Vale a pena votar?

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Caro leitor, se você tem entre 16 e 17 anos, já deve saber: o voto não é obrigatório para sua faixa etária. Assim como não é para os analfabetos e para as pessoas com mais de 70 anos. O artigo 14 da Constituição assim garante. São os poucos beneficiados numa regra que é um contrassenso para o sentido de democracia. O Estado não deveria impor direitos a ninguém. É uma questão de princípio. Exercê-los deveria estar sob julgamento, apenas, do próprio cidadão.

A maioria da população brasileira também pensa assim. Em recente pesquisa do Datafolha, 61% dos entrevistados se declararam contra o voto obrigatório. Entre os mais jovens, de 16 a 28 anos, essa rejeição cai para 58%. Há diversas leituras sobre o levantamento, que vão além do mérito do voto obrigatório em si. O eleitorado, como massa disforme, teria outras motivações para não concordar com a imposição do voto, como a descrença nas instituições ou o desempenho catastrófico do atual governo.

Não quero, porém, discutir necessariamente o absurdo do voto obrigatório no Brasil. Um dia irá cair, assim como a obrigação de transmitir a Voz do Brasil nas emissoras de rádio. O exercício se concentra para a turma do voto facultativo: vale a pena exercer esse direito? Você já pensou se vai encarar as urnas em outubro próximo?

Existem inúmeras questões embutidas para a tomada de decisão. Num sentido objetivo, o ato de dar crédito a candidatos de diversas esferas (do poder executivo e legislativo) cumpriria com um ideal nobre de composição de sociedade. São escolhas que levariam a eleger líderes, no mínimo, bem preparados. Na prática sabemos que não é bem assim. O jogo do poder é muito mais perverso. Políticos, em geral, têm um discurso sedutor, mas atitudes que vão na contramão de todo aquele marketing boa-praça.

Eximir-se do voto, diante do usufruto pleno deste direito, estaria atrelando a constatação de que faltam opções confiáveis. Votar, no entanto, também cumpre com a ideia de que é importante contribuir para a sociedade e a cidade em que vivo. Qual caminho seguir?

Eu, por exemplo, só fui votar a primeira vez com 20 anos. Quando fiz 16 já havia passado a eleição (eram municipais). Aos 18 eu estava fora do país. Ainda assim, jamais deixei de discutir questões políticas e imaginar meu voto neste período “longe das urnas”. As minhas opções não eram as melhores. Longe disso. Mas só hoje eu consigo entender isso.

Portanto, caro leitor que está nesta faixa do voto compulsório, se eu puder dar uma sugestão, é: invista na formação. Em outros termos: busque entender o melhor possível o processo político e suas implicações. Esta é uma fase da vida marcada pelas primeiras guinadas de posição. Ir às urnas, em certa medida, é o de menos. O que vale é criar a tal da “consciência política”. E isso tem um custo: consumo de informação e diálogo com os mais experientes. Parece chato. E, às vezes, é mesmo. Mas é muito mais recompensador do que optar pela mais completa alienação. Que também é um direito seu. Cedo ou tarde, as escolhas serão necessárias. Assim é a vida adulta, por mais que queiramos sempre adiá-la.

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Sobre

Pitacos, reflexões e provocações sobre música, cinema, jornalismo, cultura pop, televisão e modismos.

Autores

Emanuel Bomfim

Emanuel Bomfim nasceu em 1982. É radialista e jornalista. Escreve para revista Cidade Nova desde 2003. Apresenta diariamente na Rádio Estadão (FM 92,9 e AM 700), em SP, o programa 'Estadão Noite' (das 20h às 24h). Foi colaborador do 'Caderno 2', do Estadão, entre 2011 e 2013. Trabalhou nas rádios Eldorado, Gazeta e América.