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Ato ecumênico no Dia de Finados lembra mortos e desaparecidos na ditadura

Organizações de direitos humanos, religiosos e movimentos sociais também protestaram contra a tortura e morte sumária pelo Estado, como no caso Amarildo

por Isabela Vieira - Agência Brasil   publicado às 06:00 de 03/11/2014

Organizações de direitos humanos, religiosos e movimentos da sociedade aproveitaram o Dia de Finados, celebrado ontem (2), para lembrar os mortos e desaparecidos do regime militar, entre 1964 e 1985,  além de vítimas de tortura e morte sumária pelo Estado, como o caso Amarildo de Souza. O ajudante de pedreiro foi torturado e morto por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), da Rocinha, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, em 2013.

Ato ecumênico no Dia de Finados lembra mortos e desaparecidos. Foto: Isabela Vireira

A homenagem às vítimas ocorreu com uma celebração ecumênica, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na zona norte da capital fluminense, onde está o monumento pelo Grupo Tortura Nunca Mais em memória a 14 militantes enterrados ali. No local, durante o regime, havia uma vala onde as ossadas dos ativistas foram enterradas, misturadas com os restos mortais de 2 mil indigentes, de acordo com a presidente do grupo, Victória Grabois, que teve acesso a documentos oficiais.

Segundo ela, o ato também cobra a abertura dos arquivos da ditadura para que sejam revelados os paradeiros de todos os mortos e desaparecidos, cerca de 500 pessoas. “Tudo o que temos até hoje são informações pontuais. Levamos anos para saber [do paradeiro] de um, mais não sei quantos anos para saber de outro”, disse. “O Estado precisa ter a coragem de abrir os arquivos, para que saibamos o que aconteceu e interrompamos esse ciclo de  violência,  consequência da ditadura, com punição para quem matou torturou e ocultou cadáver”, completou.

Ao cobrar a responsabilização de agentes do Estado envolvidos nos crimes da ditadura militar, as organizações de direitos humanos apostam em mudanças nas instituições militares hoje, defende a pedagoga Fátima Silva, do Movimento Candelária Nunca Mais – criado em referência aos oito jovens mortos por policiais militares nas proximidades da Igreja da Candelária, no Rio, em 1993.

“Percebemos que a violência, a falta de políticas públicas para as crianças e os adolescentes, o preconceito social e o racismo, resultam em várias mortes, sobretudo de jovens negros de favelas”, disse Fátima, que, durante a cerimônia, citou mais de dez chacinas no estado do Rio.

No ato ecumênico, parentes de jovens mortos por PMs também cobraram ações para conter a violência do Estado. Mãe do adolescente Johnata de Oliveira de Lima, de 19 anos, baleado em maio, em Manguinhos, na zona norte, Ana Paula Gomes de Oliveira criticou a truculência dos agentes e a banalização de mortes sumárias dentro das comunidades pobres.

Ana Paula também afirmou haver uma estratégia "perversa" de desqualificação das vítimas pela Polícia Militar, que tenta associar os jovens ao tráfico de drogas. “A imprensa deveria ter o cuidado de não reproduzir a versão da polícia sem o conhecimento dos fatos. No caso do meu filho, foi alegado vítima em confronto, mas um exame de [resíduo de] pólvora diria que Johnata não portava nenhuma arma. Tinha ido deixar a namorada em casa”, desabafou.

Os acusados pelas mortes de Amarildo e Johnata estão sendo julgados pelo Tribunal de Justiça Estado do Rio de Janeiro. A Justiça já condenou os envolvidos na chacina da Candelária e colocou um dos sobreviventes em programa de proteção às testemunhas, fora do país.

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