Os pastores do Oriente Antigo costumavam contar as ovelhas ao retornarem da pastagem e, caso alguma estivesse faltando, estavam prontos para sair à procura. Eles enfrentavam até mesmo o deserto e a escuridão, decididos a encontrar as ovelhas que se tivessem perdido.
Esta parábola é uma história de perda e encontro que coloca em evidência o amor do pastor. Ele percebe que falta uma ovelha, sai à procura dela e a encontra. Depois a carrega nos ombros, pois ela está enfraquecida e assustada, talvez ferida e não é capaz de seguir o pastor sozinha. É ele quem a traz de volta em segurança. E, ao final, com grande alegria, convida seus vizinhos para festejarem juntos.
“Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!”
Os temas recorrentes nessa história podem ser resumidos em três ações: perder-se, encontrar, comemorar.
Perder-se. A boa notícia é que o Senhor vai à procura de quem se desencaminha. Muitas vezes, nos perdemos nos vários desertos que nos cercam, ou nos quais somos forçados a viver, ou nos quais nos refugiamos: os desertos do abandono, da marginalização, da pobreza, das incompreensões, das discórdias. Também ali o Pastor nos procura. E até mesmo se nós o perdermos de vista, Ele sempre nos encontrará de novo.
Encontrar. Imaginemos a cena da busca ansiosa do pastor no descampado. É uma imagem que impressiona pelo seu poder expressivo. Podemos entender a alegria sentida tanto pelo pastor, quanto pela ovelha. E, para a ovelha, esse encontro traz de volta a sensação de segurança por ter escapado do perigo. “Encontrar” é, portanto, um verdadeiro ato de misericórdia divina.
Comemorar. Ele reúne seus amigos para festejar, porque quer partilhar a sua alegria, como acontece nas outras duas parábolas depois desta, a da moeda perdida e a do pai misericordioso1. Jesus quer nos fazer entender a importância de compartilhar a alegria com todos e nos imuniza contra a tentação de julgar os outros. Todos nós somos pessoas “reencontradas”.
“Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!”
Essa Palavra de Vida é um convite à gratidão pela misericórdia que Deus tem por todos nós pessoalmente. O fato de nos alegrarmos, de festejarmos juntos, nos apresenta uma imagem da unidade, na qual não fazemos oposição entre “justos” e “pecadores”, mas participamos da alegria uns dos outros.
Chiara Lubich comenta: “É um convite a entender o coração de Deus, a acreditar no Seu amor. Levados como somos a calcular e a medir, às vezes acreditamos que também o amor de Deus por nós, a certa altura, poderia se cansar […]. A lógica de Deus não é como a nossa. Deus nos espera sempre: não só, mas lhe damos uma alegria imensa todas as vezes – mesmo que se trate de um número infinito de vezes – que retornamos a Ele2”.
“Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!”
Às vezes, nós mesmos podemos ser esses pastores, esses guardiães uns dos outros que, com amor, vamos em busca daqueles que se distanciaram de nós, da nossa amizade, da nossa comunidade. Que vamos em busca dos marginalizados, dos desorientados, dos míseros que as provações da vida relegaram para as margens da nossa sociedade.
“Alguns alunos só frequentavam as aulas de vez em quando”, conta-nos uma professora. “Nas horas vagas, eu ia ao mercado perto da escola. Era o lugar em que eu esperava encontrá-los, porque tinha ouvido dizer que ali eles faziam uns trabalhos para ganhar alguma coisa. Um dia finalmente os vi, e eles ficaram surpresos por eu ter ido procurá-los pessoalmente. Ficaram impressionados de ver o quanto eles eram importantes para toda a comunidade escolar. Então recomeçaram a frequentar a escola regularmente, o que foi uma verdadeira festa para todos.”
1) Cf. Lc 15,8; 15,11.
2) LUBICH, Chiara. Uma lógica diferente. Palavra de Vida, setembro de 1986.