Saúde / Ciência
  

Cuidador informal sofre com sobrecarga física e emocional

É o que mostra pesquisa realizada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da USP

por Marcela Baggini - EERP/USP   publicado às 11:14 de 06/04/2015, modificado às 11:15 de 06/04/2015
A maior parte dos cuidadores informais de idosos é composta por mulheres e elas sofrem com acúmulo de atividades, como tarefas do lar e a função de cuidar. É o que mostra pesquisa realizada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. O estudo também constatou que quanto maior a sobrecarga do cuidador, maiores são os sintomas de ansiedade e depressão observados.

Cuidador informal sofre com sobrecarga física e emocional. Foto: Carlos Reis/Flickr

As informações fazem parte da tese de doutorado Validação de Questionário de Avaliação da Sobrecarga do Cuidador Informalrealizada pela enfermeira Edilene Araújo Monteiro, com orientação da professora da EERP Rosana Aparecida Spadoti Dantas.

“Podemos perceber, pela literatura científica, que a sociedade atribui à mulher a tarefa de cuidar, reconhecida como função inerente de mãe, esposa e filha. No estudo, comprovamos que 87,1% dos cuidadores eram do sexo feminino, constituídos por filhos e cônjuges”, afirma Edilene.

A pesquisadora entrevistou 132 cuidadores informais entre setembro de 2012 e fevereiro de 2013, nas áreas cadastradas das Equipes de Saúde da Família, no município de João Pessoa, na Paraíba. A idade média dos cuidadores é em torno de 50 anos e o tempo médio dedicado ao cuidado de idosos chega a sete anos.

De acordo com Edilene, 45,4% dos entrevistados relataram acreditar que seu estado de saúde vem piorando devido aos cuidados fornecidos, 57,6% consideram a tarefa psicologicamente difícil e 51,5% sentem-se cansados e esgotados com a função.

Rotina alterada
Outro resultado que chamou a atenção da pesquisadora foram implicações na vida pessoal do cuidador provenientes da tarefa de cuidar, como, por exemplo, situações que afetam a rotina e a sua saúde. “Eles desenvolvem sentimentos negativos, conflitos internos, vontade de fugir da situação vivenciada, ocasionando sobrecarga física, emocional e social”, conta Edilene.

“Entretanto, há a presença de sentimentos positivos decorrentes da relação afetiva entre o cuidador e o familiar e da função de cuidar”, ressalta a pesquisadora.

Para a enfermeira, é importante que os cuidadores tenham conhecimentos sobre a prática de sua função. “Acesso a informações a respeito do agravo da saúde do idoso, como agir em situações de perigo, uso de medicamentos e tantos outros conhecimentos imprescindíveis para a promoção da saúde e manutenção da capacidade funcional deste público.”

Edilene conta que o envelhecimento populacional, atrelado às doenças crônicas e à redução da capacidade funcional do idoso, implica na constante necessidade de algum membro da família assumir a função de cuidador. “Com isso, estudos voltados a essa realidade, conhecendo melhor essas pessoas que exercem essa atividade, tornam-se necessários para melhorar tanto a prática, quanto a qualidade de vida dos cuidadores e dos idosos”.

Adaptação de questionário
Os resultados obtidos na pesquisa foram possíveis através da validação de um instrumento de Portugal para o Brasil. “O Questionário de Avaliação da Sobrecarga do Cuidador Informal (QASCI) que tem como objetivo medir a sobrecarga física, emocional e social dos cuidadores brasileiros”, conta a pesquisadora.

Apesar de o QASCI estar em português, foi necessário fazer adaptação semântica dos conteúdos para atender particularidades culturais do Brasil. “A nova versão do instrumento congrega os critérios de validade e confiabilidade para avaliação da sobrecarga física, emocional e social de cuidadores informais”, explica a pesquisadora.

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