François Neveux: um empresário economicamente incorreto

Conheça a história de um empresário que "queria atravessar os muros da indiferença e pintar tudo de azul para os deserdados da vida”.

por Cibele Lana   publicado às 00:00 de 23/06/2020, modificado às 16:48 de 25/06/2020

François Neveux nasceu em 29 de maio de 1936. Desde criança se interessou pela invenção e pela inventividade. Não por menos, Robinson Crusoé foi o primeiro livro que leu. Sem dúvidas, um ensaio para uma vida “ousada” no empreendedorismo que o aguardava no futuro.

Com cerca de 14 anos, o espírito inventivo de François já despontava. Como havia apenas uma bicicleta para toda a família, percorreu oficinas, ferros-velhos, garagens e coletando peças de motocicletas velhas construiu uma moto original, única, peça por peça e a pintou toda de azul! Nos anos que se seguiram, François construiu ao menos meia dúzia delas.

Formou-se em engenharia e logo no início da carreira dedicou-se à incansável taref de inventar o que ninguém nunca ainda havia pensado. Ao longo da vida, foram dezenas de patentes, a maior parte delas ligadas a produtos para o segmento de saneamento básico, que viria a ser o cerne dos seus empreendimentos. Sua primeira patente foi um filtro hexagonal, um filtro pré-fabricado composto por elementos moduláveis, com uma entrada e cinco saídas possíveis.

As invenções se seguiram e alguns especialistas franceses chegaram a dizer que ele renovou inteiramente a concepção das estações de tratamento da época.

Em poucos anos, François teve contato com uma nova tecnologia, a rotomoldagem, um processo atóxico para os operários e para o meio ambiente.

As empresas de François cresceram e ele se tornou um empresário bem sucedido na França, sendo uma das três empresas líder do segmento de saneamento.

Mas, como bem exprime sua biografia, “François queria atravessar os muros da indiferença e pintar tudo de azul para os deserdados da vida”.

Ele já estava em busca de um comportamento econômico diferente quando conheceu, em 1991, o projeto Economia de Comunhão, inspirado por Chiara Lubich. Um novo modelo econômico que coloco o ser humano no centro do processo produtivo e tem como proposito a redução da pobreza pela comunhão de recursos financeiros ou não. 

Naquela época, disse a um grupo de empresários da Economia de Comunhão: “Quero viver com vocês essa intuição “genial” que Chiara Lubich teve, “genial” no sentido da palavra “gênio”. Nessa intuição, há uma parte de utopia, de sonho, mas o que permanece acessível é apostar na partilha e crer que essa partilha pode ser uma ajuda para os mais pobres. Estou pronto a doar minhas patentes, meu know-how, minhas máquinas, meus moldes, tudo... Estou pronto também a formar engenheiros e operários para viverem diferentemente o trabalho com vocês”.

E assim teve início sua aventura como um empresário da Economia de Comunhão. Ser diretor de uma empresa de EdC significava abandonar seu prestígio e doar parte dos seus lucros.

François enxergou no Brasil novos horizontes para a sua empresa, acima de tudo com um propósito social, e iniciou a Rotogine. E não foram poucos os desafios. Aqui, deu um novo significado ao trabalho, à sua empresa e à própria economia.

Sua biografia “François Neveux: empresário economicamente incorreto” traz em detalhes suas “aventuras” para colocar em prática o Projeto da Economia de Comunhão no Brasil, não obstante os altos impostos, a corrupção, o mercado, etc. E também muitas histórias do pioneirismo da EdC no Brasil. 

A história de um trabalhador incansável, um inventor brilhante e um homem que perseguiu o propósito de incluir os mais vulneráveis no processo produtivo até o fim.

François faleceu em 2006, mas sua história se perpetua nessa brilhante biografia publicada pela Cidade Nova.