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Educadores conectados levam cultura digital ao campo

Por meio do Projeto Escolas Rurais Conectadas, professores de zonas remotas têm acesso à internet e recebem capacitação para aproximar comunidades da tecnologia

por Fernanda Kalena - Porvir   publicado às 08:53 de 03/02/2015, modificado às 08:56 de 03/02/2015

A primeira vez que Marlene Leal Franco usou um computador foi em 2013, quando a escola em que trabalha ganhou três notebooks e conexão à internet. Ela é diretora da Escola Municipal Franco, que fica na zona rural do município de Espírito Santo do Dourado, em Minas Gerais, uma das instituições beneficiadas pelo projeto Escolas Rurais Conectadas, da Fundação Telefônica, que leva conectividade para escolas de zonas remotas, fornecendo internet e infraestrutura.

Infográfico Educação no Campo. Arte: Regiany Silva/Porvir

Para que professoras como Marlene saibam tirar proveito dos novos equipamentos, junto com eles chegaram às escolas oficinas online de formação de professores. A preparação dos educadores do campo para a cultura digital é o tema desta reportagem que faz parte série Tecnologia no Campo, produzida e publicada pelo Porvir em parceria com a Fundação Telefônica.

Marlene conta que, desde que sua escola recebeu os notebooks, ela já soma mais de 240 horas de oficinas realizadas. O feito é grande, levando em conta que cada curso demanda em média 10 horas de participação. “Essas oficinas mudaram o nosso olhar. Hoje em dia, a escola rural não pode ficar atrás, tem que acompanhar o que acontece no mundo, e os cursos ajudam por abordarem temas atuais e proporem atividades alinhadas com a realidade rural”, conta a diretora.

Em sua escola, ela desempenha o papel de educadora multiplicadora. Marlene é a única da equipe docente a realizar as oficinas online. “Nenhum de nós tem internet em casa e as professoras não conseguem ficar mais na escola para estudar, pois o ônibus passa na hora marcada para levá-las de volta para a cidade”, diz. Mas isso não a impede de transmitir o que aprende a suas colegas: “Eu salvo todo o material num pendrive, faço apostilas com as atividades e apresento para as professoras usando Datashow”.

“Temos que respeitar cada aluno, o grau de dificuldade do exercício tem que ser individual, e a tecnologia pode ajudar muito nesse sentido”

Juliano Bittencourt, parceiro executor do projeto Escolas Rurais Conectadas, explica que a curta duração e o caráter prático das oficinas foram planejados estrategicamente com o intuito de otimizar o trabalho do educador de escola rural, respeitando as peculiaridades de seu contexto social e cultural. “O objetivo é manter o professor engajado a partir de necessidades muito concretas de sala de aula, aplicáveis e transferíveis de maneira simples e com impacto direto no aprendizado dos alunos”, ressalta.

A Escola Municipal Franco tem cerca de 50 alunos, divididos em quatro turmas multisseriadas. Segundo a diretora, um dos maiores desafios das professoras é determinar o nível de alfabetização dos alunos para planejar aulas e propor atividades adequadas. Ela conta que as oficinas explicam novas abordagens pedagógicas e estratégias que ajudam a identificar o estágio de letramento de cada estudante. “Com essas dicas as professoras passam a ter um ponto de partida mais embasado para entender as dificuldades de cada aluno e assim trabalhar em cima disso”.
 
Temas conectados
 
“Salas multisseriadas são uma salada. O maior desafio é conseguir despertar o interesse de todos ao mesmo tempo, com uma mesma atividade. Os alunos estão em níveis diferentes, aprendem em ritmos distintos, uns tem mais facilidade, outros engasgam”, relata a diretora que conclui: “temos que respeitar cada aluno, o grau de dificuldade do exercício tem que ser individual, e a tecnologia pode ajudar muito nesse sentido”.

Abordando temáticas relevantes para a vida em áreas rurais, uma das oficinas ofertadas é sobre a produção de pomares domésticos. “A horta familiar é um tema bem do campo, bem próximo ao cotidiano dos estudantes”, aponta Marlene, que conta que através desse tópico foram realizadas diversas atividades envolvendo conteúdos pedagógicos de diferentes disciplinas.

Primeiro, os estudantes fizeram uma pesquisa na internet sobre o tipo de clima e o tipo de solo da região, o que era mais propício para ser plantado no local e que tipos de cuidado (como irrigação e adubagem) eram necessários. “Nesse momento trabalhamos história e geografia”, afirma a diretora. Depois de identificadas as frutas possíveis de serem cultivadas, foram abordados conteúdos de ciência, quando os alunos aprenderam as propriedades e vitaminas de cada fruta.

Eles trabalharam no pomar da própria escola e foram incentivados a fazer um em suas casas. Quando as frutas estavam próprias para o consumo, cada estudante foi desafiado a elaborar uma receita com o ingrediente. Assim, foram trabalhados conceitos matemáticos, de medidas e proporção. Esse projeto também contou com uma participação especial de um agrônomo da comunidade, convidado pela diretora a dar uma palestra para os estudantes.

Usando a tecnologia

Bittencourt ressalta que uma das principais funções desse programa é promover o contato dos professores, e consequentemente dos alunos, com os recursos tecnológicos. “Queremos fazer eles enxergarem como a tecnologia tem um papel forte e transformador dentro das práticas de sala de aula. Se conseguirmos isso, vamos conseguir promover neles o desejo pela inovação”, argumenta.

Marlene se mostra convencida. “É muito mais fácil ensinar com esses recursos, até para a gente é mais interessante. Não ficamos restritos apenas ao livro didático e ao quadro negro. A tecnologia deixa as aulas mais divertidas, une a turma e deixa os alunos mais engajados”, afirma ela, que ainda ressalta a necessidade que os alunos do campo têm de se familiarizar com a tecnologia para se preparar para o trabalho no campo: “Mesmo alunos que quando crescerem forem trabalhar na roça vão ter que lidar com sistemas informatizados. Todos os tratores hoje possuem painéis digitais”, brinca a diretora.

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