Quando o emocional é desculpa para o fracasso?

Neste final de semana, tivemos a final de mais um importante evento esportivo de dimensão internacional: o Campeonato Mundial de Basquete masculino.

Infelizmente, a seleção brasileira foi motivo de grande decepção. Depois de um início instável, o time brasileiro pareceu ter encontrado seu equilíbrio no torneio, até ser massacrado pela Sérvia, que se sagrou vice-campeã da competição.

Foto: Nathan Wind/Flickr

A derrota humilhante sofrida pelo time brasileiro nas quartas de finais foi dolorosa. Talvez não como o 7x1 para a Alemanha, na Copa do Mundo de Futebol. Contudo, novamente, o que veio à tona, como justificativa à derrota, não foi o despreparo dos atletas brasileiros, mas o aspecto emocional. “Sérvia se aproveita de destempero brasileiro, atropela e está na semifinal”, foi a manchete da matéria publicada na internet por um grande portal brasileiro de notícias esportivas.

Quanto pesa o emocional?

É verdade. Como tudo na vida, o aspecto emocional pode, sim, ser decisivo no sucesso ou o fracasso dos nossos projetos. Não saber gerir os próprios nervos pode, na hora H, prejudicar anos de preparação. Será?

Na Copa do Mundo de futebol as expectativas em torno da seleção brasileira de futebol eram enormes. Mas, para justificar o enorme fracasso, foi amplamente mencionado o despreparo emocional. No Basquete, a mesma coisa.

Porém, em ambos os casos, poucos foram aqueles que ousaram questionar uma certa displicência nos treinamentos e quase nada tem se mencionado a respeito da necessidade de transformar as instituições – muitas vezes corruptas – que administram as modalidades esportivas no Brasil. Preparar-se, pode ser determinante nos momentos de pressão. Claro que é possível, mesmo assim, perder. Perder faz parte. O que é raro é, em se tratando do Brasil de Pelé e Oscar, perder de forma tão humilhante no futebol e no basquete.

O exemplo americano de reviravolta

Foto: Nathan Wind/Flickr

A equipe americana de basquete masculino, campeã do Mundial realizado no último mês, é um exemplo evidente de reviravolta no esporte. Mesmo sendo considerado o “país do basquete”, foi necessária uma importante reconstrução, após a seleção do país chegar, na última década, ao 'fundo do poço'.

Em 2004, por exemplo, o interesse pela seleção estava tão em baixa que poucos atletas consagrados aceitavam jogar pela equipe do país. Dessa forma, a campanha nas Olimpíadas de Atenas foi desastrosa, decretando o fim da hegemonia americana no basquete mundial.

Perder as principais competições internacionais ajudou a federação norte-americana a perceber que não basta ter os melhores jogadores do planeta. Era preciso mudar, tanto na preparação dentro de quadra, quanto a mentalidade dos jogadores. Assim, foram escolhidas duas estratégias: a primeira foi a conscientização das estrelas americanas sobre a importância e o privilégio de representar os EUA na seleção nacional e a segunda foi encontrar um técnico experiente em competições com seleções.

Com o talento e comprometimento das estrelas, a oportunidade dada aos jovens talentos do país e submetendo todos os atletas a uma longa preparação para os torneios, o time de basquete norte-americano passou novamente a colecionar títulos, como o do último domingo. Uma lição importante dentro e fora das quadras. No esporte, mas também na vida, além de talento, o trabalho e a preparação são fundamentais.



Sobre

Fazer do esporte um instrumento de promoção da fraternidade é aceitar o desafio de descobrir, acima de tudo, a prática de atividades físicas como possibilidade de encontro, de relação. Em uma competição esportiva, o adversário não é um inimigo, nem o jogo uma batalha. Por isso, respeitar as regras predefinidas e preservar um espírito de lealdade e honestidade tornam-se elementos essenciais para que o esporte realize a sua missão socioeducativa. Neste blog, queremos identificar, discutir e descobrir os grandes promotores do esporte no Brasil e no mundo e, com eles, refletir sobre valores que ajudam a edificar a nossa sociedade.

Autores

Valter Hugo Muniz

Jornalista com experiências internacionais na Ásia (Indonésia) e na África (Costa do Marfim). Atualmente mora em Genebra, na Suíça. É formado em jornalismo pela PUC-SP. Trabalhou em agências de comunicação, empresas multinacionais, editoras e na televisão. Concluiu recentemente uma pós-graduação no Instituto Universitário Sophia, em Florença, Itália.