Sensorial

Cinema e futebol

Eryk Rocha, filho de Glauber Rocha, condensa duas de suas paixões em Campo de Jogo: o cinema e o futebol. Um é o meio; o outro é o objeto. Quando interligados, da maneira como depurou e estruturou, só poderia resultar numa explosão sensorial. Pura catarse. A narrativa é ditada sem convencionalismos: não há depoentes, não há academicismo e nem reportagem investigativa. Sua câmera flagra a dramaturgia (épica, por que não?) da final do Copa anual de Favelas do Rio de Janeiro, no bairro de Sampaio, vizinho ao Maracanã – que recebia na mesma época a “Copa das Copas”, a mesma do “7 a 1”. Neste espaço de terra batida demarcado com cal, mais do que o confronto entre Juventude X Geração, temos a fábula de um povo. Que se entrega aos desmandos da bola para redimir as misérias de um cotidiano. É um filme exemplar, que também irá falar muito sobre a decadência do nosso futebol – cada vez mais desfigurado e sem a “alma” varzeana que Eryk encontra em Campo de Jogo.

 

 

Wilco e a música de graça

Wilco. Foto: Divulgação

Em meio a proliferação de plataformas de streaming (Apple music, Spotify, Deezer, Rdio, Tidal...), a banda norte-americana Wilco disponibilizou gratuitamente para download seu novo álbum, Star Wars. Jeff Tweedy, líder do grupo, saudou o ato como algo “divertido e surpreendente”. Pouco depois, corrigiu a eloquência com uma cartilha de bons modos, lembrando ao fã que era importante pagar pela obra artística. Que o Wilco fazia aquilo porque tinha condições. Jeff parece ter tomado uma lição de Taylor Swift, a menina que colocou a Apple na parede: “ou se paga pela execução ou estou fora!”. Resolveram pagar (ninguém quer magoar a nova rainha do pop). Difícil dizer onde isso vai acabar. Com o crash das gravadoras, se estabeleceu a cultura do download gratuito. E com anuência de grande parte dos artistas. Ora, como restabelecer uma valorização que se deteriorou ao longo do tempo? Os empresários continuam dando suas tacadas, mas são os artistas que precisam ditar as regras do jogo.

A terapia de Renato Russo
 

Foto: Divulgação

Dia desses recebi um email de um leitor de Cidade Nova sugerindo a leitura e possível matéria sobre o livro de Renato Russo, Só por Hoje e para Sempre (Cia. Das Letras). Por ser um diário do período em que o cantor ficou internado numa clínica de reabilitação, é natural que os escritos ganhem um tom revelador. Ainda mais pela franqueza de Renato ao falar sobre si e dos outros. Ele era muito consciente de sua autodestruição, o que torna sua personalidade ainda mais misteriosa e indecifrável. Mas há um tom otimista que se sobrepõe. De alguém que deseja se reconciliar com a família (em especial com o filho) e consigo mesmo. Em sua verborragia, Renato pouco se vitimiza e, o melhor, sabe rir de si mesmo. O que é uma qualidade muito nobre.

Uber x taxistas

Ainda não vejo motivo consistente para impedir que o Uber se estabeleça nas grandes metrópoles brasileiras. A questão da necessidade de regulamentação é argumento para obter controle – e, claro, recolher mais impostos. Me surpreende a reação dos taxistas: protecionista e violenta, em muitos casos. Ao invés de rivalizar, a categoria poderia adotar elementos trazidos pelo serviço dos motoristas cadastrados no Uber. O principal deles, nem preciso dizer, é o preço. Mas tem mais, como conforto e atendimento. Será tão difícil assim para os taxistas prestar um serviço mais barato e melhor?



Sobre

Pitacos, reflexões e provocações sobre música, cinema, jornalismo, cultura pop, televisão e modismos.

Autores

Emanuel Bomfim

Emanuel Bomfim nasceu em 1982. É radialista e jornalista. Escreve para revista Cidade Nova desde 2003. Apresenta diariamente na Rádio Estadão (FM 92,9 e AM 700), em SP, o programa 'Estadão Noite' (das 20h às 24h). Foi colaborador do 'Caderno 2', do Estadão, entre 2011 e 2013. Trabalhou nas rádios Eldorado, Gazeta e América.