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Vinícius: "Juventude negra precisa de políticas públicas que assegurem perspectivas positivas"

Vítima de racismo, o psicólogo Vinícius Romão ficou 16 dias preso por engano. Ele também aposta na implementação de projetos sociais e educacionais para o combate ao racismo

por Daniel Fassa   publicado às 14:14 de 05/09/2014, modificado às 14:14 de 05/09/2014

As experiências da vida de uma pessoa definem como ela se apresenta para a sociedade. No caso de Vinícius Romão, este fato é evidente: “Vinícius, 27, psicólogo, vítima de discriminação”, diz.

Vinícius Romão, 27 anos, ator, psicólogo e vítima de discriminação. Foto: Arquivo pessoal

Morador do Méier, no Rio de Janeiro, adotou a psicologia como profissão, lado a lado com a arte. No entanto, em fevereiro de 2014, ao voltar do trabalho, foi abordado por um policial que perguntou por uma bolsa. Apresentou seus documentos, disse seu endereço, profissão, mas não bastou. A “certeza” da mulher que havia sido assaltada, a aproximadamente 150 metros dali, foi o suficiente para que ele fosse encaminhado para a delegacia.

Vinícius foi levado para a Central de Flagrante e na sua ficha passou a ser “157” – categoria que define assalto à mão armada –, mesmo sem portar arma ou ter consigo qualquer objeto da vítima. Ele ficou preso 16 dias por engano, sem provas. A família evitou falar com amigos ou conhecidos, com medo da repercussão do fato e de prejudicar o jovem, mas o silêncio provocou a preocupação dos colegas que, ao descobrir o que havia ocorrido, divulgaram nas redes sociais.

“A internet, as mídias sociais foram importantes, porque o caso ficou popular. Fizeram um grupo, e muita gente foi pra rua em solidariedade”, disse Vinícius. O jovem psicólogo considera que sofreu um tipo de violência, reafirmada, principalmente, pela discriminação racial. Para ele, foi difícil, de imediato, identificar este aspecto, por nunca ter vivenciado tal circunstância de fato. “Atrás da cela, ignorado, com certeza fui vítima”.

Depois de ter sido preso injustamente, Vinícius passou a frequentar alguns ciclos de debates sobre a juventude negra e a violência. Na OAB do RJ, encontrou um Departamento de Igualdade Racial, onde conheceu diversas pessoas e casos em que a cor da pele foi o elemento opressor. Para Vinícius Romão, a juventude negra precisa de políticas públicas que assegurem perspectivas positivas sobre seu futuro. A implementação de projetos sociais e educacionais para o combate ao racismo e à discriminação racial, e a melhoria da segurança pública são fatores de mudança.

Essas já são algumas das metas da Estratégia Global do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para os jovens, parte de seu plano estratégico 2014-2017. A estratégia visa criar mecanismos para empoderar, engajar e incluir os jovens, especialmente jovens vulneráveis e marginalizados, como grande parte da juventude negra brasileira.

Um dos dez princípios que guiam a estratégia do PNUD para a juventude foca na necessidade de garantir a participação e a voz dos jovens, reconhecendo-os como agentes de seu próprio desenvolvimento e fortalecendo o engajamento cívico e a participação da juventude na política e nas instituições públicas. Essa é uma das chaves para a integração da juventude negra e o fim da discriminação racial.

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