Capas e espadas

Não é de hoje que romances de cavalaria ocupam lugares de destaque nas livrarias e fazem sucesso entre adolescentes, jovens e menos jovens. A trilogia As Crônicas de Artur (O rei do inverno, O inimigo de Deus e Excalibur), de Bernard Cornwel, sobre o mítico rei Artur engrossa a lista.

Segundo Cornwel, trata-se da “verdadeira” história de Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda. Que, para começar, não era uma távola (mesa) e nem era redonda. Também não aparece o lance da espada presa numa pedra que, segundo reza a lenda, só o verdadeiro rei conseguiria arrancar (Artur).

Há muitas outras divergências em relação às várias historias de Artur. E há também coincidências. Artur nunca foi rei e o nome do reino não era Camelot. Mas a famosa espada se chamava, sim, Excalibur, e o mago Merlin – aliás, mago não, druida – que espalhava magias e contra-feitiços por toda parte.

Bernard Cornwel, autor da trilogia "As crônicas de Artur". Foto: Wikipedia

Parece história de crianças. Mas não é....

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O maior golpe da história

Em tempos de Operação Lava Jato e de Panama Papers, O homem que roubou Portugal, do norte-americano Murray Teigh Bloom, cai como uma luva.

O homem que roubou portugal

O livro conta a história real de Artur Virgilio Alves Reis, comerciante português falido que, a partir de 1925, tramou e aplicou o maior golpe financeiro da história – até hoje, tornando-se o homem mais rico do país.

O prejuízo para os cofres públicos portugueses foi o equivalente a 2,6% do PIB português da época, causando uma crise quase macroeconômica. Também levou à falência uma das mais ilustres e respeitadas tipografias da Inglaterra, especializada em impressão de papel moeda: a Waterlow & Sons.

Não foi apenas um golpe, mas vários. Três amigos de Reis foram envolvidos. Angola, então Colônia portuguesa, também entrou na história. Era uma espécie de paraíso fiscal para onde era drenado o dinheiro falso, “lavado” por meio de grandes obras de infraestrutura. Lembra alguma coisa? Mera coincidência...

Murray Bloom,...

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Jornalismo e literatura em tempos de guerra

Dá para fazer jornal em tempos de guerra? E mais: dá pra conciliar literatura e política nesses textos e contextos?

George Orwell (1903-1950), pseudônimo literário de Eric Arthur Blair, conseguiu também essa proeza em Literatura e Política – Jornalismo em tempos de guerra (Zahar, Rio de Janeiro, 2006). Sobre Orwell, sua obra e sua genialidade já falamos neste blog no post Questão de Autenticidade.

Orwell escreveu entre 1942 e 1948 para o Observer – o primeiro jornal dominical da Grã-Bretanha, que começou em 1791 e continua em circulação até hoje (em 1993 foi comprado pelo The Guardian).

“Àquela altura, George Orwell já havia rompido com o seu passado, envergonhado que se tornara do Império Britânico, após presenciar a violência do colonialismo inglês na Birmânia. Já havia trabalhado em Paris como operário. Havia também lutado na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos anarquistas socialistas, juntando-se a partir de 1937 às fileiras do Partido Operário de Unificação Marxista” (Arthur...

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Ler é criar uma relação

No primeiro post do ano em Literatos, gostaria de compartilhar uma experiência que tenho feito em muitos anos de leitura.

Tempos atrás um amigo, o filósofo italiano Giuseppe Maria Zanghì, propôs uma experiência para mim inovadora: ao ler um livro, tentar construir uma relação pessoal com o autor. Isso implica interessar-se por ele, despojar-se de preconceitos, se colocar na pele dele. É um mergulho na mente e na alma do escritor. Finda a leitura, teremos compreendido em profundidade aquela obra e seu autor, com pureza de alma e pensamento. Então poderemos avaliar com maior isenção o que ela nos acrescenta, do que nela discordamos, desfrutando da riqueza que o contato com um “outro” sempre traz.

Biblioteca Pública de Estocolmo, capital da Suécia. Foto: Samantha Marx/Flickr

Tentei ler assim Orhan Pamuk. E tive a alegria de descobrir a profundidade de uma alma turca que se expressa literariamente. Hoje vejo Istambul com outros olhos. Os de Orhan. E quando vejo e leio notícias sobre a...

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“O poder não muda as pessoas, faz com que manifestem a verdadeira face”

“Nunca antes neste país” alguém poderia imaginar que fôssemos despencar tão rápido e cair tão fundo. Em menos de um ano o Brasil passou de quase pleno emprego para um índice de quase 10% de desempregados. Nosso parque industrial, hoje, é comparado ao que foi na década de 1940. Economia em recessão, inflação batendo nos dois dígitos, cenário futuro totalmente descolorido.

Mas os números mais interessantes do Circo Brasil estão no picadeiro da política. Do tipo “vossa excelência é um ladrão”, “o nobre senador é um crápula”, “a presidente mentiu à nação”, e por aí vai. Conseguimos ter, ao mesmo tempo, o pedido de abertura de um processo de impeachment da presidente da república e a investigação correndo solta do presidente da Câmara e do Senado... Bingo! São coisas que deixariam Maquiavel arrepiado.

Não quero aqui repetir o que os ouvidos brasileiros estão cansados de ouvir e os olhos de ver. Só venho recomendar uma leitura interessante para os tempos que correm.

A Mosca Azul - Frei...

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A coragem de mudar

Acabei de ler Sapiens, de Yuval Noah Harari. É mais uma “breve história da humanidade”, entre as várias que apareceram nas livrarias nos últimos anos. E como as precedentes, tem o seu valor. Tem predicados e defeitos.

Yuval Noah Harari. Foto: Divulgação

Começa com o que sabemos até hoje sobre o aparecimento do homem na terra. E, mesmo assim, as notícias divulgadas em setembro sobre a descoberta de um novo fóssil humano na África do Sul colocam em cheque as conclusões obtidas até bem pouco tempo atrás. Ao que parece, houve outra espécie circulando pelo planeta ao mesmo tempo que nossos antepassados homo sapiens: o homo nalendi.

Foi interessante ler Sapiens agora e, por conta do livro, mergulhar na trajetória da humanidade até esse nosso não menos desafiador século XXI. Há uma conexão explícita entre fatos muito antigos e outros atuais e decisivos.

As enormes mudanças climáticas originaram grandes ondas migratórias que mudaram a face da terra. Hoje estamos novamente no epicentro de novos...

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Sobre

No início da Era Cristã, toda a informação que uma pessoa conseguia assimilar durante a vida era inferior ao que está à disposição dos leitores numa edição de domingo de um jornal como O Estado de S.Paulo. É patente a evolução exorbitante do acesso à informação e da multiplicação do conhecimento. A literatura, antes restrita a uma exígua elite de pessoas letradas, continua sendo o canal por excelência para o conhecimento e passou por uma enorme democratização: hoje está ao alcance de todos. Vamos explorar juntos esse admirável mundo feito de “tinta sobre papel” ou de “pixels sobre tela”.

Autores

Fernanda Pompermayer

Formada em jornalismo pela Famecos (PUC-RS) em 1985, há seis anos trabalha na revista Cidade Nova. Foi repórter, editora e atualmente é editora-chefe da revista. Cursou ciências humanas, socais e teológicas no Instituto Internacional Misticy Corporis em Florença (Itália) e no cantão de Friburgo (Suíça).