Saúde / Ciência
  

Conexão social e saúde: o que dizem as pesquisas científicas?

Artigo originalmente divulgado na edição de Setembro da Revista Cidade Nova, em 2025.

por Adnaldo Paulo Cardoso   publicado às 00:00 de 12/09/2025, modificado às 11:59 de 12/09/2025

A NATUREZA social do ser humano é conhecida e afirmada há mais de dois mil anos. São célebres as afirmações: “O homem é um ser social”, de Aristóteles (384 a.C. 322 a.C.), e “Nenhum homem é uma ilha”, de John Donne (1572-1631). Ambos ressaltam a natureza intrinsecamente social do ser humano, bem como a interdependência e a necessidade de conexão que caracterizam a existência humana.

Nas últimas décadas, tem crescido o interesse de pesquisadores pelo estudo da conexão social (ou a falta dela) e sua relação com a saúde. Ao analisarem as conexões sociais, eles consideram importante levar em conta: 1) as nossas conexões com os outros por meio da existência de relacionamentos sociais, papéis sociais e suas interações; 2) os recursos fornecidos ou disponíveis que a nossa rede de conexões oferece às nossas necessidades (por exemplo: necessidades físicas, emocionais e de pertencimento); e 3) as qualidades afetivas positivas e negativas das nossas conexões (por exemplo: intimidade, proximidade, tensão e conflito).   

Partindo de diferentes pesquisas em saúde pública ao longo dos anos, a pesquisadora doutora Julianne Holt-Lunstad sugere que de 40% a mais de 80% da saúde e do bem-estar podem ser direta ou indiretamente atribuídos a fatores sociais. Mas poderíamos perguntar: como a falta de conexão social pode provocar danos à saúde?

Os pesquisadores explicam que os seres humanos, ao longo da história, precisaram depender uns dos outros para sobreviver. Assim, evolutivamente, interpretamos a falta de proximidade com pessoas confiáveis como uma ameaça e, diante dessa ameaça, acionamos um alerta no sistema nervoso central que, por sua vez, ativa o sistema nervoso simpático e o eixo hipotálamo-hipofisário. Essa ativação pode aumentar a pressão arterial, os hormônios do estresse, bem como reações inflamatórias. Se essas condições forem vividas a longo prazo, aumentam o risco de várias doenças crônicas. Nos casos em que já existem doenças, essas alterações fisiológicas podem acelerar a sua progressão. Portanto, a falta de conexões sociais pode resultar no surgimento de problemas de saúde e na piora dos quadros de doenças preexistentes. 

A ligação entre a conexão social e a saúde física foi constatada em diferentes estudos que demonstram que indivíduos com fortes laços sociais tendem a ter menores riscos de problemas de saúde, como doenças cardíacas, hipertensão e até mesmo demência. Afinal, manter relações sociais pode ajudar a reduzir os níveis de estresse, uma vez que interações positivas liberam oxitocina, um hormônio que reduz a ansiedade e promove sentimentos de calma e segurança. Este efeito pode melhorar a saúde cardiovascular e reduzir a pressão arterial, promovendo uma vida mais longa e saudável.

Outra descoberta dos pesquisadores é que pessoas socialmente conectadas têm sistemas imunológicos mais robustos. O apoio emocional e o senso de pertencimento estimulam o corpo a produzir mais anticorpos e células T, que são essenciais para combater infecções e doenças. Além disso, relações sociais positivas incentivam comportamentos saudáveis. Amigos e familiares podem influenciar a adoção de hábitos benéficos, como praticar exercícios físicos regularmente, manter uma alimentação equilibrada e evitar o uso de substâncias nocivas.

A saúde mental é igualmente afetada pela qualidade das nossas relações sociais. Sentir-se conectado a outras pessoas proporciona um senso de propósito e pertencimento, que são fundamentais para a saúde emocional. Já a falta de conexão social é um fator de risco significativo para depressão e ansiedade. Ter um círculo de apoio pode oferecer um espaço seguro para expressar sentimentos e receber conselhos, diminuindo a sensação de isolamento e solidão.

As pesquisas apontam também que relações saudáveis ajudam a desenvolver resiliência emocional. O fato de saber que podemos contar com o suporte de outras pessoas nos momentos difíceis nos capacita a enfrentar adversidades com maior força e otimismo. Além disso, interações sociais positivas reforçam a autoestima e a confiança. Ser apreciado e amado pelos outros valida a nossa identidade e nos encoraja a perseguir nossos objetivos e sonhos com maior determinação.

Outro aspecto estudado pelos pesquisadores foi a influência da conexão social na longevidade. Esses estudos mostram que pessoas com fortes laços sociais tendem a viver mais e ter uma saúde melhor, em geral. Portanto, as pesquisas científicas têm evidenciado a importância das diferentes conexões sociais para a saúde física e mental, desde aquelas do núcleo doméstico e familiar, até as dos núcleos comunitário e social.

Na próxima edição da revista, daremos continuidade ao tema, abordando algumas estratégias para promover as conexões sociais. Até lá!

Por Adnaldo Paulo Cardoso

O autor é terapeuta ocupacional, doutorando e mestre em Ciências da Reabilitação – Saúde do Idoso pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia; especialista em Bioética pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) e membro do grupo Psicologia e Comunhão.