Foto: Marcos Santos/USP Imagens/Fotos Públicas
Em um bairro da periferia da zona sul de Porto Alegre, pesquisadores saíram às ruas de terra da Comunidade Chapéu do Sol para realizar um censo com quase cem mulheres. O motivo? Entender o perfil das entrevistadas e levantar dados que ajudariam na constituição de uma cooperativa feminina para produção de azeite de oliva. Daria até para imaginar que a ação foi organizada por uma universidade ou programa de empreendedorismo social. Mas, não. A iniciativa partiu de alunos da Escola Estadual Ensino Fundamental Nehyta Martins Ramos.
Trabalhando com foco na resolução de problemas reais da comunidade, desde 2013 esses alunos vivenciam uma nova experiência. Enquanto no período regular eles assistem a aulas “tradicionais”, com divisão por séries e conteúdos curriculares, no contraturno se misturam com colegas de diversas idades para participar da Escola Convexo, uma ação que incentiva o protagonismo infantil e o surgimento de lideranças a partir de metodologias sustentadas por comunicação, lógica e empreendedorismo.
Apadrinhado pelo educador português José Pacheco, o projeto tem bases na metodologia da Escola da Ponte, além de também trazer referências da John Perry Primary School, em Londres, e a Junior Achievement, uma organização social sem fins lucrativos que desenvolve programas educativos para despertar o espírito empreendedor na escola.
A ideia de criar uma “escola dentro da escola” surgiu do administrador Bruno Bittencourt e a consultora contábil Onília Araújo, que se conheceram em um programa de empreendedorismo da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Após as manifestações de junho de 2013, decidiram que gostariam de fazer algo além de ir para as ruas levantar cartazes. “A gente pensou que a educação era justamente a resposta para grande parte dos problemas sociais que vivenciávamos. A gente sempre tenta achar um culpado pela educação, mas na realidade não existem culpados. Todos precisam participar”, contou Bruno Bittencourt, que é mestrando em inovação, tecnologia e sustentabilidade.
Com um projeto piloto na mão e a vontade de levar a cultura do empreendedorismo para dentro do ambiente escolar, bateram na porta de diversas escolas públicas da cidade até chegarem na Nehyta Martins Ramos, que abraçou a ideia e cedeu espaço na instituição. Em um grupo de dez alunos, no turno inverso passaram a trabalhar com as crianças os conteúdos curriculares com foco metodologia de resolução de problemas. “A gente começou adaptar os conteúdos do ensino fundamental para a lógica do empreendedorismo, pensando que se o aluno souber se comunicar, desenvolver o raciocínio lógico e ter visão empreendedora, independente da área que seguir, ele vai se dar bem.”
Hoje a Convexo trabalha com 50 alunos da escola, com idades entre 7 e 17 anos. Como em uma empresa, eles se dividem em funções de marketing, finanças, recursos humanos, operacional e vendas. Todo o ciclo educacional é composto por quatro movimentos, que são: 1) identificar uma necessidade da comunidade; 2) transformar essa oportunidade em um projeto; 3) pensar em um negócio; 4) transformar em uma empresa. Em cada etapa são trabalhados conteúdos de português e matemática em situações reais, como usar pontuação para redigir um contrato ou aprender estatística com pesquisas de opinião.