Os argentinos não são inimigos

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No último domingo, a seleção brasileira de basquete venceu a Argentina por 68 a 59, no torneio amistoso de preparação para o Mundial na Espanha, que começa no fim desse mês. O jogo acirrado, vencido nos detalhes, colocou em evidência, mais uma vez, um aspecto do esporte que tem ganhado relevo na imprensa brasileira: a rivalidade entre Brasil e Argentina.

Por ter muitos amigos no país vizinho e considerar a Argentina uma nação esplêndida, fico incomodado com a insensibilidade de alguns jornalistas e publicitários que acabam fazendo com que a rivalidade entre os dois países transcenda os limites do campo.

De onde vem a rivalidade no esporte?

O surgimento da rivalidade esportiva tem data e local específico: o dia 30 de novembro de 1872, em Glasgow, Escócia. Foi nesse dia que, pela primeira vez na história, atletas defendendo seus países se enfrentaram em um evento de certa relevância. A partida de futebol entre Escócia e Inglaterra é tratada como um marco do esporte mundial, por ser a primeira a constar nos livros de história. Outros eventos entre diferentes nações já tinham provavelmente acontecido em ocasiões precedentes, mas não foram registrados.

De 1871 para cá, a ideia de combate entre nações em campos de futebol, piscinas ou quadras se expandiu. Muitas vezes esses enfrentamentos esportivos acabaram em confraternização, outras, infelizmente, em pancadaria.

Brasil x Argentina

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Estudiosos do esporte divergem sobre a verdadeira origem da rivalidade entre Brasil e Argentina. Contudo, o que se viu no último mês foi um aumento da relevância dada para esse fenômeno pela mídia, que muitas vezes provocou um aumento da intolerância entre os torcedores dos dois países.

Em entrevista concedida a um grande jornal brasileiro, Ronaldo George Helal, sociólogo e professor de comunicação da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), acenou para uma mudança de comportamento dos torcedores. Os episódios de vandalismo durante a Copa do Mundo de futebol no Brasil confirmam a teoria de Ronaldo Helal e servem como um importante alerta para que não transformemos em ódio a saudável rivalidade no esporte.

Quando se trata de uma competição esportiva, rival é o adversário de uma equipe que compete de igual para igual. É um concorrente que impulsiona seu adversário a melhorar, a se esforçar mais, para conquistar a vitória no campo. Porém, de forma alguma, o adversário é um inimigo.

Diante dos últimos acontecimentos envolvendo torcedores de Brasil e Argentina, deve-se ressaltar a importância de não se deixar levar pelo sensacionalismo da mídia oportunista. São os discursos irresponsáveis de determinados formadores de opinião que acabam fomentando sentimentos que extrapolam o ambiente esportivo e, principalmente, pouco contribuem para uma relação amistosa entre os cidadãos dos dois países vizinhos.

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Sobre

Fazer do esporte um instrumento de promoção da fraternidade é aceitar o desafio de descobrir, acima de tudo, a prática de atividades físicas como possibilidade de encontro, de relação. Em uma competição esportiva, o adversário não é um inimigo, nem o jogo uma batalha. Por isso, respeitar as regras predefinidas e preservar um espírito de lealdade e honestidade tornam-se elementos essenciais para que o esporte realize a sua missão socioeducativa. Neste blog, queremos identificar, discutir e descobrir os grandes promotores do esporte no Brasil e no mundo e, com eles, refletir sobre valores que ajudam a edificar a nossa sociedade.

Autores

Valter Hugo Muniz

Jornalista com experiências internacionais na Ásia (Indonésia) e na África (Costa do Marfim). Atualmente mora em Genebra, na Suíça. É formado em jornalismo pela PUC-SP. Trabalhou em agências de comunicação, empresas multinacionais, editoras e na televisão. Concluiu recentemente uma pós-graduação no Instituto Universitário Sophia, em Florença, Itália.