Rubem Alves: a saga de um educador dos sentidos

No dia 19 de julho de 2014 concluiu sua peregrinação terrestre na cidade de Campinas, interior de São Paulo, um dos educadores brasileiros mais significativos: Rubem Alves (1933-2014). Nasceu em Boa Esperança, sul de Minas Gerais, mas tornou-se um cidadão do país inteiro.

Fui apresentado ao professor Rubem Alves em 1988, ano em que estava iniciando o Curso de Filosofia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas e, na disciplina Introdução à Filosofia, lemos seu livro “Conversas com quem gosta de ensinar” (Cortez/Autores Associados, 1980). Desde então me tornei um leitor voraz de seus escritos e inúmeras vezes tive a oportunidade de usufruir de momentos extraordinários com ele em palestras, congressos e semanas teológicas.

Ipê amarelo - Foto: Fernando Verçosa/Flickr

A educação como construção de sentido é a síntese de suas ideias pedagógicas. Ideias, entrementes, exageradas e inacreditáveis, que se tornaram provocadoras e educadoras dos sentidos. Rubem Alves coloca a ética e a...

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O mundo é uma escola e cada experiência é uma lição

Foto: kmb43xgame/sxc.hu

Um convite a pensar nosso modo-de-ser-e-estar-no-mundo é o objetivo dessa reflexão. Domingo, 22 de junho de 2014, depois de passar a manhã inteira com meus filhos, Leonardo e Beatriz, andando por trilhas no campus da Universidade Federal de Lavras, voltamos para casa para preparar o almoço, afinal, era preciso repor as calorias gastas nas aventuras e no peregrinar entre flores, formigas, pássaros e borboletas.

Após o almoço, como hábito de sempre, fui ler as notícias (Folha de S. Paulo, Caderno Cotidiano, 22/06/2014) e me deparei com uma manchete que me provocou espanto: “sobe número de salas de aula em hospitais do país”.

Li atentamente, toda a matéria para entender do que se tratava e fui observando a opinião dos especialistas – psicólogos, professores, pais e, por suposto, médicos – assegurando que o “objetivo é que o aluno não fique defasado ao ter alta” e, também, explicando a dinâmica das “classes hospitalares”.

“Funciona assim: após a chegada de uma nova...

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Vamos para casa, eu te amo

Na semana passada, precisamente no dia 12 de junho, em meio a de tantas notícias – abertura dos jogos Copa do Mundo, eleições presidenciais, falta d’água no sudeste, excesso de água no norte, manifestações, black blocs, vandalismos, destruições de equipamentos públicos, conflitos entre sunitas e xiitas no Iraque, etc. – nos telejornais um fato chamou muito atenção: o diálogo de um pai e de um filho.

Tal fato ocorreu durante uma manifestação na zona leste de São Paulo. A cena dramática mostra um pai que luta desesperado para tirar seu filho – menor de idade, dos protestos violentos liderados pelos black blocs, promovendo atos de vandalismo e confrontação com a Polícia Militar.

As imagens e o diálogo, registrados por jornalistas do mundo inteiro,  mostram de um lado o pai, tentando convencer o jovem a voltar para casa. Do outro o filho, que dizia ter direito de protestar por melhores condições de saúde e educação. Eis alguns fragmentos do diálogo:

- “Deixa eu protestar – dizia o...

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Diversidade, unidade e formação cultural

O objetivo desta reflexão é defender a seguinte tese: nós, seres humanos, somos todos iguais. Essa é uma tese que parece extemporânea num contexto de mundo que preza pela diversidade de ideias e pela e pluralidade de valores culturais. Mas só parece porque, do ponto de vista psicológico, nossa estrutura de base é constituída da mesma estrutura de desejo; do ponto de vista material somos feitos da mesma matéria e do ponto de vista espiritual, somos formados do mesmo sopro de vida.

Daí a confluência dos temas diversidade, unidade e formação cultural. Por quê? Por que educação é uma prática comum a todos os seres humanos, considerando a profundidade e a amplitude de sua influência na existência dos seres humanos, segundo as crenças, os valores e as circunstâncias sociais e culturais de cada época. Desde o surgimento da humanidade, a educação, é prática fundamental da espécie, distinguindo o modo de ser cultural dos homens do modo de ser natural dos demais seres vivos. Mas, exatamente...

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Tempos da vida

Esta reflexão tem como finalidade lembrar aos pais e aos educadores o que parece óbvio, mas, infelizmente não é: brincar é um direito da criança! Nas brincadeiras, a criança fantasia, sonha, aceita desafios e se desenvolve. Portanto, brincar é coisa séria e não mero passatempo.

Crianças e adolescentes participam de aulas do projeto Arte Consciente, em Salvador. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

O tempo da infância é um tempo essencial que irá influenciar de forma decisiva os outros tempos da vida... Nesse sentido o saber de conteúdo lúdico, envolvendo jogos, brincadeiras, fantasias e faz-de-conta, é fundamental, pois estimula as competências sociais e comportamentais. Nessa fase do desenvolvimento infantil, isso é mais importante do que o saber de conteúdo estruturado, envolvendo conceitos formais.

Na tentativa de acelerar a aprendizagem, pais, educadores e a sociedade têm feito um pacto sinistro que aniquila a infância.

A noção de infância, atualmente, é parte constante do debate e...

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A arte de se tornar criança

No dia 11 de setembro de 2011, num domingo de sol, cheguei à cidade de Lavras, situada no sul de Minas Gerais, para iniciar minhas atividades acadêmicas. Logo fui convidado para fazer uma fala no Fórum Sul Mineiro de Educação Infantil (projeto de extensão que procura mobilizar e articular os municípios do sul de Minas Gerais em prol dos direitos da criança), que naquele mês se realizou na cidade de Guaxupé. Foi paixão à primeira vista!

"Toda criança tem o olhar dos poetas – olha uma coisa, vê outra. Toda criança tem o olhar dos filósofos – desnaturaliza o óbvio". Na foto, Garota refugiada Síria olha através da janela de escola no norte da Jordânia. Foto: NHCR/ (18/09/2013)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Desde então, tenho participado, rigorosamente, todos os meses, do Fórum, que acontece em vários municípios do sul de Minas. A cada evento, uma experiência, uma novidade, uma alegria.

A partir desse contato, fui redescobrindo a criança em mim – a criança que fui e a criança que sou. A infância é tempo-fonte...

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Sobre

Para além de discursos politicamente corretos, mas destituídos de densidade humana, queremos refletir sobre a Educação, que tem, fundamentalmente, como tarefa primeira, instituir a humanidade de cada um de nós. Que este blog seja um espaço de reflexão que potencialize nossa utopia: humanizar os saberes e educar os afetos.

Autores

Jaqueline de Moraes Fiorelli

Professora de Português do Colégio Santa Clara-SP, doutora em Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP). Autora de artigos e material didático voltado ao ensino de Português, publicado pela editora do Sistema Mackenzie de Ensino (2013).

Vanderlei Barbosa

Professor de Filosofia na Universidade Federal de Lavras. Doutor em Educação na área Filosofia, História e Educação, pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Autor de vários artigos e do livro "Da Ética da Libertação à Ética do Cuidado". São Paulo: Editora Porto de Ideias, 2009.