Sou adolescente e não aborrescente!

Tenho verdadeiro horror ao termo aborrescência!

Adolescentes jamais são aborrecidos. Aborrecido é o adulto que já passou pela adolescência e talvez não tenha saído dela.

Tenho uma adolescente adorável em casa, com uma cabecinha cheia de ideias, expectativas, ideais, dúvidas, algum mau humor (com todo o direito), crises de choro e ataques de risos por nada em especial. Ah! Acho isso o máximo!

Ser adolescente é uma explosão de talentos que afloram à pele. Eles são totalmente passionais, rebeldes, indecisos, eufóricos, pretenciosos... Adoráveis! Enfim, qualidades para se tornarem adultos especiais. Defeitos que podem se potencializar se forem tratados como aborrescentes.

Como pais, ficamos de cabelo em pé! Muitas vezes nos vemos num beco sem saída. Deixo ir à Balada? Deixo ir viajar com os amigos? Começou a namorar! Ela quer montar um banda! Socorro!!!!

Talvez a primeira dica seja: Você já foi adolescente, tente voltar no tempo. Por mais que a época seja outra, os sentimentos não mudam.

Quando o assunto entra no âmbito escolar então... Ah! Nossos pimpolhos crescidos vão do paraíso ao inferno. Cobranças por boas notas, pressão para escolher a profissão (que além de adequada às aptidões pessoais, ainda deve ser rentável), a espinha que nasceu bem na semana daquela super festa, o padrão de beleza, pelos, pelos, pelos!!!! Uma surdez seletiva à palavra “não”, os amigos irmãos, os amigos “traíras”...Ufa! Como ajuda-los?

Acho que através do meus comentários, ficou fácil saber qual o tema dos nossos próximos posts: ADOLESCÊNCIA.

Para nos ajudar a entender essa fase crucial da vida, faremos uma série de três posts, com a psicóloga Fernanda Rossi. Eis o primeiro:

Foto: lusi / sxc.hu

“As várias facetas da adolescência e suas repercussões na vida escolar”

A definição clássica da adolescência é ser um período de transição entre a infância e vida adulta, sendo assim uma fase de grandes mudanças e aprendizagens. Contudo classificar o que é adolescência para adolescentes não ajuda em nada. Por isso vamos refletir sobre as consequências práticas que este momento de vida implica.

Na adolescência há três áreas principais que são atingidas: a vida física, a vida social e a vida familiar. Todas elas são complementares, diferentes para cada indivíduo e, mesmo que em pouca medida, todas repercutem na vida escolar.

Começando pelo físico. Dos 12, para alguns um pouco antes e para outros um pouco mais tarde, até por volta dos 16 anos, as mudanças que ocorrem no corpo tanto dos meninos quanto das meninas são tantas e tão intensas que chegam a assustar: são pelos crescendo para todo lado, membros se desenvolvendo, altura (ou falta dela) chegando, e um corpo, normalmente por um bom tempo, meio desengonçado. É natural ficar desastrado, bater em tudo, derrubar as coisas, pois com tanta mudança corporal é como se o indivíduo não se sentisse dono de si mesmo e essa confusão mexesse com todas as outras áreas da vida. Como se a vida como um todo ficasse “destrambelhada”.

Até mesmo porque junto com esse corpo em mutação, há uma descarga hormonal imensa que também surge de maneira descontrolada, ora em excesso ora em falta. Resultando, no sentido psicológico, em momentos de aparente apatia e tristeza e outros de intensa euforia e alegria. Os adolescentes são conhecidos pela família como o de lua, nunca se sabe como ele vai acordar. E com tantas mudanças assim, a mente fica cheia de pensamentos sobre o assunto: estou bem? bonito? ficarei assim? vai melhorar? como serei? estão gostando do que estão vendo em mim? São algumas das perguntas que tanto se fazem. E como muitas dessas respostas só virão com o tempo, a palavra de ordem desta época é medo. E vamos lembrar que quando se está assustado fica muito difícil prestar atenção em algo, na escola então muito menos. Os pensamentos ficam todos em volta de resolver o problema. Contudo, este “problema” demora a ter solução, é ter que esperar, algo difícil para todos nós.

