O terrorista da semana

Al Qaeda é coisa do passado. A moda agora é o Estado Islâmico. Mas até esse está ficando démodé. Na lista de ameaças iminentes aos Estados Unidos e à Europa, Washington inseriu uma nova organização, que até a semana passada era razoavelmente desconhecida. Trata-se desta vez do grupo Khorasan, que atua na Síria e é capitaneado por Muhsin al Fadhli, homem de confiança de ninguém menos que Osama Bin Laden à época do atentado de 11 de Setembro.

Nas palavras de Obama, Khorosan é uma ameaça ainda mais iminente do que o próprio Estado Islâmico, que até a semana passada condensava em si todo o mal que, acreditava-se, poderia existir na humanidade. Mas os rebeldes liderados por Fadhli estariam mais próximos de promover um atentado terrorista nos Estados Unidos ou na Europa, de acordo com informações da inteligência norte-americana.

Essas informações – de confiabilidade contestável, no mínimo – foram suficientes para legitimar o bombardeio de ontem à Síria, no que pode ter sido o início de um longo ciclo de ofensiva militar contra o terrorismo no Oriente Médio. Curioso, dessa vez, é que o grupo nunca tinha sido citado antes por Obama como uma ameaça. Nem por Obama nem em qualquer pronunciamento oficial de membros da Casa Branca até a semana passada. No arco de poucos dias, a organização deixou de ser mais uma célula marginal ligada à Al Qaeda para se tornar a nova coqueluche do terrorismo de inspiração islâmica.

Mas voltemos ao presidente Obama, que começa a contrariar as bandeiras que o fizeram se eleger. A justificativa dada superficialmente à comunidade internacional, já que não contava com o aval da ONU para o bombardeio, foi a da autodefesa. Não pela suposta ameaça que o grupo representa aos EUA, e sim por sua ação no Iraque, a quem se estenderia a interpretação do princípio de autodefesa, já que Bagdá solicitou ajuda americana para se defender. Em outras palavras, Washington passa novamente por cima das instituições para impor sua política. Em 2004, Colin Powell fez o ridículo papel de apresentar um falso relatório em Power Point com a suposta confirmação de armas de destruição em massa no Iraque de Saddam Hussein. A mentira rendeu a Powell a alcunha de Powell Point nos bastidores da organização internacional. Infelizmente a chacota foi o menor dos danos que a mal fadada intervenção provocou. Desta vez, Obama nem se deu a tanto trabalho. Pinçou uma célula terrorista de ocasião e, com meia dúzia de declarações, colocou-a no centro de sua política. Ao menos nessa semana. 



Sobre

As relações entre governos, organizações e demais atores no espaço físico, virtual e conceitual que extrapola as fronteiras de um Estado lança novos desafios para a atuação da fraternidade na política. A ausência de um agente com legitimidade coercitiva expõe o drama, mas também as possibilidades, da relação fraterna entre sujeitos em condição de paridade, responsabilidade mútua e liberdade para cooperar ou não uns com os outros. Neste blog, abordaremos os desdobramentos desse fenômeno.

Autores

Thiago Borges

Repórter da revista Cidade Nova há quase dois anos, é jornalista formado pela faculdade Cásper Líbero. Foi redator da agência internacional de notícias Ansa por três anos e concluiu recentemente uma pós-graduação em Filosofia Política no Instituto Universitário Sophia, em Florença – Itália.