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Campanha mobiliza sociedade pela defesa do Cerrado

Encabeçada por mais de 50 organizações e instituições brasileiras, a campanha tenta atrair atenção popular para a devastação sofrida pelo bioma e para a perda de direitos dos povos tradicionais

por Ana Carolina Wolfe - Instituto Agir Ambiental   publicado às 09:34 de 12/09/2017, modificado às 09:34 de 12/09/2017

Na última segunda-feira (11) foi comemorado o Dia Nacional do Cerrado, segundo maior bioma do Brasil e o mais antigo do país. Instituída em 2003, a data serve de alerta já que o bioma acumulou 1,9 milhão de hectares desmatados entre agosto de 2013 e julho de 2015, o equivalente a 1,7% da vegetação nativa remanescente. Apenas em 2015, uma área de 9.483 km² do Cerrado brasileiro foi devastada. Em um momento em que os olhos do mundo estão voltados para a Amazônia, se torna ainda mais urgente desenvolver um olhar mais amplo e discutir sobre a situação do Cerrado.

Cerrado: floresta invertida e a água. Infográfico: Divulgação

Sem contar com o mesmo prestígio e monitoramento sistemático que acontece na Amazônia, o Cerrado já conta com metade de sua área desmatada. O problema é que, uma vez devastado, não é possível qualquer revitalização no bioma, que tem mais de 65 milhões de anos.

Para tentar auxiliar na conscientização sobre a necessidade de preservação do Cerrado, foi criada, em 2015, a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, que tem como tema “Cerrado, berço das águas: sem Cerrado, sem água, sem vida”. Encabeçada por mais de 50 organizações e instituições brasileiras, a campanha foi lançada oficialmente em 2016. “Nos unimos para desenvolver ações em conjunto em favor do Cerrado e a ideia foi crescendo”, conta Leila Cristina Lemes, da coordenação executiva da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Goiás.

Em setembro do ano passado, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em Brasília, ocorreu coletiva de imprensa e debate para lançamento da Campanha, que deve durar até 2018, quando será realizado um Tribunal Popular Internacional que julgará os crimes contra o Cerrado e toda forma de vida existente nesse espaço.

Lemes também destaca o intercâmbio das comunidades como um dos pontos altos do projeto. “Quando falamos sobre o bioma, ficamos muito no campo ambiental, mas a Campanha traz também a importância de se trabalhar com os povos do cerrado, suas culturas e seus modos de vida, conhecendo como essas comunidades vivem e como estão sendo impactadas hoje por esse modelo de capitalismo que temos”, destaca. Ela explica ainda que uma das principais ações é pautar e tentar conscientizar a sociedade, nacional e internacionalmente, sobre a importância socioambiental da região não só para o Brasil, mas para toda a América do Sul.

É que o bioma desempenha papel crucial na questão dos recursos hídricos e por isso é chamado de “caixa d’água”. Apesar de não “produzir” água, o Cerrado acumula as águas das chuvas em seu solo, principalmente aquelas dos rios aéreos amazônicos – massas de vapor d´água levadas por correntes de ar – e forma grandes aquíferos, como o Guarani. Das 12 bacias hidrográficas brasileiras, seis têm suas nascentes em áreas do Cerrado. Porém, a cada ano, cerca de 10 pequenos rios desaparecem ali. Segundo Santos, “as comunidades do Tocantins já relataram que vários pequenos rios secaram e desapareceram”.

É a análise desta situação que faz Gerardo Cerdas, assessor de Políticas da ActionAid no Brasil, afirmar que “a defesa do Cerrado é hoje a agenda socioambiental mais urgente e desafiante do país”, mesmo com todos os problemas nas outras regiões. “Não estou deixando de ver o que está acontecendo no Brasil como um todo, mas, neste contexto, o Cerrado é quiçá o mais dramático de todos os desafios que temos. Um deles porque, fundamentalmente, o regime hídrico do Brasil e de boa parte da América do Sul dependem da preservação dos 48% que restam do Cerrado e que ainda não foi devastado pelo agronegócio, a pecuária e os produtores de carvão”, diz.

Patrimônio Nacional

Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 504/10 é uma das principais frentes da Campanha para este ano. A proposta inclui o Cerrado e a Caatinga na relação dos biomas considerados Patrimônio Nacional. Atualmente, só os biomas da Amazônia, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal e a Zona Costeira têm esse status. Na Câmara dos Deputados desde 2010, a PEC já entrou várias vezes na pauta de votações, mas segue sem apreciação. Somente em 2017, ela foi colocada em pauta 18 vezes.

Para chamar a atenção da sociedade sobre a importância do Cerrado para o equilíbrio ambiental do Brasil e da necessidade de se aprovar a PEC 504, a Campanha em Defesa do Cerrado realizou, ontem (11), um tuitaço, às 15h, com a #EuDefendoCerrado.

Além disso, a Campanha está com um abaixo-assinado pela aprovação da PEC 504/2010, que já conta com mais de 30 mil assinaturas.

Se você quer participar da iniciativa da Campanha em Defesa do Cerrado, compartilhe nas suas redes sociais as imagens disponíveis no Facebook do Agir Ambiental. Você também pode lembrar o deputado da sua região da importância da aprovação da PEC 504.

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Campanha, meio ambiente, preservação, cerrado, pc 504/10, agir ambiental