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"Todos os coreanos são irmãos e irmãos", afirma o papa em última celebração na Coreia

Desde 1953, o Norte e o Sul vivem divididos, desenvolvendo sistemas culturais e sociais absolutamente polares entre si. Da nossa correspondente em Seul

por Maria Chiara Biagioni - Città Nuova   publicado às 15:27 de 19/08/2014, modificado às 15:35 de 19/08/2014

"Todos os coreanos são irmãos e irmãs, membros de uma única família e de um único povo, falam a mesma língua." Antes de partir para Roma e deixar a Coreia, o papa Francesco disse essas palavras ao povo coreano. A homilia da missa pela paz e reconciliação torna-se assim um testamento para esta parte do mundo dividida em duas. O Evangelho do dia é emblemático: a página em que Jesus pede para perdoar "setenta vezes sete". E o perdão é o caminho indicado pelo Papa Francisco aos coreanos para o difícil desafio de reconciliação no país. 

Papa Francisco realiza Missa pela Paz no último dia de sua visita à Coreia do Sul. Foto: Jeon Han/ República da Coreia (18/08/2014)

Que o desafio da reunificação não é nada fácil o demonstra o fato de que a Coreia do Norte lançou três mísseis de curto alcance a partir da costa leste do Mar do Japão apenas 35 minutos antes da chegada de Francisco a Seul. O Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Federico Lombardi, minimizou o ocorrido. Mas a notícia certamente revela como nesta terra é frágil a paz. Desde 1953, o Norte e o Sul vivem divididos, desenvolvendo sistemas culturais e sociais absolutamente polares entre si.

O Papa falou de família. Mas o processo de reconciliação se revela extremamente longo e complexo. Nos últimos anos houve mortes e bombardeios e os corações esfriaram. "Mesmo que se realizasse a unificação das duas Coreias", confidenciou ao papa o presidente dos bispos coreanos, Mons. Peter Kang U-il, "meu coração está em dúvida e me preocupo se seremos capazes de aceitar e abraçar calorosamente as pessoas do Norte, considerando-as como nossos próprios irmãos". 

Por esta razão, deixando Seul, o papa propôs ao povo coreano não percorrer uma via política ou diplomática, mas um caminho interior. "Jesus pede que acreditemos que o perdão é a porta que leva à reconciliação. Em comandando-nos a perdoar nossos irmãos, sem qualquer reserva, ele nos pede para fazer algo totalmente radical, mas também nos dá a graça para fazê-lo. Aquilo que, de uma perspectiva humana, parece ser impossível, intransponível e mesmo, às vezes, repulsivo, Jesus torna possível e frutífero através da infinita potência da sua cruz", disse Francisco.

Empatia é a capacidade de "não nos limitamos a ouvir as palavras que os outros falam, mas de compreender a comunicação não verbal de suas experiências, esperanças e aspirações, suas dificuldades e o que é mais caro para eles", afirmou o papa Francisco

Da Coreia, o papa lançou então uma mensagem muito forte para a Ásia. "Tenho a firme esperança de que os países do seu continente com os quais a Santa Sé ainda não tem relações plenas não hesitarão em iniciar um diálogo para o benefício de todos", afirmou Francisco em clara referência à China e à Coreia do Norte. Singular o fato de que essa mão estendida tenha sido oferecida como uma "esperança" e não uma reivindicação, expressa não em um contexto político, mas falando aos bispos do continente. 

A este continente - com suas histórias e sua vasta extensão de terra - o papa indicou como caminho e vocação a cultura do diálogo. A palavra chave é "empatia". É a capacidade de "não nos limitamos a ouvir as palavras que os outros falam, mas de compreender a comunicação não verbal de suas experiências, esperanças e aspirações, suas dificuldades e o que é mais caro para eles". E, falando de improviso aos bispos da Ásia, acrescentou: "Eu não preciso trazer o outro até mim". "A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração". 

A visita do papa ocorreu em um momento crítico na vida deste país, com um crescimento econômico efervescente, mas também com um clima social sob forte provação devido a tensões políticas e sociais. "Coreia sai da tristeza", foi a manchete de um dos mais importantes periódicos econômicos do país. A televisão nacional "KBS" dedicou horas de transmissão ao vivo à visita do papa.

A Coreia mostrou, nesses últimos dias, estar à altura de seus desafios. Seu povo, sua generosidade, sua história antiga abriram ao papa as portas do continente asiático. Uma terra rica em cultura e tradições. Aqui vive 60% da população mundial. Bergoglio vai voltar em breve, em janeiro, com as viagens ao Sri Lanka e às Filipinas. Um sinal de que o papa que veio da Argentina está gradualmente mudando o eixo da Igreja de Roma para o mundo todo.

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