Uma pesquisa organizada por três universidades italianas relatou recentemente que, naquele país, mais de um milhão de mensagens de ódio foram postadas on-line em um ano. As mensagens mais violentas eram direcionadas sempre contra os estrangeiros, os judeus, mas, sobretudo, contra as mulheres.
Claro que não podemos generalizar, mas cada um de nós já vivenciou na família, no trabalho, no esporte etc., atitudes conflituosas, ofensivas e antagônicas que dividem, comprometendo a convivência social. Além disso, em um nível mais global, existem atualmente 56 conflitos armados no mundo. É o maior número desde a Segunda Guerra Mundial, com uma quantidade altíssima de vítimas civis.
É precisamente nesse contexto que ressoam instigantes, verdadeiras e fortes como nunca, as palavras de Jesus:
“Bem-aventurados os que promovem a paz, pois eles serão chamados filhos de Deus.”
“Cada povo, cada pessoa sente um profundo desejo de paz, de concórdia, de unidade. Mesmo assim, apesar dos esforços e da boa vontade, após milênios de história, continuamos incapazes de manter uma paz estável e duradoura. Jesus veio trazer-nos a paz, uma paz – diz Ele – que não é ‘como a dá o mundo1’, porque não consiste apenas na ausência de guerras, de lutas, de divisões, de traumas. A ‘sua’ paz é também isso, mas é muito mais: é plenitude de vida e de alegria, é salvação integral da pessoa, é liberdade, é justiça e fraternidade no amor entre todos os povos2”.
A Palavra de Vida deste mês é a sétima das Bem-aventuranças encontradas no começo do Sermão da Montanha (Mt 5-7). Jesus, que personifica todas elas, dirige-se aos seus discípulos para instruí-los. Chama atenção o fato de que as oito Bem-aventuranças são formuladas no plural. Daí podemos deduzir que a ênfase não é dada a uma atitude individual ou a virtudes pessoais, mas sim a uma ética coletiva, vivenciada em um grupo.
“Bem-aventurados os que promovem a paz, pois eles serão chamados filhos de Deus.”
Quem são os que promovem a paz? Esta “bem-aventurança é a mais ativa, explicitamente operativa; a expressão verbal é análoga àquela utilizada para a criação no primeiro versículo da Bíblia e indica iniciativa e laboriosidade. O amor, pela sua natureza, é criativo […] e procura a reconciliação custe o que custar. São chamados filhos de Deus aqueles que aprenderam a arte da paz e que a praticam, sabem que não há reconciliação sem o dom da própria vida, e que a paz deve ser procurada sempre e de todas as formas. […] Esta não é uma obra autônoma, fruto das próprias capacidades; é manifestação da graça recebida de Cristo, que é a nossa paz, que nos fez filhos de Deus3”.
“Bem-aventurados os que promovem a paz, pois eles serão chamados filhos de Deus.”
Como, então, podemos viver esta Palavra? Primeiro, irradiando o amor verdadeiro por toda parte. Depois, intervindo quando a paz estiver ameaçada ao nosso redor. Às vezes basta escutar com amor, até o fim, as partes em conflito para vislumbrarmos uma solução.
Mais ainda: não desistiremos enquanto não se restabelecerem relacionamentos que, muitas vezes, se romperam por motivos fúteis. Quem sabe, poderíamos fazer surgir, dentro da nossa organização, associação ou paróquia, alguma iniciativa específica para desenvolver uma maior consciência da necessidade da paz. No mundo inteiro existem incontáveis iniciativas, grandes e pequenas, com essa orientação. Por exemplo: caminhadas, shows, conferências; também o trabalho voluntário desencadeia uma corrente de generosidade que constrói a paz.
Há também programas de educação para a paz, como o Living Peace4. Até o momento, mais de 2.600 escolas e grupos aderiram a esse projeto, e mais de dois milhões de crianças, além de jovens e adultos, estão envolvidos nessas iniciativas, nos cinco continentes. Entre elas, o lançamento do Dado da Paz – que se inspira no Dado da Arte de Amar, de Chiara Lubich5 – cujas faces trazem frases que ajudam a construir relacionamentos de paz. E ainda, a iniciativa do Time Out, atuada por pessoas do mundo inteiro: todos os dias, ao meio-dia, faz-se um momento de silêncio, de reflexão ou de oração pela paz.
Organizado por Augusto Parody Reyes com a comissão da Palavra de Vida
1) Cf. Jo 14,27.
2) LUBICH, Chiara. A paz que é fraternidade. Palavra de Vida, janeiro de 2004.
3) Papa Francisco,
Audiência Geral.
Catequese sobre as
Bem-aventuranças.
15 de abril de 2020.
4) LIVING Peace International. 2016. Disponível em: http://livingpeaceinternational.org/br/. Acesso em:
8 set. 2025.
5) LUBICH, Chiara. A arte de amar. São Paulo: Cidade Nova, 2006.