Estamos em um lugar solitário nos arredores de Betsaida, na Galileia. Jesus está falando para uma grande multidão sobre o Reino de Deus. O Mestre veio com os apóstolos para que pudessem descansar, depois da longa missão que haviam realizado naquela região, durante a qual pregaram a conversão, “anunciando a Boa Nova e fazendo curas por toda parte1”. Cansados, mas felizes, eles contavam o que tinham vivenciado.
Mas o povo ficou sabendo disso e foi atrás deles. Jesus acolhe a todos: Ele escuta, fala, cura. A multidão aumenta. A tarde vai chegando e a fome começa a se fazer sentir. Diante disso, os apóstolos ficam preocupados e propõem ao Mestre uma solução lógica e realista: “Despede a multidão, para que possam ir aos povoados e campos vizinhos procurar hospedagem e comida”. Afinal de contas, Jesus já havia feito até demais… Mas Ele responde:
“Vós mesmos, dai-lhes de comer.”
Os apóstolos ficam perplexos. Isso é impraticável: eles só têm cinco pães e dois peixes, e as pessoas são alguns milhares; não é possível encontrar comida para todos na pequena Betsaida e nem teriam o dinheiro suficiente para comprá-la.
Jesus quer lhes dar um ensinamento. Ele se preocupa com as necessidades e os problemas das pessoas e está se empenhando para encontrar uma solução. Faz isso partindo da realidade e valorizando o que eles têm. É verdade, o que têm é pouco, mas Jesus os chama para uma missão: serem instrumentos da misericórdia de Deus que cuida dos seus filhos. O Pai intervém, mas ainda assim “precisa” deles.
Assim também, o milagre “precisa” da nossa iniciativa e da nossa fé; depois, ele fará crescer essa fé ainda mais.
“Vós mesmos, dai-lhes de comer.”
Em seguida, Jesus responde à objeção dos apóstolos assumindo o problema, mas pede que eles façam a própria parte, mesmo que seja pequena. Ele não despreza nada. Não resolve o problema no lugar deles. O milagre acontece, mas requer a participação deles, com tudo o que têm e tudo o que conseguiram recolher, agora colocado à disposição de Jesus para todos. Isso implica algum sacrifício e a confiança Nele.
O Mestre procede de acordo com o que que acontece conosco, para nos ensinar a cuidarmos juntos uns dos outros. Diante das necessidades dos outros, não adianta apresentar desculpas (“não é nossa obrigação”; “não posso fazer nada a respeito”; “eles têm que se virar, como fazemos todos nós…”). Na sociedade que Deus imaginou, são bem-aventurados aqueles que alimentam os famintos, que vestem os pobres, que visitam os necessitados2.
“Vós mesmos, dai-lhes de comer.”
A narração desse episódio evoca a imagem do banquete, descrito no livro de Isaías, que o próprio Deus oferecerá a todos os povos, quando Ele “enxugará as lágrimas de todas as faces3”.
Jesus manda que se sentem em grupos de cinquenta, como nas grandes ocasiões. Sendo Filho, Ele se comporta como o Pai. E isso evidencia sua divindade.
Ele mesmo dará tudo, até o ponto de se tornar alimento para nós na Eucaristia, o novo banquete da partilha.
Diante das muitas necessidades que surgiram durante a pandemia da covid-19, a comunidade dos Focolares de Barcelona, na Espanha, criou, por meio das redes sociais, um grupo que partilha as necessidades e coloca em comum bens e recursos. E é impressionante ver como circulam móveis, alimentos, remédios, eletrodomésticos… Porque “sozinhos podemos fazer pouco”, como eles dizem, “mas juntos podemos fazer muito”. Ainda hoje esse grupo, o Fent família, contribui para que, como nas primeiras comunidades cristãs, ninguém entre eles passe necessidade4.
Organizado por Silvano Malini com a comissão da Palavra de Vida
1) Lc 9,6.
2) Cf. Mt 25,35-40.
3) Is 25,8.
4) Cf. At 4,34.