A matemática é uma das disciplinas vilãs durante os anos escolares. Grande parte dos alunos tem dificuldade em aprender seus conceitos e os professores acham difícil estimular e engajar suas turmas. Com o intuito de mudar este cenário, o projeto O Círculo da Matemática do Brasil propõe uma nova metodologia de ensino para a disciplina, que é lúdica, participativa e prioriza o raciocínio lógico.
O projeto é baseado no programa The Math Circle (Círculo da Matemática, em livre tradução), desenvolvido na Universidade Harvard pelos professores Bob e Ellen Kaplan, em 1994. A metodologia não envolve aulas expositivas e nenhuma informação é transmitida unilateralmente aos alunos. Em vez disso, os educadores os questionam e instigam a descobrir sozinhos as respostas.
Desenvolvida em Harvard, metodologia que prioriza o raciocínio lógico no aprendizado chega a 7.800 alunos brasileiros. Imagem: Gokhan Okur/Free Images
Por exemplo, em uma aula de equações, o educador desafia a turma a responder o número que está dentro da caixa: 7 + [] = 10. Faz isso repetidas vezes e em algum momento para de chamar a caixa por este nome, justificando que por praticidade chamará de x. Desse modo, os alunos são apresentados à ideia de incógnita de uma forma mais natural e compreendem o conceito por trás do conteúdo.
Como o objetivo é que os alunos busquem as respostas, o erro tem um papel importante no processo. Os educadores são aconselhados a não elogiar acertos individuais, mas sim os esforços coletivos para não incitar disputas no grupo. “A competição é devastadora para os jovens. No círculo, ela vai embora e dá lugar a conversas amigáveis, a trabalhos de equipe”, explica Bob.
O programa tem como característica estratégias inclusivas, de engajamento dos alunos e de reconhecimento de potencial. “Nesse contexto o erro é muito importante, é preciso aceitar que errar faz parte da construção do raciocínio matemático”, afirma o Flavio Comim, professor de economia da UFRGS e membro da equipe que coordena o projeto no Brasil.
O círculo no Brasil
O projeto chegou ao Brasil em 2013, por uma iniciativa do Instituto Tim e foi expandido no início deste ano. Hoje, cerca de 7.800 alunos do segundo e do quarto ano do ensino fundamental de escolas da rede pública, de dez cidades diferentes (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Brasília, Salvador, Aracaju, Fortaleza, Belém e Porto Velho) fazem aulas semanais do Círculo da Matemática.
Quem leciona são educadores selecionados pela equipe brasileira do programa, que receberam capacitação dos próprios professores norte-americanos Bob e Ellen. O casal também auxiliou a equipe na adaptação de estratégias e conteúdos para a realidade brasileira.
“Desde o início, o que procuramos fazer foi uma leitura, uma adequação do projeto para a realidade brasileira. Não podíamos apenas transplantar aulas direcionadas a uma elite intelectual dos Estados Unidos e aplicá-las aqui. Temos problemas que precisamos levar em conta, de dentro e de fora da escola”, conta Comim.