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Ferreira Gullar recebe resultado de eleição na ABL cercado de amigos e familiares

O poeta maranhense afirma que a entrada para a ABL não vai mudar seu comportamento, porque sua obra sempre foi independente

por Cristina Indio do Brasil - Agência Brasil   publicado às 07:37 de 10/10/2014, modificado às 07:37 de 10/10/2014

O poeta Ferreira Gullar admitiu que há anos era convidado para participar de eleição para a Academia Brasileira de Letras (ABL), mas não queria aceitar. Começou a mudar de opinião ao considerar que parecia arrogante manter a resistência. “Pelo fato de passar tanto tempo dizendo que não queria, comecei a me sentir arrogante. Então, esses fatores e outros me fizeram aceitar entrarpara a academia”, contou em entrevista à Agência Brasil, cercado de amigos e parentes que foram ao seu apartamento, em Copacabana, para acompanhar o resultado da eleição.

O poeta maranhense Ferreira Gullar, com o neto Mateus Aragão. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil 09/10/2014

Gullar disse que a entrada para a ABL não vai mudar o comportamento dele, porque a sua obra sempre foi independente. “A entrada na academia não quer dizer nada em relação ao meu trabalho, os outros escritores que entraram para a academia, aliás, João Cabral [de Melo Neto], que entrou para esta mesma cadeira [de número 37] que vai ser a minha, na academia, e ele nunca ficou acadêmico. Eu vou continuar. Isso não vai mudar”, analisou.

O poeta maranhense está satisfeito em poder participar, a partir de agora, das discussões e reflexões dos imortais. “É bom, porque a academia é uma casa de pessoas que têm cultura e se interessam pela literatura e pelos valores, que são os meus também: da cultura, da literatura, da arte, do conhecimento. Então, é um convívio muito bom”, destacou.

Gullar disse que não vai para a ABL pensando em inovar a academia, nem pensou que temas pretende discutir com seus parceiros. “Não pensei sobre isso. Ainda não entrei. Hoje que passei a ser membro da Academia, não era membro e não ia pensar em mudar a academia”, falou, acrescentando que ficou feliz com a aceitação que teve. Gullar alcançou 36 dos 37 votos possíveis. O que faltou foi um voto em branco. “Isso foi muito importante para mim”, completou.

O próximo imortal disse que pôde comprovar nas ruas a popularidade dos membros da academia. “A academia é muito mais popular do que eu pensava. Depois que saiu a notícia de que eu ia me candidatar na rua até um vendedor de sorvete me parou para dizer: ‘Estou contente de o senhor entrar na Academia'. Na feira, fui comprar umas frutas e o vendedor disse: 'Olha, estou contente do senhor entrar para a Academia'. A gente não faz ideia, mas a academia é muito mais popular do que a gente pensa”, revelou.

Mateus Aragão, um dos oito netos do poeta, deu um abraço no avô e mostrou a felicidade de dividir com ele o momento. Cheio de emoção, chorou e disse que está orgulhoso. “Sou apaixonado por ele, e a minha ligação com a poesia é através dele. Muita gente gosta de poesia por causa dele. É um momento de muito orgulho”, contou o produtor cultural de 33 anos,  terceiro filho de Luciana. Além dela, Gullar é pai de Paulo e Marcos, que não tiveram filhos.

Para o acadêmico, Eduardo Portela, eleito em 1981, Gullar é o maior poeta vivo do Brasil, e traz para a ABL a legitimidade de um grande poeta, de grande crítico de artes plásticas e comentarista político. “É um ganho para a Academia, que se engrandece e conquista esse pensamento, visão da vida. Ele vai enriquecer a Academia”, disse o imortal, que foi cumprimentar o novo colega.

Na avaliação do escritor Zuenir Ventura, o amigo é um símbolo da geração dele, e ainda teve uma eleição recorde. “Isso é, realmente, a consagração, e ele está muito feliz de ter aceito. A geração dele - e a minha geração - antigamente tinha um certo preconceito com a academia, mas isso, felizmente, foi por terra, e é um espaço de reflexão e de convivência. As pessoas que estão lá dizem que é uma convivência muito agradável. É um reconhecimento pelos seus pares e eu estou muito feliz, porque sou um querido amigo dele de muitos anos e torci muito pela vitória dele”, revelou.

De acordo com Zuenir, Gullar sempre foi pioneiro. “Ele é muito inquieto. A característica do Gullar é a inquietação mental, cultural. Ele vai levar isso para a academia. Essa contribuição de um pensamento sempre em ebulição”, analisou.

Para Zuenir, o fato de o poeta Ivan Junqueira ter sido o último ocupante da cadeira 37 contribuiu para a decisão de Gullar aceitar participar da eleição. “Isso contribuiu muito para ele ir para a academia. É um querido amigo dele. O grande poeta Ivan Junqueira”, disse.

Outro amigo que fez questão de parabenizar o poeta foi o cineasta Zelito Viana. “Vai melhorar a Academia, que precisa de pessoas como o Gullar. Das pessoas vivas no Brasil era a que mais merecia ir para a academia. Vai contribuir muito, vai oxigenar e dar um up grade na academia. Sem nehuma dúvida. Tomara que o Zuenir também entre”, avaliou em entrevista, já aproveitando para fazer campanha para o outro amigo.

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