Veta população!

Lixão da Estrutural, em Brasília. Foto: Wilson Dias/Arquivo Agência Brasil (2012)

Há quatro anos foi sancionada a Lei 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Sua tramitação demorou 20 anos e custou uma grande mobilização social para que entrasse na pauta de votação. A lei ficou conhecida por prever o fim dos lixões até agosto deste ano, que seriam substituídos por aterros sanitários. E este foi o ponto mais polêmico até agora.

Muitos municípios não conseguiram se adequar - entre eles Brasília, que possui o maior lixão da América Latina – e, desde o fim do prazo, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) tem reivindicado uma flexibilização. A justificativa é a falta de recursos e apoio da União e dos Estados, já que o custo para transformar todos os lixões em aterros sanitários é estimado em R$ 70 bilhões.

Até agora, o pedido surtiu efeito. No dia 14 de outubro a Câmara aprovou a prorrogação de mais quatro anos para cumprimento da lei, que foi incluída na MP 651, sobre incentivos tributários, depois de incluir e retirar o artigo 117 na medida duas vezes. A medida também foi aprovada pelo Senado, e agora espera sanção da presidente, que, segundo sua base aliada, deverá vetar o artigo.

A campanha do “Veta, Dilma” já é bem conhecida de quem trabalha na área ambiental. E faz lembrar um outro veto tão aclamado e pouco ouvido: o veto do código florestal. Desta vez, ele é encabeçado pelo Movimento Nacional de Catadores de Material Reciclável, que pede o fim da situação que estão vivendo nos lixões. Vale lembrar que o fechamento dos lixões deve, segundo a lei, é seguido por investimento e realocação dos catadores.

Não há dúvidas de que a norma exige um investimento financeiro que muitos municípios não possuem. Mas vale destacar que o fechamento dos lixões faz parte do Plano para gestão de resíduos, que deveria ser elaborado por todas as prefeituras e estados e que é um dos requisitos para que estados e municípios recebam dinheiro do governo federal para investir no setor. Dos 26 estados brasileiros, apenas 3 apresentaram planos regionais e, em nível municipal, 30% das cidades brasileiras elaboraram estes planos, das quais apenas 8 estão implementando as ações previstas. O problema da extensão do prazo torna-se, então, apenas a ponta do iceberg.

Se cada pessoa gera, em média, um quilo de resíduo por dia como é possível o assunto se tornar tão marginal na gestão municipal? E como fazer uma gestão sem planejar os passos a serem dados; sem, portanto, um plano de gestão?

Não sou especialista em gestão pública, e o raciocínio pode estar equivocado, mas é difícil deixar de relacionar a falta de cumprimento a normas como o fechamento dos lixões com a qualidade da gestão municipal. Não é possível esperar mais este veto presidencial. É preciso arregaçar as mangas e se mobilizar para que o meio ambiente seja respeitado e não se perca em meio a interesses e necessidades de setores específicos. 

Tags:

resíduos sólidos, política nacional de resíduos , lixões, reciclagem, mp 651



Sobre

Estamos em processo de adaptação ao planeta Terra e ainda precisamos aprender a conviver e cuidar dele da mesma forma que cuidamos de uma criança ou um idoso. Ele é um sistema vivo, no qual todas as partes interagem, inclusive conosco. E o cuidado é essencial, mais do que a razão e a vontade. Mas para cuidar é preciso conhecer. Por isso, este blog se propõe dialogar sobre meio ambiente, destacando fatos importantes para quem quer ambientar-se ainda mais com a nossa casa.

Autores

Ana Carolina Wolfe

Formada em jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR), é repórter de Cidade Nova desde 2011. Começou a se interessar por meio ambiente em 2002. Desde então, se apaixonou pela “tradução” de temas ambientais ao público. Hoje, além de Cidade Nova, atua como assessora de imprensa em um centro de pesquisa voltado ao agronegócio e como diretora na ONG Florespi.