A queda do muro de Berlim e o futebol alemão

No último final de semana, o Ocidente festejou um dos acontecimentos mais importantes do século XX: os 25 anos da queda do Muro de Berlim. Um fato, acima de tudo, político, mas que também afetou o mundo do esporte.

Durante a chamada Guerra Fria, que dividia o mundo em dois blocos, o Capitalista e o Socialista, a Alemanha foi, talvez, o país em que essa divisão incidia nas práticas esportivas de maneira mais evidente. Por exemplo: em eventos internacionais, como as Copas do Mundo de futebol e as Olimpíadas, o país europeu era subdividido em duas nações: a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental.

No caso do futebol, a RDA (República Democrática Alemã - Alemanha Oriental) e a RFA (República Federal da Alemanha - Alemanha Ocidental) se enfrentaram apenas algumas vezes. Foram os alemães orientais que venceram o confronto mais importante entre os dois países, no Mundial de 1974, quando as duas nações caíram no mesmo grupo.

 

Como acontecia no contexto político, o enfrentamento entre os blocos capitalista e socialista também era projetado no esporte. Dessa forma, a partida entre as duas seleções tinha um valor simbólico incontestável. O meia atacante Jürgen Sparwasser ficou eternizado ao fazer o único gol do jogo. "Aquele era o jogo mais importante desde o Mundial de 1954. Pelo peso histórico, muito mais importante do que uma final de Copa do Mundo", avalia o escritor Uli Hesse, ex-treinador de equipes juvenis na Alemanha e autor de Tor! The Story of German Football (Gol! A História do Futebol Alemão).

O primeiro título da Alemanha unificada

A beleza plástica do gol de Mario Gotze, na final da Copa do Mundo deste ano, não foi só o desfecho de gala para uma seleção que, merecidamente, ganhou o torneio esportivo. Nem é somente o cume de um acontecimento histórico para o futebol mundial. O chute que deu o tetracampeonato à Alemanha é também um marco do caminho de unificação que o país tem percorrido nos últimos 25 anos também no esporte.

As conquistas de 1954, 1974 e mesmo em 1990 foram apenas dos alemães ocidentais. Embora o Muro de Berlim tenha caído em novembro de 1989, a reunificação ocorreu em outubro de 1990, após a Copa da Itália, quando a Alemanha também bateu a Argentina por 1 a 0 na final.

Passos para a unificação completa no futebol

A queda do muro de Berlim e o futebol alemão. Foto: http://futebolnostalgico.blogspot.ch

A vitória na Copa do Mundo de 2014 é um acontecimento que deve ser festejado pelos alemães. Tanto pelos aspectos futebolísticos, como políticos. Contudo, ela pode esconder uma realidade interna em que, ao menos no futebol, ainda não existe um país efetivamente “único”.

Quando se observa os times da primeira divisão é possível notar que nenhuma das equipes da elite futebolística vêm das regiões da antiga Alemanha Oriental.  Mesmo os torcedores da antiga Alemanha comunista acabam preferindo equipes como o Bayern de Munique ou o Borussia Dortmund, potências do “ocidente”. Essa discrepância também é visível dentro da seleção tetracampeã. Enquanto em 2002 eram sete os jogadores provenientes do antigo território socialista, este ano, apenas o meia Toni Kroos vem do antigo território comunista.

Não se pode ignorar o grande progresso no processo de inclusão, não só política, mas também no universo futebolístico alemão. O país europeu formou uma seleção multicultural, modelo de integração e tolerância, mas, aparentemente, o Leste continua marginalizado. Assim, pode-se ter a impressão de que os jogadores talentosos do país provêm, exclusivamente, do antigo território capitalista. O que não é verdade.

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Sobre

Fazer do esporte um instrumento de promoção da fraternidade é aceitar o desafio de descobrir, acima de tudo, a prática de atividades físicas como possibilidade de encontro, de relação. Em uma competição esportiva, o adversário não é um inimigo, nem o jogo uma batalha. Por isso, respeitar as regras predefinidas e preservar um espírito de lealdade e honestidade tornam-se elementos essenciais para que o esporte realize a sua missão socioeducativa. Neste blog, queremos identificar, discutir e descobrir os grandes promotores do esporte no Brasil e no mundo e, com eles, refletir sobre valores que ajudam a edificar a nossa sociedade.

Autores

Valter Hugo Muniz

Jornalista com experiências internacionais na Ásia (Indonésia) e na África (Costa do Marfim). Atualmente mora em Genebra, na Suíça. É formado em jornalismo pela PUC-SP. Trabalhou em agências de comunicação, empresas multinacionais, editoras e na televisão. Concluiu recentemente uma pós-graduação no Instituto Universitário Sophia, em Florença, Itália.