Igino Giordani: a história do político em processo de beatificação

Político, escritor, jornalista, pacifista e cristão autêntico, pioneiro no ecumenismo, Giordani também é cofundador, ao lado de Chiara Lubich, dos Focolares, instituição inspiradora da Editora Cidade Nova e com a qual Giordani sempre teve uma profunda relação.

por Cibele Lana   publicado às 00:00 de 16/07/2020, modificado às 10:21 de 16/07/2020

É verdade que Igino Giordani, a não ser entre os membros do Movimento dos Focolares, não é um nome reconhecido no Brasil assim como é na Itália. Político, escritor, jornalista, pacifista e cristão autêntico, pioneiro no ecumenismo, Giordani também é cofundador, ao lado de Chiara Lubich, dos Focolares, instituição inspiradora da Editora Cidade Nova e com a qual Giordani sempre teve uma profunda relação.

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Giordani nasceu em Tívoli, na Itáliam de uma família de origem humilde, sendo o primeiro de seis filhos. Assim que termina os estudos, explode a Primeira Guerra Mundial e Giordani é convocado. E ali já dá um primeiro testemunho: acaba ferido em combate por se recusar a atirar contra o inimigo. Sua fé fala mais alto.

Ao retornar da Guerra, continua a estudar e logo se forma em Letras e Filosofia, pouco antes de se casar com Mya, amada esposa com a qual teve quatro filhos.

Encorajador da coerência, do diálogo e da paz, Giordani encontra na política um caminho para o serviço, para a caridade e para a convivência fraterna. É um dos primeiros a aderir ao Partido Popular Italiano, de forte oposição as fascismo e das ideologias de seu tempo.

Em 1946, já deputado, se faz a pergunta “pode um político ser santo?”. Na mesma época, também era diretor do jornal do partido “Il Popolo”, mas mais uma vez para testemunhar sua autenticidades cristã e não ceder aos jogos de poder acaba por se demitir. Entende a atitude como uma “provação” para se santificar.

A escolha pela paz permeia toda a vida de Giodani, no campo pessoal e profissional.

A sua ideia de paz brota diretamente da lei da caridade, da exigência de solidariedade, junto com as instâncias racionais, sociais e econômicas. Costumava dizer que a guerra é um homicídio (mata o homem, contra o Quinto Mandamento), um deicídio em efígie (suprime no homem a criatura e a imagem de Deus), e um suicídio, porque a humanidade é, especialmente hoje, um organismo único, que se autodestrói ferindo-se nos conflitos.

A sua ideia de democracia parte do conteúdo ético da relação entre os homens, portanto o reconhecimento da dignidade de cada um e do valor de cada um na determinação do bem comum. Em tal sentido, o seu espírito democrático tem raízes na inspiração cristã. Em alguns célebres livros, como Desumanismo [Disumanesimo] (1941), Pioneiros cristãos da democracia [Pionieri cristiani della democrazia] (1950) e As duas cidades [Le due città] (1961), põe em relevo a política como a organização mais elevada do amor cristão. Não só. Bem consciente de que a política é um campo, mais do que os outros, exposta “à corrupção, à mentira, à ambição” – escreve até mesmo que “o poder sataniza” (1962). Lança esta mensagem, hoje mais do que nunca atual: se todos temos necessidade de santidade, “os estadistas, os legisladores, os administradores da coisa pública precisam de uma ração dupla dela” (1962).

O encontro com Chiara Lubich – 1948 é o ano decisivo para a sua vida: tem 54 anos, é um homem reconhecido no campo político e cultural e encontra Chiara Lubich, na época com vinte e oito anos, na qual reconhece um carisma extraordinário. Giodani adere plenamente ao Movimento dos Focolares e ao lado de Chiara desempenha um papel importante para o Movimento e o aprofundamento espiritual da doutrina, a ponto de ser várias vezes designado por Chiara como cofundador.

Em 16 de julho de 1949 vive um momento especial com Chiara Lubich, o pacto de Unidade. Giordani expressa o desejo de fazer um voto de obediência a Chiara, mas ela propôs a ele um voto mais profundo, a Jesus Eucaristia, para que fosse Ele a uní-los de acordo com a Sua vontade. Então, diante de Jesus Eucaristia disseram “Nós somos nada, Tu és tudo, una-nos como Tu pensas”. E ambos experimentaram o “Paraíso na Terra”, uma verdadeira experiência mística.

Após a saída do Parlamento, que aconteceu em 1953, Giordani deixa a política do Palácio para se dedicar à edificação de uma cultura social e política nova, medida sobre uma dimensão maior: a família humana. O encontro com Chiara determinou na sua vida uma reviravolta. Dirá mais tarde: “Todos os meus estudos, os meus ideais, as próprias vicissitudes da minha vida a mim se apresentaram dirigidos a esta meta… Poderia dizer que antes tinha procurado; agora encontrei”.

É fascinado pelo radicalismo evangélico da “espiritualidade de comunhão” anunciada e vivida por Chiara. A nova reviravolta na vida de Giordani produz uma mudança tão profunda que – escreve – “causou um choque nos amigos”. A sua veia polêmica se transforma e Giordani adquire uma nova e marcada sensibilidade ao diálogo profundo. O seu empenho, de individual se faz comunitário e será recolhido, com o passar do tempo, por uma multidão de políticos: do pequeno grupo de Parlamentares que se formou nos anos 1950 a quantos em todo o mundo formam o Movimento político pela unidade, fundado por Chiara Lubich em 1996.

Giordani morreu no dia 18 de abril de 1980 e agora está em andamento a causa de beatificação.

Se você se interessou pela história de Igino Giordani, não deixe de conferir "Memórias de um Cristão Ingênuo", de Giordani, publicado pela Cidade Nova. 

*Com informações do site internacional do Movimento dos Focolares