Pela tradição de família, Matheus Silva seria pescador. Nascido em Boqueirão, no sertão da Paraíba, ele decidiu que iria estudar fora e seguir outro rumo. Aprendeu inglês em um curso gratuito, foi admitido em uma universidade nos Estados Unidos e tratou de conseguir uma bolsa. Hoje, aos 22 anos, cursa economia e engenharia química no WPI (Worcester Polytechnic Institute), ao lado de Boston. Mas quem disse que a essência da profissão do pai e do avô não o acompanhou por lá? Como em uma pesca, ele assumiu a tarefa de reunir e mobilizar universitários brasileiros que estavam nos EUA, onde criou a BRASA (sigla em inglês para Associação Brasileira de Estudantes).
O Alden Memorial é o principal prédio do Worcester Polytechnic Institute, onde estuda Matheus Silva, fundador da BRASA. Foto: Wikipedia
“Eu vim de uma cidade pequena e fui o primeiro da família a fazer faculdade. Tinha poucas referências de pessoas e organizações que pudessem me ajudar”, lembra Matheus. Pensando nas dificuldades que ele e outros estudantes enfrentaram quando decidiram estudar fora, a BRASA tem uma atuação segmentada em três pilares, oferecendo apoio antes, durante e depois da graduação. A ideia é auxiliar e engajar essa comunidade estudantil em ações de impacto direto no Brasil.
Para os que desejam ingressar em uma universidade norte-americana, a organização mantém um blog chamado Brasinhas, que compartilha relatos de brasileiros sobre a vida universitária no exterior. Além disso, oferece mentoria gratuita para os alunos que estão com dúvidas no processo de admissão ou em qual universidade estudar.
Com o público universitário que já está nos Estados Unidos, a organização promove eventos e conferências (BRASATech, BrazUSC, BRASA National Conference, BRASA Politics). “Era muito comum que os estudantes brasileiros de Havard não conhecessem os que estudavam no MIT [uma distância relativamente pequena]”, explica. Agora, em dez meses de atuação, eles já contam com uma rede de mais de 800 alunos e estão em 40 universidades diferentes, incluindo nomes como Stanford, Princeton, Northeastern e Yale. Entre os parceiros, recebem apoio da Ambev, BTG Pactual, Heinz, McKinsey&Company e Fundação Estudar.
Na tentativa de encontrar formas mais efetivas para que esses estudantes pudessem colaborar com o país, a BRASA os ajuda na tarefa de encontrar empregos de férias no Brasil, os famosos “summer jobs”. Os estudantes enviam os seus currículos e a organização faz a mediação com empresas que estão recrutando. Eles também participam de programas de voluntariado, em parceria com a Brazil Foundation, e buscam promover projetos de pesquisa e conexão entre universidades brasileiras e americanas. As oportunidades costumam ser divulgadas por diversos canais, como e-mail, Facebook ou Twitter.
E como fazer para que essa galera não se disperse após o término da graduação e o retorno ao país? Matheus acredita que isso só acontece mantendo o engajamento. Com esse intuito, devem acontecer dois eventos no Brasil ainda este ano, um no Rio de Janeiro e outro em São Paulo. Além disso, a intenção é que os jovens formados continuem conectados com a rede para apoiarem os que ainda estão na universidade.
“Um dos maiores gargalos que o sistema universitário brasileiro enfrenta hoje é a internacionalização”, destaca. De acordo com ele, o número de patentes razoavelmente baixo, a quantidade de artigos publicados em revistas internacionais e os poucos cursos em inglês nas universidades brasileiras são alguns dos fatores responsáveis por esse obstáculo.
No futuro a BRASA planeja expandir a sua atuação para mestrado, MBA e PhD. “Nosso objetivo em longo prazo, em cinco ou seis anos, é nos tornarmos a maior organização estudantil brasileira no exterior”, define Matheus.