Uma África que ainda sorri

Depois de uma final dramática, no ultimo domingo o mundo conheceu o grande vencedor do Campeonato Africano de Nações, sediado na Guiné Equatorial, no oeste do continente.

Partida entre as seleções de Senegal e Costa do Marfim, realizada em 16 de novembro de 2013, em Casablanca (Marrocos). Foto: Groundhopping Merseburg/Flickr

Da mesma forma que as seleções de futebol da América do Sul se enfrentam na Copa América, as equipes africanas também disputam um torneio continental que reúne as seleções de ponta do continente.

A primeira edição do campeonato aconteceu em 1957, com apenas três seleções: Egito, Sudão e Etiópia. Depois, foi preciso criar um torneio de qualificação, devido ao crescente número de participantes. Somando 30 edições, o maior campeão do Campeonato Africano de Nações é o Egito, somando 7 conquistas.

O triunfo marfinense

Alguns meses antes do torneio de seleções de futebol masculino mais importante da África existia o temor do cancelamento do evento, por conta da epidemia de Ebola. Com mais de mil mortos, a Guiné Equatorial foi um dos países mais afetados pela doença. Contudo, todos os cuidados sanitários foram tomados e, para alegria dos torcedores, o campeonato de futebol pode ser realizado no país.

Foto: DasWortgewand/Pixabay

Um campeonato bem disputado, com seleções tradicionais eliminadas na primeira fase e algumas agradáveis surpresas. Na final, contudo, duas das grandes sensações do futebol africano nos últimos anos: Costa do Marfim e Gana.

Durante os 120 minutos de partida, nenhuma das duas seleções conseguiu balançar as redes. Assim, o grande campeão sairia na disputa de pênaltis. Após uma longa sequência de cobranças, o goleiro reserva dos “Elefantes”, como é conhecida a seleção da Costa do Marfim, que até então não havia disputado nenhuma partida no campeonato, se sagrou herói do bicampeonato marfinense, com duas defesas (os ganeses perderam outra cobrança) e convertendo o ultimo pênalti.

O futebol ainda sorri na África​

É incrível como os meios de comunicação têm uma influencia significativae na maneira como percebemos o mundo, principalmente aquele distante dos nossos olhos. Possivelmente, se fizéssemos um levantamento estatístico, veríamos que 9 em cada 10 notícias sobre o continente africano são de caráter negativo. Contudo, é importante descobrir a enorme beleza cultural, natural e humana que existe nesse continente pouco conhecido em que, muitas vezes, o esporte é um importante instrumento de coesão.

Na África parece que o futebol ainda sorri, acima dos interesses econômicos evidentes em grandes eventos esportivos. Mesmo sem uma organização impecável e luxuosos estádios, o Campeonato Africano de Nações foi um grande espetáculo futebolístico para torcedores e atletas. As palavras do técnico marfinense, o francês Hervé Renard, exprimem bem o valor do torneio para a Costa do Marfim: “Dedicamos essa vitória a todo o povo marfinense. O futebol tem lá algo de mágico que permite reunir todas as diferentes etnias, todas as pessoas que não pensam da mesma maneira. A Costa do Marfim está mais feliz hoje. Isso é o mais importante”.

Nesse imenso continente multicultural, geralmente apresentado ao mundo como retrato da miséria e de diferentes conflitos armados, a pureza do esporte parece resistir com teimosia, levando aos seus praticantes e torcedores uma curiosa e evidente alegria.

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Sobre

Fazer do esporte um instrumento de promoção da fraternidade é aceitar o desafio de descobrir, acima de tudo, a prática de atividades físicas como possibilidade de encontro, de relação. Em uma competição esportiva, o adversário não é um inimigo, nem o jogo uma batalha. Por isso, respeitar as regras predefinidas e preservar um espírito de lealdade e honestidade tornam-se elementos essenciais para que o esporte realize a sua missão socioeducativa. Neste blog, queremos identificar, discutir e descobrir os grandes promotores do esporte no Brasil e no mundo e, com eles, refletir sobre valores que ajudam a edificar a nossa sociedade.

Autores

Valter Hugo Muniz

Jornalista com experiências internacionais na Ásia (Indonésia) e na África (Costa do Marfim). Atualmente mora em Genebra, na Suíça. É formado em jornalismo pela PUC-SP. Trabalhou em agências de comunicação, empresas multinacionais, editoras e na televisão. Concluiu recentemente uma pós-graduação no Instituto Universitário Sophia, em Florença, Itália.