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Jovens na Fundação CASA expressam sentimentos em cartilha de poesias e músicas

Educador do Senac desenvolve projeto colaborativo entre adolescentes da Fundação CASA e a turma de um curso técnico de comunicação visual

por Enio Melo*   publicado às 09:46 de 25/05/2017, modificado às 09:46 de 25/05/2017
Sou educador há 10 anos e hoje trabalho em um projeto do Senac, que tem parceria com a Fundação CASA. Como trabalho final do curso de recepção e atendimento telefônico, tive a ideia de produzir uma cartilha de prosas, poesias, músicas e ilustrações que expressam as visões de mundo de jovens privados de liberdade.

Foto: Picjumbo

Quando cheguei perto das últimas aulas do curso, lancei o desafio de tornar o conhecimento tangível de alguma forma. Entre as sugestões, surgiu a proposta de produzir uma cartilha com todo o conhecimento e aprendizado adquirido durante o ciclo. Até esse momento, já tínhamos várias produções de texto, dinâmicas e exercícios feitos pelos jovens. Juntamos todo o material pronto e começamos a produzir novos conteúdos. Também acho importante destacar que toda a produção textual foi única e exclusiva dos jovens.

Dentro da cartilha, os leitores podem ver depoimentos dos jovens sobre os seus sentimentos. Como eles estão privados de liberdade, eles usam muito o jargão mundão para se referir a tudo que está do lado de fora da Fundação CASA. Alguns trechos ainda são muito poderosos e trazem músicas que representam suas histórias.

No início do trabalho, eu confesso que ainda não tinha a dimensão exata de como seria a produção final das cartilhas. Eu tinha a ideia apenas de fazer uma formatação básica no Word, mas no decorrer da atividade tive um insight. Procurei a coordenação da instituição e sugeri uma parceria com a turma do técnico em Comunicação Visual, da unidade Itaquera.

Os jovens da Fundação CASA fizeram toda a produção textual das cartilhas, enquanto a turma do curso técnico trabalhou com parte visual do material. Infelizmente, os alunos não puderam interagir, mas eu tentei ser uma ponte entre eles.

Como os alunos da turma de comunicação visual nunca tinham entrado na Fundação CASA, o meu papel era justamente derrubar alguns estereótipos que eles poderiam ter. Eu falei sobre a história de cada jovem, e eles foram anotando alguns pontos para ajudar na hora de montar a identidade visual.

Após a produção, cada jovem ficou o com o seu exemplar. Nós tivemos o cuidado deles criarem pseudônimos para que a publicação também pudesse ultrapassar as grades da Fundação CASA. A ideia era que as pessoas pudessem ter uma visão diferente desses jovens, derrubando também os seus estereótipos.

Começamos o projeto com quinze jovens e terminados com doze, porque alguns foram transferidos nesse período. Junto com a pedagogia da Fundação CASA, elaboramos uma pasta, em que cada jovem recebeu a sua apostila do curso, os exercícios realizados, um currículo e exemplar da cartilha. Quando eles saírem de lá, vão poder levar a pasta junto.

Com essa atividade, os jovens da Fundação CASA ficaram muito envolvidos. Tem um ponto que também acho importante destacar: eles ficaram muito orgulhosos por terem um trabalho de autoria. Eu diria que houve um empoderamento no processo educacional, e isso não tem preço.

A educação de hoje não pode mais ser cartesiana. Ela precisa ser diferente, lúdica e envolvente. O educador precisa procurar práticas para envolver o seu aluno. Eu fico muito orgulhoso desse projeto porque tivemos uma ideia, e os alunos compraram essa ideia.

*Enio Melo possui 11 anos de experiência na área acadêmica. É graduado em administração de empresas e pós-graduado em marketing pelo Centro Universitário Metropolitano de São Paulo – Unimesp. É professor universitário e docente do Senac São Paulo na área de gestão e negócios, onde teve a oportunidade de atuar no projeto realizado em parceria com a instituição e a Fundação CASA.

Tags:

educação, inclusão, empoderamento, menores infratores, fundação casa, privados de liberdade