informações da Rádio Vaticano e da Agência Brasil.

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Vaticano, família, convivência, comunhão, sínodo, segunda união, homossexuais, divórcio, união civil, sacramentos