Pensar o esporte como promotor do bem coletivo

O esporte, por definição, deve estar a serviço do bem-estar individual (com fins de recreação, manutenção do condicionamento corporal, da saúde e/ou competição[1]) e, principalmente, do bem-estar coletivo. Acontece que, muitas vezes, em vez de atuarem como potenciais promotores do bem social, os atores principais do esporte acabam fazendo com que ele esteja voltado unicamente para a realização dos seus próprios interesses.

A distância focal entre os protagonistas do esporte e a sociedade civil acaba acentuando a desvalorização e até mesmo o desconhecimento de algumas das modalidades esportivas. Por outro lado, quando valorizadas e reconhecidas, as modalidades que obtêm conquistas, tanto no âmbito educacional como no econômico, muitas vezes não se preocupam em torná-las um legado para todos.

Uma definição global

Fair play é uma expressão de origem inglesa que, segundo o dicionário da língua portuguesa Houaiss, significa tanto “tratamento imparcial; equidade”, como “jogo limpo”, em que as regras preestabelecidas são respeitadas. Uma fonte desconhecida relaciona o nascimento dessa expressão à primeira olímpiada da Era Moderna, em Atenas, no final do século XIX.  Durante o evento esportivo, o francês Pierre de Frédy, mais conhecido como Barão de Coubertin e fundador dos Jogos Olímpicos, idealizou o conceito por meio da frase: “Não pode haver jogo sem fair play. O principal objetivo da vida não é a vitória, mas a luta”.

Entretanto, a definição de fair play que melhor exprime o caminho editorial que esse blog tem a intenção de percorrer foi expressa no Código de Ética Desportiva[2], promovido pela UNESCO. Segundo o Código, fair play “significa muito mais do que o simples respeitar das regras, mas cobre as noções de amizade, de respeito pelo outro e de espírito desportivo, um modo de pensar e não simplesmente um comportamento. O conceito abrange a problemática da luta contra a fraude, a arte de usar a astúcia dentro do respeito das regras, o doping, a violência (tanto física como verbal), a desigualdade de oportunidades, a comercialização excessiva e a corrupção”.

A grande abrangência da definição apresentada no Código de Ética, formulada em 1996, exprime uma maturidade conceitual enriquecida pela prática desportiva que cresceu nas últimas décadas. A cultura do sucesso e da vitória a todo o custo acabam muitas vezes levando seus protagonistas ao esquecimento desse importante aspecto do esporte, que o Código faz questão de relembrar.

A realização (ou a não realização) do fair play e a consciência social (ou a falta dela) são os principais aspectos do esporte que iremos refletir, questionar, nas próximas semanas, com o objetivo de descobrirmos, juntos, o enorme arsenal de valores que as diferentes modalidades esportivas podem nos oferecer.

Certamente, em se tratando de Brasil e de um ano em que todas as atenções estão especialmente voltadas para o futebol, teremos o grande desafio de garimpar os valiosos protagonistas de outras modalidades, talvez menos conhecidos, mas que possuem um enorme potencial como agentes de transformação social.

Esse é um caminho que queremos percorrer com você! Contamos com a sua participação crítica e construtiva.

[1] Dicionário Eletrônico Houaiss

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Sobre

Fazer do esporte um instrumento de promoção da fraternidade é aceitar o desafio de descobrir, acima de tudo, a prática de atividades físicas como possibilidade de encontro, de relação. Em uma competição esportiva, o adversário não é um inimigo, nem o jogo uma batalha. Por isso, respeitar as regras predefinidas e preservar um espírito de lealdade e honestidade tornam-se elementos essenciais para que o esporte realize a sua missão socioeducativa. Neste blog, queremos identificar, discutir e descobrir os grandes promotores do esporte no Brasil e no mundo e, com eles, refletir sobre valores que ajudam a edificar a nossa sociedade.

Autores

Valter Hugo Muniz

Jornalista com experiências internacionais na Ásia (Indonésia) e na África (Costa do Marfim). Atualmente mora em Genebra, na Suíça. É formado em jornalismo pela PUC-SP. Trabalhou em agências de comunicação, empresas multinacionais, editoras e na televisão. Concluiu recentemente uma pós-graduação no Instituto Universitário Sophia, em Florença, Itália.