Foto: Alexandre Machado/Flickr, via EBC (Creative Commons)
Um voo comercial da Alemanha ao Rio de Janeiro para ver a final da Copa do Mundo e depois voltar para a Europa gerou o equivalente a um milhão de quilos de dióxido de carbono. Se um único voo de 300 passageiros gerou esta emissão, imaginem o que geraram os deslocamentos terrestres entre as 12 sedes da Copa.
O cálculo já foi feito: o Mundial de 2014 gerará 2,72 milhões de toneladas de CO2, quase o dobro do 1,62 milhão de toneladas do campeonato da África do Sul há quatro anos e três vezes mais do que na Alemanha em 2006. Isto equivale à contaminação gerada por 534 mil veículos em circulação durante um ano, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
As estimativas são da própria FIFA. A entidade aponta que mais de 80% das emissões desta edição foram produto das viagens por terra dos milhões de visitantes por todo o território brasileiro. Tudo isso sem contar a demanda de energia produzida pelos televisores.
Meio ambiente vs espetáculo
Calcula-se que quase quatro milhões de turistas do mundo todo viajaram no último mês, atraídos pela chance de ser parte da história da Copa. O espetáculo da Copa se alimenta disso, mas em termos ecológicos isso representa também quase quatro milhões de pessoas a mais para alimentar, alojar, transportar. Elas também precisam de água e saneamento e produzem lixo, um problema que cresce em todo o mundo.
É uma pegada ecológica importante que podemos ver, sobretudo, concentrada nas grandes cidades latino-americanas. “Embora só a metade da população mundial more em cidades, elas consomem mais de dois terços da produção global de energia e são responsáveis por 70% das emissões de dióxido de carbono”, afirma Xiaomei Tan, especialista em mudança climática do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (FMAM). “Temos que reconhecer o papel chave das cidades para o desenvolvimento sustentável, além dos riscos de não atuar agora”, acrescenta.
Este aviso aponta diretamente para a América Latina, cuja taxa de urbanização é de 80% e abriga 4 das 30 megacidades do mundo. Além disso, depois de uma década de crescimento, cerca de 30% da população já é considerada de classe média e procura oportunidades para desfrutar de seu novo patamar social, o que inclui viagens para o exterior para eventos como a Copa do Mundo.
Pensando em um contexto pessimista, segundo os especialistas, se não agir agora, a América Latina será uma das regiões mais assoladas, caso o pior se torne realidade e a temperatura mundial aumente quatro graus até o final deste século, como previsto.
Para aumentar a capacidade de “resiliência” das cidades, há iniciativas como a de São Paulo, onde alguns ônibus usam baterias de combustível de hidrogênio para se alimentar, em vez de petróleo, para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Isso abre caminho para a produção comercial de meios de transporte que utilizem hidrogênio em vez de diesel.
Outras medidas, de relativamente fácil aplicação e que não requerem grandes investimentos, focam nos padrões de conduta humana. Elas incluem, por exemplo, evitar longos deslocamentos para realizar compras – utilizando a internet ou produtos locais, por exemplo – e o uso de métodos de transporte alternativos como as bicicletas, de acordo com Xiaomei Tan.
Agora, começa a contagem regressiva para outra grande disputa esportiva: os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro.
*Texto original editado pela Cidade Nova.