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Desperdício de água em redes de distribuição dá prejuízo de R$ 8 bilhões

É o que revela pesquisa do Instituto Trata Brasil. Apenas nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, 182 bilhões de litros de água foram perdidos em 2015

por ONU News   publicado às 08:53 de 12/06/2017, modificado às 08:53 de 12/06/2017

Em 2015, 182 bilhões de litros de água foram perdidos em vazamentos, fraudes, roubos ou problemas de medição nos 74 municípios banhados pelas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. O número é de um levantamento divulgado na última semana pelo Movimento Menos Perdas, Mais Água – iniciativa criada pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU. O volume desperdiçado seria suficiente para abastecer 2,7 milhões de pessoas.

 

Lançado durante as atividades da Semana do Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o relatório lembra que as bacias dos três cursos fluviais atravessam 74 municípios — cinco em Minas Gerais e 69 em São Paulo. Juntas, essas cidades têm uma população de 5,6 milhões de moradores. A região das bacias PCJ responde por 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

Segundo Alceu Galvão — pesquisador do instituto responsável pela elaboração do estudo, o Trata Brasil — a média das perdas no sistema de distribuição do país, em 2015, foi de 36,7%, de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) do Ministério das Cidades.

O especialista explicou que, acompanhando os indicadores do SNIS nos últimos anos, é possível observar que o Brasil (36,7%), a região Sudeste (32,9%) e o estado de São Paulo (33,5%) têm avançado no combate às perdas de água, já que atingiram em 2015 índices próximos à meta estipulada para 2018. Entretanto, os municípios das bacias PCJ, com média de 37,2%, não acompanharam essa tendência.

Também presente no lançamento da pesquisa, o presidente-executivo do Trata Brasil, Edson Carlos, apresentou um panorama da crise hídrica entre 2012 e 2017, ressaltando que houve um aumento da demanda de água nas cidades e pelo setor agrícola, ao mesmo tempo em que houve uma estagnação do volume das reservas do recurso. Outro problema foi a falta de chuva, especialmente no Nordeste.

“Os números só não são piores porque houve investimentos de infraestrutura em segurança hídrica. No entanto, ainda temos 50% da população brasileira sem coleta de esgoto e 34 milhões de pessoas sem acesso à água tratada, o que gera uma grande pressão sobre recursos hídricos”, alertou.

Para o superintendente de Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), Sérgio Ayrimoraes Soares, é necessário implementar políticas de controle do uso da água. O dirigente lembrou que, para a renovação em maio da outorga do Sistema Cantareira – do qual faz parte a bacia do PCJ –, uma resolução da ANA determinou a redução da média mensal de retirada de água. “Com isso, o uso será reduzido para 56% do sistema”, disse.

Meta nacional

No final de 2013, a Presidência da República do Brasil promulgou o Plano Nacional de Saneamento de Básico (PLANSAB). A estratégia tem como meta a redução da média nacional de perdas nos sistemas de distribuição para 31% até 2033.

Alceu Galvão afirmou que já existem números sobre os volumes e os custos de produção de água que poderão ser economizados pelos municípios a partir da redução dos atuais índices de desperdício. Em um cenário factível, a diminuição dos índices de perdas na distribuição chegaria a 30%.

“O volume a ser economizado seria de 63 milhões de metros cúbicos por ano (63 bilhões de litros), o que representa uma economia anual de 104 milhões de reais”, afirmou.

O estudo da Rede Brasil do Pacto Global aponta ainda que, em todos os cenários traçados, a demanda futura de água nas bacias PCJ tende a ser superior à disponibilidade hídrica até 2035. Na simulação para esse ano, que estima em 25% a redução de perdas em todos os municípios, bem como uma queda da demanda para a irrigação, os números mostram que a demanda total de água estimada para as bacias PCJ superaria em 22% a disponibilidade atual.

Outras medidas

O estudo conclui que, apesar dos volumes de água significativos que poderão ser economizados com programas de redução e controle de perdas, o déficit hídrico estimado pelo Plano de Bacias não será superado apenas com iniciativas desse tipo.

Esses programas devem estar associados ao planejamento e à implementação de outras ações que busquem o aumento da oferta de água — como o crescimento dos índices de tratamento de esgotos dos municípios, a utilização da água de reuso e a redução dos consumos per capita. O levantamento também recomenda a criação de projetos de gestão operacional periódica nos sistemas de abastecimento.

“Precisamos migrar para uma sociedade que consuma menos água e que possamos cumprir o nosso papel de usá-la de forma racional, o que vai ao encontro da segurança hídrica no Brasil. As perdas nos sistemas de distribuição são grandes e contribuem para isso. Portanto, é preciso chegar a um controle de perdas a um nível satisfatório. Trata-se de uma questão complexa, mas precisamos seguir em frente”, afirmou a secretária adjunta de Saneamento e Recursos Hídricos do estado de São Paulo, Mônica Porto.

Acesse o sumário executivo do relatório Perdas de água nos sistemas de distribuição como agravante à vulnerabilidade das bacias hidrográficas – o caso das bacias PCJ” clicando aqui. O documento foi elaborado em parceria com a Reinfra Consultoria.

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