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Regulação da venda de alimento industrializado pode diminuir a obesidade

Estimativas da Organização Pan-Americana da Saúde apontam que, em uma década, o consumo de ultraprocessados aumentou 30% por pessoa em países latino-americanos

por Isabela Vieira - Agência Brasil   publicado às 10:50 de 30/05/2016, modificado às 10:53 de 30/05/2016

Um acordo internacional para restringir a venda de alimentos ultraprocessados pode ajudar a combater a obesidade e a hipertensão – associadas a problemas graves de saúde. A avaliação é de especialistas que se reuniram na Conferência Mundial de Promoção da Saúde, na semana passada, em Curitiba. Inspirada nos marcos legais que impuseram restrições à venda de tabaco e de bebidas alcoólicas, uma convenção poderia colocar limites à publicidade – principal responsável pelo aumento do consumo produtos na América Latina, de acordo com os cientistas.

A publicidade de alimentos ultraprocessados é a principal responsável pelo aumento do consumo desses produtos na América Latina, alertam especialistas. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Os alimentos ultraprocessados são aqueles industrializados prontos ou quase prontos para comer, como pizzas, lasanhas, salgadinhos, biscoitos recheados, macarrão instantâneo, nuggets (frango empanado), embutidos e refrigerantes. Para que não estraguem e tenham boa aparência, passam por procedimentos que retiram nutrientes naturais e alteram a composição.

Uma das estratégias para diminuir a procura desses itens deve ser a restrição da publicidade, defende a coordenadora do Núcleo de Alimentação e Nutrição Escola da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Inês Rugani. Ela explica que as empresas concentram investimentos em marketing, para convencer as pessoas, principalmente as crianças, a consumir. Outro desafio, acrescenta, é incluir avisos de advertência na parte da frente dos rótulos, como ocorre com o cigarro.

“A parte da frente do rótulo é tida pelas empresas apenas como um espaço de comunicação com o cliente, para peças de publicidade, que ora confundem ora trazem mensagens enganosas. No caso de produtos infantis, bonequinhos, essas coisas encorajam o consumo”, alertou.

Segundo ela, na Inglaterra, pesquisas provam que as crianças chegam a afirmar que o sabor dos alimentos muda conforme o rótulo. Aqueles associados às grandes redes têm a preferência. “Quando você tem o Shrek em algum produto infantil, se o seu filho viu o filme do Shrek, ele quer aquele, mesmo sendo igual ao que não tem. E prova [o alimento] e acha mais gostoso porque o Shrek está ali na frente”, acrescentou Inês, ao relacionar os ultraprocessados à crescente obesidade infantil no país.

Lobby da indústria
A pesquisadora Ana Paula Bortolettto, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), acrescenta que um marco internacional é instrumento com capacidade de ajudar os países a terem mais força diante do lobby da indústria de alimentos. Ela conta que empresas recorrem à Justiça e a organizações internacionais para evitar qualquer forma de regulamentação.

“Hoje, empresas têm mais poder que os países, impondo dificuldades para a implementação de políticas públicas que tenham como objetivo prevenir a obesidade e melhorar a alimentação”, disse ela, que também integra a Coalizão Latino-Americana Saudável.

Segundo Ana Paula, a coalização conversa com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e organizações da sociedade para discutir se a convenção pode se limitar à América Latina.

Como o consumo desses produtos chegou ao limite nos países mais ricos, as empresas se voltam para o Hemisfério Sul, com estratégias agressivas, como a publicidade e o lobby, disse o assessor de Nutrição e Atividades Físicas da Opas Fábio Gomes. Ele confirmou que vários países do bloco discutem os benefícios de um marco legal internacional e denunciam a interferência da indústria de alimentos nas políticas públicas.

Obesidade
Estimativas da Opas apontam que, em uma década, o consumo de ultraprocessados aumentou 30%, por pessoa, em países latino-americanos, enquanto cai na América do Norte.

A obesidade alcança 8,4% dos jovens brasileiros entre 12 e 17 anos. Além disso, 17% deles estão acima do peso ideal, segundo o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), do Ministério da Saúde. O levantamento também mostra que um em cada cinco adolescentes hipertensos, cerca de 200 mil, poderia não ter esse problema caso não fosse obeso. O levantamento foi feito de 2013 para 2014, com base em entrevistas a 85 mil adolescentes de escolas públicas e privadas de 124 municípios acima de 100 mil habitantes.

Indústria
Procurada pela Agência Brasil, Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) informou que trabalha com o governo para “desenvolver iniciativas focadas na saudabilidade e no bem-estar da população”. Cita a participação no Plano Nacional de Vida Saudável, documento que orienta a população a não consumir ultraprocessados e que faz críticas à publicidade dos produtos.

“É preciso implantar programas educativos para que os consumidores possam escolher os alimentos e compreendam a importância de aliar nutrição equilibrada e prática de atividades físicas”, acrescenta a nota.

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