Sociedade / Comportamento
  

12 mil voluntários socorrem vítimas de terremoto na Itália

Numa lição de fraternidade e misericórdia, eles tentam amenizar as dores físicas, psíquicas e espirituais causadas pelo desastre natural

por Michele Zanzucchi - Cidade Nova Itália   publicado às 11:00 de 25/08/2016, modificado às 11:01 de 25/08/2016

Numa lição de fraternidade e misericórdia, eles tentam amenizar as dores físicas, psíquicas e espirituais causadas pelo desastre terremoto que atingiu a região de Amatrice, na Itália. Foto: Divulgação

Ontem (24) de manhã, após o terremotos iniciado às 3h36 que acordou todos os italianos, o primeiro telefonema que recebi foi o de meu colega Umberto Paciarelli, que vive em Tivoli, anunciando sua partida para o local da tragédia. Durante o dia ele encontrou uma maneira de nos comunicar seus sentimentos por telefone: "É como em Aquila", onde já estivera na noite trágica de 2009; "Removemos cadáveres sobre cadáveres"; "Eu não agüento mais ver pessoas mortas, mas continuo escavando", com as mãos ou com qualquer ferramenta "delicada", para evitar novos colapsos que poderiam esmagar os enterrados vivos; "O dia foi muito cansativo e emocionalmente desgastante, mas estou feliz por ter dado a minha pequena contribuição, juntamente com a minha equipe. Infelizmente de dez, tiramos apenas uma mulher viva. Eu estou retornando a Roma, há muitos outros voluntários chegando de todas as regiões da Itália para nos substituir", escreveu ele à noite via WhatsApp, enquanto retornava para casa exausto e empoeirado.

Como Paciarelli, outras 10-12 mil pessoas treinadas e equipadas para casos semelhantes subiram a montanha entre Rieti e Ascoli Piceno atingida pelo terremoto mortal de seis graus na escala de Richter. São 247 mortes até agora e, infelizmente, o número vai crescer (quase simultaneamente em Myanmar houve um terremoto semelhante 6,8 graus que fez menos mortes, mas uma centena de templos da magnífica Bagan foram danificados). Um pequeno-grande exército de voluntários que, assim que chegaram as notícias do sofrimento coletivo, já estavam lá, sem qualquer hesitação, sem qualquer remuneração e nenhum outro reconhecimento além da satisfação de ser útil. Eles movem-se com precisa coordenação e eficácia extraordinária. Desse modo salvam vidas, evitam danos piores e ajudam as pessoas feridas na alma, no corpo e na psique.

Há que se recordar, ainda, de todos aqueles que se mobilizaram, muitos de Aquila, para encontrar alimentos, cobertores, tendas... Outro exército que, embora não se mova nos lugares da tragédia, ajuda a derramar sua pequena gota de bálsamo sobre a ferida aberta. Não podemos não estar orgulhosos, como italianos, desse exército a-confessional, a-político, a-comercial,  que demonstra desprendimento, generosidade e inteligência. Desta vez, todos os meios de comunicação italianos e estrangeiros têm mostrado um movimento social que não é estéril e sabe implementar sua própria fé, sabe fazer alta política, sabe ser útil, sem ostentação e em completa liberdade. Um exemplo, talvez único no mundo dadas as proporções, mostrando que a única maneira de aliviar a dor é compartilhá-la, o cum-patere, o compadecer, o "sofrer juntos". Uma lição de democracia e de misericórdia.

Tags:

Fraternidade, solidariedade, roma, terremoto, itália, accumoli, amatrice, pescara del tronto, arquata