Foto: Edson Cláudio Gavazzoni
O Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone, em Cascavel (PR), vem apostando em uma metodologia diferenciada para aprimorar a aprendizagem: a educomunicação. A ideia foi do professor de História Edson Cláudio Gavazzoni, que vê na proposta uma alternativa para aliar o conteúdo pedagógico a ações práticas.
Há dez anos na escola, o professor se reúne com um grupo de 20 alunos em horário de contraturno para organizar a programação da Web Rádio Gira Mundo. Os alunos também abastecem um site, redes sociais e elaboram as matérias da TV Web, que teve início ano passado. Os equipamentos foram comprados com a venda de lixo eletrônico e com a ajuda da Associação de Senhoras Rotarianas de Cascavel.
Gavazzoni diz ser gratificante poder despertar no estudante o interesse por conhecer novos caminhos. Um exemplo é o do aluno João Vanzin, que edita os conteúdos que serão veiculados. O desempenho dele é tão bom, que João já editou uma vinheta para um programa de rádio na internet. “Antes ele não fazia nada quando chegava da escola. Hoje se dedica à edição dos conteúdos da rádio”, comentou Sônia Chiodi, mãe de João.
Juraci De Toni, mãe do aluno Lucas De Toni, que cursa o último ano do ensino médio, afirmou que as atividades propiciaram autonomia e entrosamento do filho com outros estudantes. Lucas, que é autista, é o locutor oficial da rádio e pensa seguir essa profissão.
“Acredito no poder transformador da educação e no potencial das pessoas. Temos de tornar a educação prioridade e realizar atividades diferenciadas com os alunos para que eles possam sair do quadrado, do caixote que a educação tradicional os coloca”, afirmou o professor.
Informática solidária
Foto: Edson Cláudio Gavazzoni
Outro projeto desenvolvido por Gavazzoni na escola é a informática solidária. Alunos do curso técnico de Informática transformam o lixo eletrônico doado pela comunidade em recurso didático. O diferencial deste projeto é que, além de aplicarem na prática o que aprendem na teoria, os alunos levam para casa os computadores restaurados.
Para o professor de Informática Geziel dos Santos, a aquisição do computador favorece um melhor desempenho dos alunos nas aulas, pois podem aprimorar em casa o que foi ensinado na escola. Opinião compartilhada pela professora Daniele Gomes, que acredita ser a ação essencial para a inclusão do aluno no processo de aprendizagem, principalmente do curso de Informática. “Muitos alunos não têm condições de ter um computador e eles precisam digitar os trabalhos, colocar nas normas. É um incentivo para o aluno não desistir do curso”, comentou a professora.
O projeto, que serviu de modelo para outras escolas, ajuda o aluno a se preparar para o mercado de trabalho ao manusear diferentes modelos de computadores. A proposta também desperta o interesse pelo voluntariado e por ações colaborativas ao envolver os participantes na restauração e doação dos equipamentos, além de ser sustentável e contribuir para a preservação ambiental com o reaproveitamento de materiais descartados.
Para a diretora auxiliar Jussara Henn, a recuperação dos equipamentos é uma excelente opção de reutilização do que foi jogado fora e uma forma de contribuir para preservar o meio ambiente. Jussara também apontou a iniciativa como valorização do meio em que se vive. “O lixo pode virar luxo. Isso é maravilhoso”. O que não pode ser reaproveitado é encaminhado a uma empresa parceira da escola, que dá o destino correto ao lixo eletrônico.
No colégio também foi criado o Museu do Computador de Cascavel, com peças doadas por uma empresa da região e com as que não foram reaproveitadas. São monitores, mouses, teclados, impressoras, disquetes, placas de vídeo, peças que remetem ao começo da era da informatização e servem como fonte pedagógica para o estudo histórico.
Segundo o professor, já foram coletadas mais de 200 toneladas de lixo eletrônico e feitas parcerias com várias empresas. O projeto assistiu também o Colégio Estadual do Campo Zumbi dos Palmares com 12 computadores remanufaturados. “Como não havia mesas e bancadas, os alunos ajudaram a construir os móveis, pintamos a sala e instalamos energia em seis salas de aula. Na época, era uma escola itinerante e não tinha iluminação nas salas. Pudemos cumprir nossa missão educacional, ambiental e de responsabilidade social”, explicou Edson, que avalia que o maior legado do projeto é a formação dos indivíduos.
*Texto original editado pela Cidade Nova