Reggio Emília e a Participação dos Pais na Vida Escolar

Texto da Pedagoga *Regina Pundek/publicado pelo Jornal Mais Conteúdo

Postado por Andréa Russo Vilela

Agora em abril estive novamente visitando a cidade de Reggio Emília, no norte da Itália. Cidade esta que empresta seu nome à metodologia que o educador e pedagogo Lóris Malaguzzi ali estruturou. Esta abordagem também é conhecida como Pedagogia da Escuta e Teoria das Cem Linguagens. Lá as escolas são sinônimo de excelência em Educação Infantil.
Meu encantamento quanto ao trabalho de Reggio está, especialmente, no contato estreito entre a escola e as famílias.

Há uma proximidade entre professores e pais, de maneira que realmente todos estes adultos são os educadores responsáveis pelo processo de desenvolvimento das crianças. Na Itália a importância da presença da mãe, em especial durante os primeiros anos da vida de seu filho, é algo inquestionável e também estruturado legalmente. Sendo assim, elas podem acompanhar diariamente a criança até a escola, tanto na hora da entrada como na hora da saída. Além disto, as pessoas têm um ritmo de vida muito diferente do nosso, o comércio fecha ao meio dia, pois as famílias almoçam juntas diariamente.

Desta maneira o acompanhamento do trabalho realizado em classe conta com a participação direta de mães e pais que não somente tomam conhecimento das experiências vividas a cada dia, como contribuem de diversas formas com as práticas e necessidades da escola. Os pais reconhecem a importância de cada aprendizagem, de cada conteúdo, de cada atividade e contribuem reforçando e fazendo eco em casa. As escolas são multietárias e não tem como objetivo a alfabetização precoce na primeira infância. Não há competição entre as famílias, por compreenderem todo o processo elas não questionam porque uma criança já sabe isto e outra ainda não. O espírito de comunidade extrapola os muros escolares envolvendo a todos gerando o sentimento de importância e pertencimento nas crianças. Todos acreditam na competência delas que consequentemente têm boa autoestima e assim produzem, pesquisam e realizam dentro de seus interesses. Os desafios lançados consideram esta competência.

Há uma dimensão social muito forte nas escolas de Reggio Emília e o princípio fundamental é valorizar a criança como construtora de conhecimento: cada uma individualmente e não em termos gerais e os pais fazem parte disto. Procuram pôr em evidência o sujeito único, mas capaz de descobrir as próprias qualidades no momento em que encontra o outro. O saber que um grupo constrói junto é superior ao individual, em volume e importância, e leva o aprendizado mais longe. Há melhores condições de avançar quando se enfoca desse modo o processo de conhecimento.

No Brasil muitos educadores buscam e insistem para que as famílias se envolvam no processo escolar e não somente deleguem à escola e posteriormente cobrem resultados. Reconhecemos as dificuldades vividas por todos e sabemos que a vida destes pais é atribulada, porém desejamos que se conscientizem de que sua importância é fundamental. Este mundo novo que vem surgindo aí na frente precisa que os pais assumam uma postura mais próxima, mais responsável e mais firme perante seus filhos. Não basta tê-los e nem somente brincar com eles nos finais de semana. De outra forma como assegurar competência às crianças, se as famílias as tratam como príncipes e princesas?

*Regina Pundek  é escritora e diretora pedagógica da Escola Kid's Home, na cidade de Cotia/SP

Tags:

educação, escola, pedagogia emiliana



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Autores

Andrea Russo Vilela

Colaboro há 15 anos com a Editora Cidade Nova, já atuei junto à equipe de redação da revista e atualmente coordeno o Editorial Infantil (editora de livros infantis e projetos de incentivo à leitura) e a seção "Ponto, vírgula e conto" da revista Cidade Nova. Graduada em Administração de Empresas e ilustradora pelo Instituto Tomie Ohtake.