Pesquisadores do Instituto de Química da USP descobriram que a exposição à luz do sol que enxergamos pode ser prejudicial à pele mesmo com o uso de protetores solares. Foto: Marcelo Camargo/ABr (18/09/2012)
No Redoxoma, Baptista coordena um grupo de pesquisadores que realizou experimentos que mostram como a melanina, ao ser estimulada pela luz visível, gera moléculas altamente reativas (compostos) que causam danos ao DNA das células. “Esse resultado tem impacto importante para saúde pública, pois demonstra que a estratégia de passar filtro solar e se expor por longos períodos ao sol pode causar danos irreparáveis na saúde da pele, incluindo o fotoenvelhecimento e possivelmente a formação de tumores”, alerta o cientista.
Ele explica que a irradiação solar tem vários componentes: o que enxergamos (luz visível) e o que não enxergamos é o ultravioleta (UVA e UVB). “Os bons filtros solares encontrados hoje no mercado nos protegem contra radiação solar ultravioleta, mas não contra a radiação visível. É um equívoco considerar que a exposição à luz visível seja segura para a saúde da pele”, adverte.
Melanócitos
Os melanócitos são células localizadas na barreira entre a epiderme e a derme, fundamentais para manter a saúde da pele. Eles produzem a melanina, um pigmento na forma de grânulos responsável pela coloração da pele e pela proteção contra a radiação ultravioleta B (UVB). Na presença de raios UVA e da luz visível, no entanto, a melanina passa a causar danos às células epiteliais.
O mecanismo de fotossensibilização e geração de espécies reativas por radiação UVA, com efeitos como fotoenvelhecimento e desenvolvimento de vários tipos de câncer de pele, já era conhecido.
Agora, os pesquisadores avaliaram a toxicidade da luz visível em melanócitos humanos e de murinos e demonstraram que a presença de melanina aumenta a fototoxicidade da luz visível. Eles também quantificaram a formação de oxigênio singlete, que seria um dos mecanismos pelos quais ocorrem danos às células.
Esse mecanismo, como explica Baptista, envolve uma reação de transferência de energia da melanina excitada por absorção luminosa para o oxigênio, formando o oxigênio singlete, que ataca principalmente a base nitrogenada guanina, formando derivados potencialmente mutagênicos do DNA. Além da formação do oxigênio singlete, os resultados obtidos pelo grupo também indicam a ocorrência de reações diretas da melanina em estado excitado com o DNA.
Difícil questão
Segundo o pesquisador, proteger a pele humana da exposição ao sol é uma questão complexa que envolve aspectos ainda pouco claros da interação entre a luz e o tecido.
“O ideal parece ser a velha receita de se expor ao sol por pouco tempo sem proteção externa, pois nesse caso obtemos os benefícios do sol, por exemplo, ativação da vitamina D, sem sofrermos os riscos que a exposição prolongada oferece, mesmo com utilização dos filtros solares atuais”, afirmou.
O artigo científico completo (em inglês) sobre o assunto pode ser lido neste link.