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ONGs realizam 26% dos resgates no Mediterrâneo, diz ACNUR

Conheça a história de Yasmine, uma senegalesa de 26 anos que foi resgatada grávida ao tentar atravessar o oceano rumo à Europa

por ONU Brasil   publicado às 10:29 de 07/02/2017, modificado às 10:30 de 07/02/2017

Era uma manhã calma a bordo do navio de resgate Phoenix, na costa da Líbia. O sol tinha despontado e peixes-voadores acompanhavam o barco, que patrulhava as águas internacionais do Mar Mediterrâneo. As ondas de dois metros indicavam que poucos barcos desafiariam as condições marítimas. Para a tripulação, a probabilidade de uma operação de resgate era baixa.

Desde 2014, a ONG Migrant Offshore Aid Station (MOAS) salvou cerca de 33 mil pessoas no mar Mediterrâneo. Foto: ACNUR/Giuseppe Carotenuto

De repente, um bote é avistado e entra em ação a equipe da Migrant Offshore Aid Station (MOAS), a primeira organização não governamental a realizar buscas e salvamentos no Mediterrâneo Central. A oscilação do mar, com ondas razoavelmente perigosas, torna difícil ver as embarcações pequenas, como os botes, na água.

“Eles tiveram muita, muita sorte por terem sido vistos”, explica Gonzalez, o capitão, à Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). O barco transportava 146 pessoas. Em poucos minutos, elas estavam sendo retiradas de lá. Em grupos de 25, os migrantes e refugiados entravam no Phoenix, retiravam os coletes salva-vidas e passavam por verificações médicas e de identidade. Em duas horas, todos estavam em segurança a bordo do navio da ONG.

“Essa foi fácil”, comentou um membro da tripulação. “Ninguém se machucou, ninguém morreu, nenhuma criança faleceu. Foi fácil.”

Atualmente, 26% das operações de resgate no Mediterrâneo são realizadas por ONGs, a maioria pelos dois navios da MOAS, o Phoenix e o Topaz. Desde 2014, a organização já salvou cerca de 33 mil pessoas. Sua tripulação é composta por profissionais com décadas de experiência nas forças armadas maltesas e norte-americanas, na marinha italiana e também em empresas privadas.

Acolhimento para quem viajou pelo deserto e pelo mar

A tripulação do Phoenix distribui cobertores solares, água e biscoitos para aqueles trazidos a bordo. Qualquer pessoa se sentindo mal é levada para a pequena clínica e atendida por uma equipe da Cruz Vermelha composta por um médico e duas enfermeiras.

Entre os resgatados, estava Yasmine, uma mulher grávida de 26 anos do Senegal. Ela também trazia consigo sua filha já nascida, Khaija, de dois anos.

As duas já haviam cruzado fronteiras antes de se arriscar pelo Mediterrâneo. Mãe e filha saíram de seu país de origem e foram até a Líbia, acompanhadas do marido de Yasmine e pai de Khaija. Da costa líbia, o trio tentou atravessar duas vezes o oceano rumo à Europa. Sem sucesso.Em uma das ocasiões, a família foi interceptada por contrabandistas que roubaram os poucos pertences que tinham e os levaram de volta à praia. Na segunda vez, eles pagaram a traficantes que sumiram e não cumpriram o acordo negociado. “Tenho medo de atravessar o deserto novamente”, confessa Yasmine. Então, elas tentaram pela terceira vez.

Como o casal só tinha dinheiro suficiente — 600 dinares da Líbia — para pagar pela travessia de Yasmine e Khaija, o marido ficou para trás. Segundo Yasmine, seu esposo considera agora a possibilidade de retornar ao Senegal e tentar uma rota diferente.

Em 2016, mais de 5 mil pessoas morreram no Mediterrâneo. Khaija e Yasmine tiveram a sorte de terem sido vistas pelo MOAS e levadas para um lugar seguro.

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