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Agir de forma efetiva com manejo adequado pode salvar vidas!

A Carência de diálogos e encontros pessoais, e “luto mal vivido”, acenderam o alerta para a necessidade de tratar a temática do suicídio nos 12 meses do ano. Mas, para isso, é preciso atenção

por Teresa Breda   publicado às 00:00 de 17/09/2021, modificado às 17:30 de 20/09/2021

Uma simples publicação nas redes sociais com um fundo amarelo em setembro já é o bastante para sabermos do que o post se trata. Desde 2015, a correlação do mês à cor significa debater sobre a prevenção ao suicídio; um tema tão significativo e necessário, mas que poucas pessoas sabem como agir. Por isso, desde o ano passado, foi aceso o alerta para que o tema seja tratado não somente em setembro, mas sim o ano inteiro.

“Estou aberto para conversar no chat”; “se você precisa desabafar, manda um direct”. Se você é assíduo no Instagram ou Facebook, com certeza, se deparou na primeira semana deste mês com posts como esses. De fato, a carência de diálogos e de encontros pessoais proporcionou um aumento exponencial de doenças mentais, como ansiedade e depressão, ao longo da recente década, além de tentativas e cometimentos do ato de suicídio. É o que nos afirma João Bezerra, psicólogo especialista em suicidologia (prevenção do ato e posvenção, cuidados prestados aos sobreviventes enlutados por um suicídio).

“Nós fomos feitos para ter relações sociais e afetivas e, com a pandemia, vimos como a falta do contato, do aperto de mão e do diálogo olho no olho impactaram a vida do ser humano. Essa situação foi e é perigritante em todas as faixas etárias no Brasil e com reflexo na saúde mental em âmbito mundial. Além disso, foram muitas as pessoas que perderam seus entes queridos pelo coronavírus e não tiveram o processo do luto normal, a despedida por completo. Então, este luto está mal vivido e essas questões de não despedida vão surgir, cedo ou tarde”, enfatiza. 

Para evitar que a dor se desenvolva para quadros de ansiedade patológica ou depressão, é necessário observar aquele amigo, parente ou colega de trabalho que apresenta falas de desesperança e desespero extremo, mudanças de humor bruscas ou fortes alterações de personalidade. “Acolha essa pessoa e a conduza para um acompanhamento psicológico e psiquiátrico; ajude-a a fortalecer suas redes de apoio, como família e amigos e a motive a procurar ambientes saudáveis. Agir de forma efetiva com manejo adequado pode salvar vidas”. 
 

O que falar nas redes?

João Bezerra explica que apesar de simbolizar a empatia no meio online, diante de tanto ódio e cyberbullying, querer tratar sobre o tema nos perfis particulares ou profissionais requer estudo, experiência, especialização e formação consistente no assunto - o que poucas pessoas têm e, às vezes, agindo, desse modo, de forma despreparada. Por isso, ele orienta como podemos agir nas mídias de forma saudável:

1) Disponibilize informações corretas: 

É muito relevante observar as orientações da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídio e observar o manual para a comunicação da forma correta de como tratar a temática nas mídias sociais.

2) Evite postar ou repostar fotos, cartas, vídeos, métodos e formas de tentar ou cometer o suicídio.

Tais conteúdos podem servir de gatilho e incentivo para quem está em crise e vazio existencial com risco de suicídio. Bezerra enfatiza que é proibido, pela Lei Nº 13.968, incentivar ou expor um outro ser humano ao risco de suicídio.

3) Maximize hábitos saudáveis - mas de forma equilibrada! 

Neste caso, saudável significa atitudes que fazem bem ao seu corpo, mental e fisicamente. Entre eles, o cuidado com a saúde emocional a partir de acompanhamento psicológico e a prática de atividade física, que ajuda na produção de hormônios os quais, como a serotonina, dão a sensação de felicidade e alegria em viver. Além disso, atitudes simples como inserir na rotina uma alimentação saudável e tomar sol diariamente ajudam na produção da vitamina D, que favorece o humor e a prevenção contra a depressão. 

Portanto, declarar que está aberto ao diálogo não é o bastante: é imprescindível conhecer o tema e saber que, além do seu apoio, a pessoa a ser ajudada nesses casos requer acompanhamento psicológico e psiquiátrico. 

 

Religião e o impacto no debate

“Depressão ou suicídio não é falta de Deus: é um adoecimento psicofísico, químico, neuroquímico, hormonal, é multifatorial”, ressalta Bezerra. Ao mesmo tempo em que a espiritualidade pode ajudar como fator de proteção e na prevenção ao risco de suicídio, os julgamentos por motivação religiosa podem produzir o efeito contrário. Quem está doente no mundo das emoções, ou seja, na saúde mental, necessita ser acolhido e tratado com atenção. 

“Quando a pessoa tem uma religião, cria-se nela uma ideia de pertencimento, do tipo 'alguém se preocupa e zela por mim’. Essa experiência ajuda nas relações humanas. No entanto, ao acusar doenças mentais como falta de fé, a situação se modifica, prejudica quem está doente. De forma alguma isso deve ser dito. Ao invés disso, exerça a empatia, junte-se a essa pessoa e indique um profissional especializado no assunto”, complementa. 

Portanto, agir de forma efetiva com manejo adequado pode salvar vidas!

Caso precise conversar com alguém, ligue para 188 a qualquer horário do dia. O Centro de Valorização da Vida atende 24 horas por dia em todos os Estados da Federação.

Caso queira marcar um momento com João Bezerra, entre em contato com o número (61) 8145-1566.