A proibição de investidores no futebol

Na semana passada, uma decisão polêmica da FIFA sacudiu o mundo de futebol. Segundo a entidade máxima do esporte, os clubes que tiverem jogadores “fatiados” com investidores terceiros serão punidos rigorosamente.

A realidade

No mundo inteiro, inúmeros times de futebol com dificuldades financeiras apelam para a ajuda de grupos de investidores. Dessa forma, eles podem tanto contratar como manter bons jogadores em suas equipes.

Na última sexta-feira, 26, o presidente da FIFA Joseph Blatter anunciou a proibição da participação de investidores na contratação de jogadores por clubes de futebol. Foto: Ale Germino/Flickr (2011)

Na prática, o contrato dos atletas é feito da seguinte forma: um clube se interessa por um jogador, mas não tem dinheiro para comprá-lo. Assim, é feito um acordo com investidores que assumem uma parte ou a totalidade das obrigações econômicas e, em troca, recebem um percentual do valor referente à (possível) futura venda do atleta.

Essa prática é comum nos clubes sem muitos recursos, principalmente no Brasil. Contudo, ela, muitas vezes, acaba tirando o poder de decisão da mão dos dirigentes das equipes, em detrimento da vontade de investidores, preocupados em recuperar o dinheiro investido.

A mudança

A realidade apresentada acima deverá mudar nos próximos 4 anos. Na última sexta-feira, 26, o presidente da FIFA Joseph Blatter anunciou a proibição desse tipo de operação. “Tomamos uma decisão firme que a participação de terceiros deve ser banida”, explicou Blatter, acrescentando que haverá um período de transição.

Essa proibição da FIFA vai ao encontro de algumas demandas da federação europeia de futebol, a UEFA, que considera a prática prejudicial, pois tira enormes somas de dinheiro do futebol, além de ameaçar a integridade das competições, pelo fato dos jogadores serem negociados apenas para o aferimento de lucros.

O mercado brasileiro

No Brasil, a proibição da FIFA preocupa. Segundo Pedro Fida, entrevistado por uma importante revista do país, e especialista em direito desportivo, 80% dos elencos do Brasil contam com algum tipo de participação de investidores, o que, na prática, permite que muitos jogadores de bom nível fiquem nos clubes brasileiros. “Esse é um instrumento de financiamento dos clubes no país”, explica Fida.

Em contrapartida, um estudo feito a pedido da FIFA afirma que os clubes estão em um ciclo vicioso de dívida e dependência econômica. A falta de planejamento financeiro a longo prazo abre as portas para a chegada de investidores que, com o controle de jogadores, colocam em risco a independência dos times de futebol.

Os resultados dessa medida ainda são um mistério. O objetivo é, sobretudo, tornar o futebol um pouco menos vinculado aos interesses econômicos externos ao esporte, além de impulsionar uma administração mais consciente. A ideia parece boa, mas precisaremos verificá-la na prática.

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Sobre

Fazer do esporte um instrumento de promoção da fraternidade é aceitar o desafio de descobrir, acima de tudo, a prática de atividades físicas como possibilidade de encontro, de relação. Em uma competição esportiva, o adversário não é um inimigo, nem o jogo uma batalha. Por isso, respeitar as regras predefinidas e preservar um espírito de lealdade e honestidade tornam-se elementos essenciais para que o esporte realize a sua missão socioeducativa. Neste blog, queremos identificar, discutir e descobrir os grandes promotores do esporte no Brasil e no mundo e, com eles, refletir sobre valores que ajudam a edificar a nossa sociedade.

Autores

Valter Hugo Muniz

Jornalista com experiências internacionais na Ásia (Indonésia) e na África (Costa do Marfim). Atualmente mora em Genebra, na Suíça. É formado em jornalismo pela PUC-SP. Trabalhou em agências de comunicação, empresas multinacionais, editoras e na televisão. Concluiu recentemente uma pós-graduação no Instituto Universitário Sophia, em Florença, Itália.