Exploração da linguagem verbal - Parte I

Quero convidar os meus amigos leitores, principalmente pais e professores, a acompanharem conosco uma série de posts sobre o despertar da criança ao ato de ler e escrever.

Essa série visa levá-los a uma reflexão e despertar o anseio por uma discussão sobre o quanto a sociedade atual, carregada de estímulos visuais e tecnologia, pode influenciar de maneira positiva e/ou negativa os processos de alfabetização e letramento.

O primeiro tema será abordado em duas partes e foi desenvolvido pela pedagoga Viviam Coloma. A série proposta prevê cinco posts, sempre postados às quintas-feiras.

Este é o primeiro post:

EXPLORAÇÃO DA LINGUAGEM VERBAL – Parte I

Viviam Coloma*

A linguagem verbal se expressa em dois domínios que se relacionam: o oral e o escrito, ambos regidos por normas próprias, construídas nas diferentes práticas sociais de comunicação entre os homens, na expressão de suas ideias, sentimentos e imaginação.

Hoje, com base em pesquisas bastante avançadas no campo da Psicologia, sabe-se que as crianças que vivem em sociedades urbanas letradas, ou seja, sociedades que usam a língua escrita como forte elemento de comunicação entre as pessoas, começam a interessar-se pela escrita muito antes do que se pensava, antes mesmo de os adultos apresentarem-na formalmente. Elas buscam compreender os atos dos adultos nas práticas comunicativas orais e escritas e os próprios sistemas de representação, que têm a fantástica capacidade de permanecer no tempo e conduzir ideias, pensamentos, emoções etc.

Com relação à escrita, pode-se dizer que existe hoje consenso sobre o fato de que as aprendizagens infantis acerca da linguagem escrita não são frutos da maturação biológica, senão de complexos processos de construção de conhecimentos que se dão por meio de interações culturalmente mediadas.

Sendo a leitura e a escrita processos que se revelam na interação, é necessário que o professor ou os pais se apresentem às crianças como um ativo e interessado usuário dessa linguagem. Consideramos que: 

1- A criança aprende a língua portuguesa no uso da própria linguagem, daí a necessidade do professor dar maior visibilidade a seus usos;

2- A criança lê sem saber ler, escreve sem saber escrever e, é a possibilidade de fazê-lo não convencionalmente, que lhe permitirá compreender o sistema convencional usado para ler e escrever;

3- A leitura desempenha papel prioritário também no percurso da escrita.

O que devemos explorar para desenvolver a linguagem verbal, oral ou escrita?

SITUAÇÕES INFORMAIS E FORMAIS DE COMUNICAÇÃO:

1-Comunicar-se no cotidiano: o professor deve decodificar balbucios, gestos, expressões faciais, entonação e modulação da voz. Expor as crianças às mais diversas formas de comunicação, seguir instruções, responder a solicitações, elaborar e transmitir recados, relatar episódios vividos, dar instruções de regras de jogo, receitas etc; 

2-Conversas em grupo em situações informais e formais (para interlocutores experientes): Uma das formas mais sofisticadas de comunicação oral é a conversa, que requer muitas competências linguísticas:- descrever-explicar-relatar-argumentar-dar opinião-etc;

2a)Conversar em roda é uma das práticas sociais de comunicação das mais antigas. Ela permite que se enxerguem quem está falando, suas expressões faciais e gestos, que junto com a voz, compõem o texto, contexto e estilo do falante;

2b) Não se deve confundir a organização da roda em si com a conversa. É comum se propor muitas coisas em rodas de conversas - conferir listas, combinar as atividades do dia, verificar os aniversariantes, os ajudantes e muito mais, mas pouco espaço para a conversa;

2c)Outras vezes a conversa ocorre de formal artificial, sem propósito de uma real situação de comunicação e por vezes para passar o tempo, para dar recados, informações do professor. Muitas vezes essa conversa fica centrada na fala do professor, restando ao aluno apenas o papel de ouvinte;

2d)As conversas em grupo, quando não valorizada por um planejamento cuidadoso, acabam caindo na rotina, ficam monótonos, sem graça, vazias, como se não tivesse assunto a ser tratado com a criança.

3-Brincar com as palavras:

3a- Cantando (expressar-se corporalmente-bebês), emitir sons;

3b- Aprender a reconhecer parlendas, quadrinhas, advinhas;

3c- Aprender, reconhecer e usar rimas.

4-Conhecer narrativas literárias e desenvolver um comportamento de leitor:

4a- Ajudar as crianças a distinguir a entonação do professor quando ele conta histórias e se comunica no cotidiano;

4b- Acompanhar verbalmente contos de repetição a partir das narrações do professor e narrar trechos de histórias utilizando recursos expressivos próprios;

4c- Podem reproduzir os comportamentos, a gestualidade e a postura que o professor adota quando lê para ela;

4d- Diferenciar uma narrativa oral e a leitura de histórias;

4e- Reconhecer repertório de contos de fadas (narrativas clássicas e modernas).

*Viviam Coloma é pedagoga, responsável pela direção pedagógica  da Escola Peixinho Vermelho(São Paulo, SP) há 35 anos.

....continua na próxima quinta-feira 08/05.....

Tags:

linguagem verbal, educação, crianças



Sobre

Nossa proposta é criar um canal de comunicação, discussão e reflexão com pais, educadores, mediadores de leitura e professores. Mas, antes de tudo, leitores! Nossa missão é abordar vários temas pertinentes ao Universo Infantil, desde comportamento, educação dos filhos, vida escolar, leitura e literatura, capacitação de professores, projetos de incentivo à leitura e gente que põe a mão na massa etc... Ufa! São muitos assuntos a explorar, compartilhar e experiências a trocar, desenvolvidos pelo nosso Editorial Infantil, especialistas e convidados.

Autores

Andrea Russo Vilela

Colaboro há 15 anos com a Editora Cidade Nova, já atuei junto à equipe de redação da revista e atualmente coordeno o Editorial Infantil (editora de livros infantis e projetos de incentivo à leitura) e a seção "Ponto, vírgula e conto" da revista Cidade Nova. Graduada em Administração de Empresas e ilustradora pelo Instituto Tomie Ohtake.