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Mais da metade da população da Somália precisa de ajuda humanitária urgente

A longa seca e a pobreza extrema tornam iminente uma nova crise de fome, como a ocorrida em 2011, quando morreram 250 mil pessoas

por Jèssica Martorell – Agência EFE   publicado às 10:13 de 30/03/2017, modificado às 10:13 de 30/03/2017

Pela primeira vez em seus 70 anos, Hassan Samanthar teve que deixar para trás sua família para percorrer mais de 600 quilômetros com suas cabras em busca de água e pasto. Mas a esperada chuva não chega à Somália, onde os animais já começaram a morrer e a população está à beira de uma crise de fome.

Um homem conduz seu rebanho de ovelhas – o único sustento de sua família – em busca de água para os animais, na cidade de Bandarbeyla, na Somália. Foto: Dai Kurokawa/EPA/Agência EFE

Ele é um dos muitos somalis que fugiram com seu rebanho em busca de algum pasto em direção a Bandar Beyla, no Nordeste do país, onde, em pleno deserto, o calor não dá trégua e comida e água praticamente não existem.

"Não temos comida nem água", contou fatigado à Agência EFE o senhor que começou há dois meses essa dura travessia, a partir da aldeia de Galkayo, no Centro do país, com um de seus filhos por conta do desespero, ao ver que seus animais, que são o sustento de sua família, começavam a morrer de fome e sede.

Durante a viagem de caminhão, Samanthar perdeu mais de 50 cabras. "Outras morreram logo que chegamos aqui", afirmou o homem enquanto lamentava a aridez que encontrou também nesta região.

A longa seca já causou a morte de muitos animais, cujos corpos se amontoam no solo, o que poderia se transformar em um novo foco de doenças para a população.

Ajuda humanitária

A terra ressecada já começa a rachar como resultado das três temporadas de chuvas muito fracas na Somália, onde 6,2 milhões de pessoas, mais da metade da população, precisa de ajuda humanitária urgente.

Caminhões-pipa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) fornecem água às comunidades mais afetadas na região semiautônoma de Puntland, onde a escassez de água provocou o aumento de seu preço.

Por isso, a população se viu obrigada a recorrer a fontes de água não potável, o que provocou um novo surto de cólera, que já afeta oito mil pessoas em 11 regiões do país, especialmente no Sul.

Mwana Hashi, que carregava seu bebê nas costas, olhava de perto como o caminhão ia enchendo seu pequeno lago artificial com este bem tão valioso e escasso.

"Não temos um lugar permanente para viver. Viajamos em busca de zonas onde as cabras possam pastar", explicou Mwana, que com seu marido e filho sobrevive com a pouca comida que outras famílias lhes dão.

Antes, a família conseguia viver do leite e da carne de suas cabras e ovelhas, mas agora os animais estão tão fracos e doentes que ficou impossível.

Se nenhuma medida for tomada imediatamente para conter esta situação, a Somália sofrerá uma nova crise de fome na segunda metade de 2017, como a ocorrida em 2011, quando morreram 250 mil pessoas.

A FAO apoia há meses as comunidades para diminuir os efeitos da seca com diferentes ações, como a doação de dinheiro para que possam comprar comida e água e a vacinação dos animais.

"É a pior seca que já vi", declarou Muhammad Ali, que também teve que se deslocar com seus animais rumo ao Norte para tentar salvar seu rebanho – o principal sustento econômico de sua família.

"Muitos animais estão doentes. Até os que não estão são difíceis de vender devido à falta de mercado", disse Ali, que perdeu centenas de seus animais nos últimos meses.

Os países do Oriente Médio, que até agora eram os principais importadores de carne da Somália, deixaram de comprá-la por medo de conter doenças contraídas durante a seca.

"Se a chuva não chegar em breve, nenhum animal sobreviverá", alertou o jovem somali, que é esperado por sua esposa e seus seis filhos em Garowe.

Lá, sua família depende exclusivamente das doações de comida. "Não acredito que tenham comida suficiente para comer hoje", afirmou Ali, emocionado e cabisbaixo.

Apesar da situação de desespero que vive a Somália, as organizações internacionais insistem que ainda é possível evitar a morte de centenas de milhares de pessoas. Mas, para conseguir isso, é preciso mobilizar ajuda e atuar de forma urgente.

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