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Em jangada, comerciante recolhe lixo de lago há cinco anos

Vizinho do Balneário Água Azul, em Guarulhos (SP), seu Antônio Ferreira de Araújo, de 60 anos, contribui para resgatar a beleza da paisagem local por amor

por EcoDesenvolvimento*   publicado às 08:00 de 26/10/2015

Pela manhã, uma jangada feita de tubos de PVC corta o Lago Azul. O remo de plástico, conduzido pelo comerciante Antonio Ferreira de Araújo, de 60 anos, ondula a água diante do conjunto de Serras Itaberaba, ainda escondido pelas nuvens. A paisagem é linda, mas, no lago, garrafas, sapatos, embalagens e latas flutuam na água e trazem trabalho árduo para Antonio: há cinco anos ele recolhe resíduos lançados ali. Tudo por conta própria e por amor ao local onde vive.

Em jangada, comerciante recolhe lixo de lago há cinco anos. Foto: Fábio Nunes Teixeira/PMG

Vizinho ao lago, o Centro de Educação Ambiental (CEA) Água Azul, mantido pela Prefeitura de Guarulhos dentro do Balneário Água Azul, viu no morador um forte parceiro e inseriu uma atividade educativa com os moradores do bairro, que ajudam a ensacar os resíduos. É uma maneira de educar e também conscientizar a comunidade a se apropriar do local onde vive, cuidando do verde que a região oferece.

“Com uma iniciativa simples, Antonio mostra que a prática pode ser muito mais facilitada do que o discurso. É uma forma de os moradores valorizarem a própria comunidade”, aponta a coordenadora do CEA Água Azul, Kelly Cristina Fonseca de Almeida.

Pernambucano de Garanhuns, mais do que pela pura atitude, Antonio é movido pelo inconformismo. “Eu sempre fiquei muito incomodado em ver esta ‘lixeira’ toda e comecei a recolher. Antes, eu fazia com um pedaço de bambu, mas não conseguia pegar as garrafas fechadas. Até macumba tinha! Aí digo, ‘peraí, vou fazer uma jangada’”, conta.

Poucos recursos
Com poucos recursos e a obstinação natural dos nordestinos, Antonio colocou seu plano em prática usando a criatividade. Se a jangada já virou? “Ah, eu sei nadar!”, despista, garantindo que a engenhoca suporta até 150 quilos. “Se eu tivesse um barco, daria para fazer um serviço melhor. Com a jangada não dá para colocar muita coisa, porque cai pelos lados.”

Mantendo um quiosque à beira do Lago Azul, onde também mora há dez anos com a família, Antonio não sabe quantificar quanto já tirou de lixo dali. Em cada incursão, ao menos dez sacos de 100 litros ficam lotados. “São pessoas da própria comunidade e turistas que vêm aqui brincar no lago aos fins de semana e jogam as coisas”, reclama. “Já fui até denunciado na polícia. Falaram que eu estava jogando rede para pescar aqui. E quando eu falo para não jogarem lixo, o povo diz: ‘você agora é dono da lagoa?’. Eita povo difícil!.”

O trabalho ainda é longo para mudar hábitos, mas seu Antonio e os funcionários do CEA Água Azul não desistem fácil. “Infelizmente, o ser humano está destruindo o próprio lugar onde vive. Mas, eu vou continuar limpando o lago. Ainda espero que o povo se conscientize”, diz, esperançoso em ver o Lago Azul como o nome diz: limpo e respeitado como patrimônio daquela região e de toda a cidade.

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