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Erosão contínua da economia palestina deixa o território à beira do colapso, afirma ONU

Relatório publicado na última quarta-feira (3) demonstra que a deterioração da economia palestina tem suas raízes no status de território ocupado e gera pobreza ampla e profunda

por ONU Brasil   publicado às 16:55 de 04/09/2014, modificado às 16:55 de 04/09/2014

Mesmo antes da última crise na Faixa de Gaza, a economia local do pequeno enclave já se encontrava em estado de total colapso, devido principalmente ao impacto acumulado do bloqueio de sete anos e de duas devastadoras operações militares israelenses em novembro de 2012 e dezembro de 2006, afirma um novo estudo divulgado pelas Nações Unidas.

Caminhões de ajuda humanitária e bens comerciais em um engarrafamento na passagem da fronteira entre Gaza e Israel. Foto: IRIN/Erica Silverman

Publicado nesta quarta-feira (3) pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), o Relatório de 2014 sobre a Assistência ao Povo Palestino detalha como a deterioração da economia palestina — que tem suas raízes no status de território ocupado — tem mostrado um crescimento fraco, uma posição fiscal precária, uma dependência forçada da economia israelense, desemprego massivo e uma pobreza ampla e profunda, além de grande insegurança alimentar.

A avaliação não cobre os danos causados depois da recente crise em Gaza, que deixou mais de 2 mil palestinos mortos, 10 mil feridos e 500 mil sem residência. No entanto, para o coordenador especial de assistência ao povo palestino, Mahmoud Elkhafif, a situação de hoje simboliza a erosão contínua da economia e desenvolvimento palestino e a forte dependência que o território tem de Israel. Segundo ele, como a economia palestina não pode se sustentar sozinha, a única opção remanescente para os palestinos que vivem na Cisjordânia e na Faixa de Gaza é importar produtos de Israel.

Ele enfatizou que o processo de “desenvolvimento reversível” deve parar e alertou que o território está a ponto de entrar em um estado de produção nula. Por isso, o relatório indica que é crucial que a comunidade internacional concentre seus esforços de reconstrução e recuperação nas raízes da ocupação prolongada, no conflito contínuo, na manutenção de um bloqueio fechado e sustentado e a recorrente destruição da infraestrutura em Gaza, que tem sido documentados anualmente pelos relatórios do UNCTAD sobre a economia palestina desde 1985.

Impacto da ocupação contínua na Cisjordânia

O relatório também aborda o impacto da ocupação contínua israelense da “Área C”, o equivalente a 62% da Cisjordânia, e afirma que a falta de soberania sobre os recursos econômicos e naturais priva o povo palestino da oportunidade de obter um desenvolvimento econômico sustentável. O governo israelense designou 39% dessa área para assentamentos e futuras expansões, 20% para áreas fechadas de uso militar israelense e 13% para reservas naturais.

Para o UNCTAD, a Área C é fundamental para a continuidade geográfica da Cisjordânia e a viabilidade econômica de uma solução de dois estados. Ela também é necessária para o desenvolvimento de infraestrutura pública e as necessidades das comunidades palestinas, não apenas nessa área específica, mas também em toda a Cisjordânia.

Para garantir a recuperação duradoura da economia palestina, além de uma considerável ajuda estrangeira, é necessário um esforço de desenvolvimento renovado através do investimento em setores produtivos e infraestrutura crucial para que a base produtiva seja reconstruída. Além disso, é imprescindível que a comunidade internacional assuma o compromisso de pôr fim às restrições de movimento dentro e de acesso à Cisjordânia, assim como encerrar o bloqueio que vem asfixiando a economia local de Gaza e isolando 1,8 milhão de pessoas do resto do mundo.

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