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Diálogo e reconciliação dão o tom da oração pela paz na Terra Santa

Reunido com os presidentes de Israel e da Autoridade Palestina, o papa Francisco apresenta a dor das vítimas de ambos os lados como um chamado ao fim dos conflitos na região

por Massimo Toschi - Città Nuova   publicado às 11:35 de 10/06/2014, modificado às 11:35 de 10/06/2014

Roma (Itália), 08/06/2014 – O papa Francisco recebeu, neste domingo, os presidentes Shimon Peres, de Israel, e Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, para uma sessão de orações nos Jardins do Vaticano.

No último domingo, o mundo assistiu à oração pela paz na Terra Santa, promovida pelo Papa Francisco, à qual aderiram Shimon Peres, Presidente da República de Israel, e Mahmoud Abbas, Presidente da Autoridade Palestina, além do patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I.  

O pontífice afirmou: “nossos filhos nos pedem para derrubar os muros da inimizade e percorrer a estrada do diálogo e da paz a fim de que triunfem o amor e a amizade. Muitos, demasiados destes filhos caíram vítimas inocentes da guerra e da violência, plantas arrancadas em pleno vigor. É nosso dever fazer com que o seu sacrifício não seja em vão".

Francisco nunca ignorou o grito desses filhos que clamam a Deus e pedem escuta. O evento de domingo não foi apenas um encontro religioso, mas uma oração que se realiza no coração do conflito, com toda a sua dureza, para desarmar os corações de todas e aprender com as vítimas o caminho para a paz.

Já em Lampedusa, mais de um ano atrás, o papa, diante das vítimas da imigração, tinha celebrado a Eucaristia. Na homilia, ele pediu perdão, única palavra capaz de conter e suportar aquela tragédia e aquela vergonha.

Em 7 de setembro do ano passado, Franciso lançou a oração e o jejum pela paz na Síria, ciente da catástrofe que poderia ocorrer em toda a área se um bombardeio começasse, com um imensurável preço de vidas humanas.

Em 25 de maio, em Belém, em sua viagem a Palestina e Israel, o pontífice colocou no centro das atenções o mistério das crianças atingidas pela guerra e pela violência, contemplando o mistério do Menino de Belém. Era uma clara referência às crianças palestinas, feridas no cuidado, na dignidade e no futuro.

Essas crianças foram ouvidas em Roma por Bergolgio, Peres, Abbas e Bartolomeu. Em sua consciência, cada um sabia que, na verdade da oração, eram elas, as vítimas, os verdadeiros mestres da paz. São elas que acompanham os passos de quem realmente deseja ter a coragem de promover a paz.

A oração foi de joelhos, embora celebrada por dois líderes políticos, juntamente com o bispo de Roma e o Patriarca de Constantinopla. As palavras, a música, os silêncios narraram as histórias de crianças palestinas não cuidadas devido à falta de recursos e tecnologias. Narraram os temores das crianças israelenses, atacados por foguetes a partir de Gaza. Narraram a situação dos campos de refugiados, o drama de Gaza.

Por isso foi invocado o Deus da paz, o Deus dos pobres. A oração teve três momentos: a leitura do texto sagrado, o pedido de perdão e a invocação da paz. Todos ouviram, todos pediram perdão, todos invocaram a paz.

O presidente palestino declarou paz e reconciliação. Essas são as palavras que brotam do coração deste líder político idoso que, carregando o peso do sofrimento de seus filhos, se reconhece na forte palavra da reconciliação, para construir uma nova relação com Israel. A verdadeira paz é reconciliação. Todo o resto é tática e astúcia política.

De Gaza a Ramallah, o sofrimento de seu povo é tão grande que o líder aceita o desafio de palavras novas, para dizer coisas novas. E a paz na Terra Santa é a palavra nova por excelência, como o reconhecimento do holocausto, como a não-violência.

O Presidente Peres acolheu esse apelo silencioso das vítimas e, dirigindo-se ao Papa, disse: “Todos nós precisamos da inspiração que acompanha seu caráter e seu caminho. Obrigado. Dois povos – israelenses e palestinos – ainda desejam ardentemente a paz. As lágrimas derramadas pelas mães sobre seus filhos ainda estão gravadas em nossos corações”. Ele conhece a dor das mães israelenses, mas também assume a dor das mães palestinas.

Em conclusão, Peres diz ter sido um homem de guerra e um homem de paz e que, sobretudo, não perdeu a memória da guerra, a memória “das famílias, pais, filhos, que pagaram o preço da guerra”. Quem não esquece as vítimas está sempre em posição de orar e trabalhar pela justiça.

A participação do Patriarca Bartolomeu mostrou que está nascendo um novo ecumenismo pela paz, em que a busca da unidade entre as igrejas tem sua medida no compromisso com a paz no Oriente Médio. As Igrejas cristãs encontraram uma antiga e sempre nova vocação: a vocação à reconciliação e ao perdão com todos. 

A oração também demonstrou uma grande fraternidade entre os protagonistas. Da curta viagem de ônibus ao abraço no início e no fim do encontro, até o plantar juntos a oliveira. Não houve fingimento, não houve prestação de contas, apenas acolhida do outro na sua diversidade.

A força desse encontro foi a verdade da fraternidade, que uniu a história e as vidas de seus protagonistas. Todos invocaram o Deus da paz e dos pobres e todos trouxeram no coração o mistério das vítimas. Foi esse mistério que os uniu.

Junto com a oração, se faz necessário um gesto concreto de fraternidade. Um projeto de fraternidade como medida concreta de colaboração e partilha com o outro. As crianças palestinas pedem urgência. Eles e suas mães esperam uma resposta. Sua dor sem fim quer se tornar uma incansável força de paz.

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