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Situação na Ucrânia se complica

Nas palavras de nosso correspondente em Kiev transparece toda a ansiedade vivida pela população ucraniana diante das provocações russas no leste do país

por Mykhaylo Shevchenko - Città Nuova   publicado às 11:40 de 17/04/2014, modificado às 11:45 de 17/04/2014

Forças pró-Rússia estão realizando ataques contra prédios do governo na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, incluindo delegacias de polícia e serviços de segurança, afirma o Ministro do Interior ucraniano, Arsen Avakov. As forças paramilitares presentes no local estão equipadas com armas russas e usam o mesmo uniforme dos soldados que invadiram a Crimeia.

Em Kiev, manifestantes ucranianos acenam a bandeira do país, enquanto pró-russos do leste cobrem os ombros com a bandeira tricolor da Rússia.

Crise na Ucrânia - Igor Kovalenko/EPA/Lusa

Em Slovyansk, ainda segundo Avakov, algumas torres de comunicações móvel foram destruídas. Anteriormente, em 11 de abril, as forças pró-Rússia, entre as quais, suspeita-se, pode haver militares de Moscou, tinham tomado o controle da delegacia local e de um prédio da agência de segurança interna ucraniana, herança da KGB.

Também em Slovyansk, manifestantes pró-Rússia roubaram pelo menos 400 pistolas Makarov e 20 rifles automáticos. Ao mesmo tempo, os separatistas criaram barreiras e postos de controle. A delegacia de polícia do distrito de Kramatorsk, cidade localizada 96 quilômetros ao norte de Donetsk, com uma população de 200 mil habitantes, também foi palco de intensas atividades separatistas, no final da noite de 12 de abril. Os pró-russos tentaram tomar o edifício, cujo destino permanece incerto.

Em Chervoniy Lyman, uma cidade de 20 mil pessoas na fronteira norte da região de Donetsk, um ataque à delegacia de polícia local foi controlado, sempre segundo o ministro do Interior Arsen Avakov. Os supostos rebeldes pró-Rússia estavam armados com metralhadoras Kalashnikov AK 100, que só são usadas por forças militares russas.

Enquanto isso, uma pesquisa realizada pelo Serviço de Sociologia da Ucrânia, no final de março, indica que, na região de Donetsk, 66% da população quer uma Ucrânia unida. “A ideia de separatismo não nasce de baixo, do povo, mas é difundida de cima”, afirmam os coordenadores do estudo. Em escala nacional , apenas 6% da população são a favor das ideias separatistas. 

No dia 14 de abril, de manhã, começou uma operação policial destinada a neutralizar os grupos que tentam difundir ideias separativas nas cidades do leste, aterrorizando a população com armas fornecidas pelo Serviço Secreto Russo. Segundo o chefe do Serviço Secreto Ucraniano, Valentin Nalyvaychenkoha, as manifestações procuram influenciar as autoridades locais e oligárquicas.

Os problemas entre o Oriente e o Ocidente do país não são novidade: aqueles que hoje visitam cidades do leste e do oeste da Ucrânia , Donetsk e Lviv, por exemplo, sentem inevitavelmente as profundas diferenças entre as duas regiões, como se pertencessem de fato a dois países diferentes, dois mundos diferentes, até mesmo duas civilizações diferentes. No entanto, o paradoxo principal é que ninguém pode dizer onde termina uma parte começa a outra. A Ucrânia foi gradualmente “russificada” por mais de 300 anos. As “duas Ucrânias” coexistem como dois símbolos, duas escolhas para o desenvolvimento futuro: voltar aos tempos da URSS, ou a marchar em direção à Europa.

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