Agora, pensemos na vida social. Na adolescência a vida social se intensifica e parece ser a única coisa que realmente importa. Ter amigos, ser parte de um grupo, ser aceito, querido é tão importante, ou pelo menos é o que parece, quanto o próprio viver. Como se a vida perdesse o sentido sem tais pessoas. Por isso, muitos se dispõem a vivenciar situações que podem ter sérias consequências e muitas vezes nem percebem isto. Surgem as paqueras, os namoros e tantas repercussões podem vir destas relações que novamente os medos se afloram e os pensamentos se fixam nestes temas. Tanto por parecem mais interessantes, agradáveis, e desejáveis, quanto também parecem extremamente necessários de resultados, assim novamente a escola sai perdendo.

Outro fato importante é que nesta época os relacionamentos sociais tornam-se mais atrativos do que com os familiares, o que também acaba por trazer conflitos com os pais. Além dos fatores morais: amigos dos filhos nem sempre são bem vistos pela família e vice-versa, os locais desejados para se frequentar nem sempre são aprovados. São alguns dos temas que geram discussões entre pais e filhos.

Durante a infância os pais são vistos como heróis, cheios de capacidades, de possibilidades e por isso são muito admirados, os filhos pequenos percebem os defeitos mas convivem de forma mais tranquila com os mesmos. Já na adolescência essa tolerância desaparece, esses “defeitos” são percebidos de maneira mais negativa e intensa. Por se sentirem mais fortes e capazes surge a sensação de direito de enfrentar, dizer o que não gosta, não quer e para os pais é muito duro este enfrentamento. É entendido como desrespeito e deseducação. Essas visões tão diversas tanto da situação como dos valores e desejos provocam sempre discussões às vezes muito acaloradas e difíceis de resolver.

Leon Tolstoi diz que “todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz o é à sua maneira”. A partir desta frase podemos pensar que como não há família sem problemas, as tristezas fazem parte de todo núcleo familiar, cada um numa intensidade, é claro, mas sempre há. Por isso não há receita de certo ou errado e sim que cada família é muito única e os personagens desta história também, pois, dependendo do estilo de cada pai, dos valores de cada mãe, das histórias de vida de cada um, de como se construiu a afetividade entre cada membro e de como lidam com as dificuldades, a adolescência de um filho poderá ser mais ou menos complicada. Quanto mais situações difíceis dentro de casa, mais complexa é a situação e a escola, novamente, sai perdendo.

Contudo, a escola é uma instituição importantíssima na vida, é a partir dela que surge o preparo para a vida profissional. E num mundo tão concorrido como o de hoje isso é mais que uma necessidade, é impreterível. De que maneira, então, um adolescente pode conviver com as mudanças nas 3 esferas citadas e não se perder na escola? Bem, não acredito que haja uma única resposta e nem uma fórmula mágica. Os descompassos aparecem e são necessários até para aprender a viver. Porém, uma reflexão que pode ajudar é tentar entender o que realmente está movendo a angústia. Muitas vezes a escola se torna desagradável ou desinteressante, mas a dificuldade não está realmente nela e sim nos outros setores comentados. Identificar que problema verdadeiramente há e buscar ajuda pode facilitar muito a vida estudantil. Além do que as consequências de estar bem na escola são sempre muito melhores do que o contrário.

 

Tags:

adolescência, paternidade, relacionamento, educação



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Autores

Andrea Russo Vilela

Colaboro há 15 anos com a Editora Cidade Nova, já atuei junto à equipe de redação da revista e atualmente coordeno o Editorial Infantil (editora de livros infantis e projetos de incentivo à leitura) e a seção "Ponto, vírgula e conto" da revista Cidade Nova. Graduada em Administração de Empresas e ilustradora pelo Instituto Tomie Ohtake.